Anestor Porfírio da Silva*
28 fevereiro 2015
A adoção da linguagem como meio de comunicação foi uma das primeiras necessidades com que o homem se defrontou e o marco inicial dessa forma comportamental data da época mais remota de sua existência, ou seja, aquela em que o ser humano ainda possuía cérebro rudimentar.
Esse ser, segundo a paleontologia, era o homem de neandertal tido como a primeira espécie do gênero a surgir na face da terra e a denominação que lhe foi atribuída, de homem das cavernas, deveu-se ao seu modo selvagem de vida e à razão de terem sido aqueles ambientes a sua primeira opção de moradia.
Naquela distante era o homem vivia perambulando em áreas restritas em busca de alimentos, agindo nos limites de uma capacidade mental incipiente, por conta do que, até então, não havia aprendido a relacionar o objeto (a borduna, por exemplo) ao fim para o qual era usado. Porém, a necessidade de se comunicar já era evidente. Ele criava utensílios para caça e proteção, e pode ter passado a experiência aos seus descendentes usando das formas de comunicação de que dispunha. Essas formas se constituíam de gestos, gritos, pulos, grunhidos, balbucios etc.. Quando havia necessidade de comunicação entre os membros do grupo, a manifestação se dava através de um desses meios que poderia ser repetido tantas vezes quantas fossem necessárias até que viesse a ser alcançada a compreensão da mensagem transmitida, surgindo daí uma maneira primitiva de linguagem.
De lá para cá, proliferando e expandindo-se por diversas partes do mundo, o homem foi se tornando cada vez mais inteligente até que, ao atingir a capacidade de discernimento e do uso da razão, percebeu que poderia dominar quase tudo através do poder de sua mente e da aptidão para idealizar, projetar, construir e por em prática suas invenções.
Aqueles meios primitivos de comunicação também evoluíram apesar de em escala bastante lenta. Nesse processo evolutivo, utilizou-se da pintura rupestre (desenhos feitos em cavernas e em pedras), dos hieróglifos de origem egípcia (utilização de imagens para representar objetos e idéias), da escrita cuneiforme de origem babilônica (conjunto de sinais silábicos e fonéticos) e, finalmente, na fase atual está se valendo de aperfeiçoadas formas de linguagem que são: a verbal, a não-verbal, a corporal e a mediada.
Embora o homem já disponha de elevados recursos para transmitir alguma coisa a alguém, como por exemplo, suas idéias e suas vontades, este não foi capaz de desprezar os símbolos (linguagem não-verbal) que desde a época primitiva vinham sendo utilizados com a mesma finalidade, ou seja, como meio de expressão e de comunicação. Os símbolos continuaram sendo importantes até mesmo depois da invenção da escrita. Eles permanecem nos acompanhando e sendo utilizados com a finalidade de representar algo, chegando até mesmo a substituir frases como, por exemplo, os que nos advertem de perigos (um crânio humano sobre dois ossos cruzados) ou nos indicam a direção a ser seguida (uma seta).
Muitos dos símbolos adotados e até hoje presentes em nosso dia a dia, têm suas origens nos povos primitivos e nos demais que os sucederam até a era cristã. Outros tantos são de origem bíblica, bastante antigos como, por exemplo, os do BEM e os do MAL os quais, em função de seus pujantes significados e ainda, devido ao fato de estarem ligados a sentimentos humanos muito fortes, acham-se difundidos por todos os cantos do mundo, o primeiro tendo como expressão maior, uma cruz. Este símbolo está também intimamente vinculado ao pensamento religioso e filosófico de quase todos os povos. O segundo símbolo, o do MAL, que se faz representado por vários emblemas e alegorias, todos retratando forças satânicas, dentre os quais encontramos: a) uma cruz de cabeça para baixo; b) o Olho de Horus; c) o Olho de Lúcifer; d) um pentagrama invertido tendo ao centro a cabeça de um bode; e) o número da Besta (666); f) o Signo de Lúcifer e tantos outros.
Em certos casos, dada à sua clareza de interpretação, o símbolo acaba se transformando na identidade do próprio objeto ou idéia que ele representa. Outras vezes se encerra em mera interpretação. Em sentido lato, ele se conceitua como valioso acervo religioso, cultural, folclórico e o mais antigo método de instrução da humanidade.
Assim, pois, não é difícil compreender por que a maçonaria também adota símbolos. Para ela, eles são vários e se classificam em: a) símbolos religiosos e místicos; b) símbolos da arte da construção; c) símbolos herméticos e alquímicos; d) símbolos com significado particular e; e) símbolos tradicionais. Ela os adotou não com a mera intenção de, por meio deles, se fazer representada ou com eles se distinguir, nem apenas com a finalidade de ornamentar seus templos, ou para usá-los como método de instrução aos seus iniciados, mas, essencialmente, por haver se tornado herdeira legítima das extintas sociedades iniciáticas. Aliás, para muitos estudiosos da história dessas sociedades, elas não foram extintas, mas transformadas em uma nova Ordem de natureza especulativa com o nome de maçonaria tendo esta adotado o simbolismo e grande parte dos princípios e fundamentos que antes pertenciam às referidas sociedades.
