Irm Paulo César Amaral da Silveira
Um grande motivador do Homem, na vida, é o desejo de adquirir algo que não possui. Se lhe falta o desejo, falta-lhe a motivação, e disso surge apatia, falta de vontade, o descaso, enfim, falta-lhe a motivação para viver.
Se lhe vem o desejo, vem a inspiração e a vontade de superar dificuldades, vem o planejamento para atingir objetivos, vem o sentimento de acumulação – que pode se transformar no bem e no mal, conforme seu caráter, seus deveres e obrigações, sua filosofia de vida.
Assim é no plano físico, no social, enfim, no plano terreno. E no plano espiritual, como ficam essas coisas? Na religião, para a grande maioria das pessoas, busca-se alcançar uma graça através da fé nos ensinamentos dessa religião.
A fé pressupõe a crença em um ente maior, um ser criador. A fé abre seus caminhos, amplia seus horizontes, a fé dita um padrão de conduta no plano físico. Mas a fé não doutrina o Homem a conhecer mais sobre o que o cerca, conhecer aquilo que não sabe e por que luta.
Na religião o grande motivador está na benção a alcançar, seja ela um conforto físico, um bem-estar espiritual, seja ele a aprovação de uma vida inteira no momento de um julgamento final.
Esse objetivo de vida do Homem que crê nos desígnios de sua religião é seu plano de vida, é a receita para angariar os méritos necessários à graça pretendida.
As religiões buscam, então, manter uma consciência coletiva entre seus seguidores, estabelecendo normas éticas de conduta, e não uma consciência individual.
A Maçonaria vai um pouco além disso. O conceito do ser supremo existente em cada religião se expande e se universaliza, congregando todas as ditas religiões positivas e seus seguidores.
A Maçonaria estimula e aceita participantes congregados de diferentes religiões positivas que buscam o engrandecimento próprio e do ser humano.
O maçom pertencente a alguma religião, seja ela qual for, se motiva não pela possibilidade de alcançar uma benção, mas se motiva pelo caminho árduo a percorrer em busca do conhecimento, do seu auto-conhecimento.
A consciência maçônica é despertada através das dificuldades que o maçom supera a cada grau (etapa) alcançado. É de seu trabalho de introspecção que advém a coragem de prosseguir estudando e descobrindo novas matérias e novas oportunidades de ajudar os Irmãos.
Não pode o maçom ser egoísta em reter o conhecimento adquirido, seu compromisso é com o juramento feito em inúmeras situações, não somente pela discrição, mas como da responsabilidade de construir um mundo melhor, erguer o edifício social.
Não pode o maçom, tampouco, se deixar levar pelo cansaço e desânimo, nem pela intolerância, pois simplesmente jurou construir uma vida melhor para todos.
A busca contínua pelo conhecimento, ensinada pela Maçonaria, possibilita ao maçom desbastar suas asperezas e entrar em seu próprio interior, onde sua consciência o espera ávida para iniciar os trabalhos.
Mas como o maçom pode contribuir na criação de uma consciência coletiva? Como o maçom pode, pelo seu trabalho, evitar desvios na consciência coletiva normalmente fruto da ação individualista dos homens?
O maçom precisa agir em três vetores, ou melhor, em três objetivos, igualmente importantes e não dissociáveis: a vontade e o desejo para fazer, a inteligência no agir, e o amor e fraternidade para com seus Irmãos.
Um não existe sem os dois outros, somente os três poderão contribuir para o engrandecimento das pessoas. A Maçonaria é uma energia que invade o coração do maçom, é a força que faz dissipar nossos piores sentimentos, uma vez que nossas fraquezas nos perseguem a todo instante pela vida.
Com essa energia o maçom se fortalece e luta pelos ideais que jurou defender. A busca pela consciência maçônica começa no primeiro minuto de vida maçônica, quando entramos profanos dentro da câmara de reflexão absortos em nossos pensamentos, fazendo nosso testamento, sem saber ao certo ainda quem somos de verdade, nem tampouco o trabalho que teremos pela frente.
A Maçonaria nos ensina a ter responsabilidade e comprometimento com seus ideais altruístas, que assim exercendo os trabalhos traremos a harmonia fraterna entre nossos semelhantes.
A consciência maçônica nos ensina a não esmorecer, a não desistir de nossos propósitos, a questionar as coisas e as verdades absolutas (até então).
O maçom é doutrinado pela consciência maçônica a não dar-se como completo ou repleto de sabedoria em qualquer ocasião. Nunca teremos conquistado muito, nunca nos daremos como satisfeitos com o nível de ajuda que exercemos. A Maçonaria desperta nossa consciência de maçons livres e de bons costumes nos dando a força na medida necessária às nossas necessidades, a união para movermos juntos os obstáculos, o discernimento para saber separar o mal do bem.
A Maçonaria, enfim, nos propõe o amadurecimento de nossa própria consciência maçônica através da observação de seus exemplos. A consciência nos permite “ver” a divindade dentro de nós mesmos. Com essa luz interior, sempre brilhante, irradiamos a força que nos faz obreiros e nos permite tecer o tecido social.
Esse tecido social é, na verdade, o grande congraçamento dos irmãos, aprimorando-se, crescendo, ajudando-se mutuamente, desenvolvendo a si próprios e adquirindo conhecimento. Essa multidão caminha ordenadamente, pois estão de mãos dadas, unidos fraternalmente. Quem vai mais à frente encaminha quem vem logo atrás, quem vai atrás se guia pelos da frente. Nesse momento reflito e vislumbro o exemplo que tenho dado àqueles que em mim se espelham, que se guiam pelo meu exemplo, e isto reforça todo meu dever, toda minha responsabilidade. Nesse momento reflito naqueles que estão à minha frente, buscando sorver deles sabedoria e o conhecimento que lhes valeu esse passo adiante. E todos nós, sem exceção, estamos guiados por nossas consciências maçônicas.
Revista Entre Colunas 7ª Edição
Remessa do Irm DALTON – BORRAZÓPOLIS