Após seu surgimento, fato que se verificou no século XVII, nota-se que poucos foram os símbolos incorporados aos que haviam sido herdados das sociedades acima mencionadas. Dentre eles encontramos os “Signos Zodiacais”, tidos pela Simbologia como místicos e a letra “G”, símbolo que detém dentro da mencionada instituição uma dezena de significados como, por exemplo, glória, grandeza, geometria, gravitação, geração etc., e que, segundo Mackey em sua obra “Enciclopédia da Maçonaria”, o mesmo não derivou dos maçons operativos.
No rol dos símbolos adotados pela maçonaria há dois que, devido ao seu alto significado, são da mais expressiva representação. O primeiro é o que se constitui da associação do compasso e o esquadro, ambos fechando o espaço em torno da letra “G”, com o esquadro disposto sobre as extremidades do compasso e estas mantidas numa abertura de 45 graus. O símbolo formado pelos três elementos acima é derivado do Selo de Salomão ou Escudo de Davi (Estrela de Davi) e nele o esquadro representa, de modo sucinto, o corpo material do homem, o compasso o seu espírito e a letra “G” a sua mente.
O segundo exemplo é o “Delta Luminoso”, que tem em seu interior uma figura, de origem bíblica, que retrata o olho humano, definida como o “Olho que tudo vê” ou “Olho da Providência”. Para o cristianismo, este símbolo significa o Olho de Deus observando a humanidade. Para a maçonaria, o seu significado vai mais além. Sua forma de olho humano, às vezes, é substituída, no interior do Delta Luminoso, pela letra “G”, ou pela letra “YOD”, do alfabeto hebraico). O lugar onde este símbolo se encontra dentro dos templos maçônicos é no painel atrás do trono do Venerável. Ali está a representar o Olho da Suprema Sabedoria com que Deus governa o mundo e que, para o maçom, ao nível da subjetividade de sua consciência, também significa o olho que vê, analisa e sugere qual a melhor forma de se comportar ou agir diante desta ou daquela situação. Significa, sobretudo, uma advertência solene e presente em todos os momentos de sua vida como algo cuja função é a de ordenar-lhe que recorra à ação de seu próprio subconsciente e se empenhe, tanto quanto necessário for, para não se afastar do caminho do bem, a fim de que o fiel compromisso espiritual assumido com o Grande Arquiteto seja integralmente cumprido. Considerá-lo apenas como um olho que, de modo austero, observa e vigia nossos passos e nosso comportamento não é correto.
Por interpretarem o “Olho que tudo vê” ou “Olho da Providência” de maneira equivocada como sendo o “Olho de Horus” ou o “Olho de Lúcifer”, muitas pessoas não pertencentes à maçonaria são levadas a acreditarem, por influência dos invejosos e inimigos da mencionada instituição, que a mesma atua invocando as forças do mal e que, assim sendo, é organização ocultista que tem Lúcifer como pai, que é braço direito do diabo, que é casa do Satanás e que o deus da maçonaria não é o Deus da bíblia e sim, o do diabo.
Todavia, a realidade nos revela que apenas pequena parcela de tais interpretações decorre de ignorância, isto é, da falta de conhecimento da verdade. O Olho da Providência não é símbolo do ocultismo, mas por se tratar de figura que retrata o olho humano, guarda semelhança com o Olho de Horus e o Olho de Lúcifer (símbolos do mal e do ocultismo), os quais, embora nada tendo a ver com a maçonaria, muitas pessoas os confundem com o primeiro, ou seja, com o Olho da Providência, ou Olho que tudo vê que, segundo a Bíblia Sagrada, é símbolo do BEM.
Tal engano faz ditas pessoas abominarem a mencionada instituição, mas sabe-se que a maioria dos ataques lançados, por conta desse símbolo, contra a maçonaria, verbalmente ou através de livros, revistas (principalmente de cunho religioso) e até da internet, procede de autores inescrupulosos, conscientes do mal que fazem, por isso são tidos como pessoas de má fé, que agem de modo proposital com a intenção clara de denegrir e desonrar a Ordem Maçônica e as pessoas que a ela se acham vinculadas.
* M.I. e Membro Ativo da ARLS Adelino Ferreira Machado
Or. de Hidrolândia/Goiás
Conselheiro do Grande Oriente do Estado de Goiás