(“Pedra que rola não cria limo”, diz o dito popular)
Na iniciação, os inusitados acontecem vertiginosamente. Para aumentar a tensão, a venda, a tolher talvez um dos mais preciosos sentidos, que é o da visão, eleva a temperatura.
Os choques com os inesperados, com os segredos que os IIr.’. não falam para neófito nenhum, para não tirar deles, MMaç.·. o prazer de saborear a reação do iniciando em face de um “obstáculo praticamente intransponível”. Tantas coisas, tantas coisas… Ah! a iniciação.
Momento tão especial, repleto das mais altas indagações e dos mais altos símbolos maçônicos, que deixam aturdido a todo aquele que por ele passa. A vontade é escrever sobre tudo o que ocorreu. Dá um livro, ou mais. A vontade é essa. Só algum tempo de-pois, lendo sobre a Ordem, estudando o Ritual e assistindo a uma iniciação é que se pode começar a compreender o ocorrido durante a iniciação. Procura-se estabelecer divisões, estanquizando os fatos para dissecá-los. E dessa estanquização surge um símbolo representado pelas iniciais “VITRIOL”.
Qual o seu significado? O que designa? Para que finalidade se encontra na parede da Câm.·. de Refl.·. ? Inicialmente, verifica-se que não é ele elemento obrigatório, para o GOB, numa Câm.·. de Refl, segundo dispõe o REAA, edição 1998, pg. 10. Elementos obrigatórios são, por exemplo. a ampulheta, o esqueleto humano, o pão e a água. Mas, embora facultativo, ele se encontra presente na maioria das Câm.·. de Refl.·. enquanto que outros objetos, obrigatórios, às vezes ali não estão presentes.
“VITRIOL” é a abreviatura de palavras de uma frase em latim: “Visita Interiorem Terrae, Rectificandoque, Invenies Occultum Lapidem”. Ao pé da letra isto significa: “visita o interior da terra e, retificando-te, encontrarás a pedra oculta”.
A profundidade de tal frase salta aos olhos, primeiramente, por que é no interior da terra, ou seja, na Câm.·. de Refl.·. que o Prof.·. morre para nascer um Maç.·. A Câm.·. de Refl.·. na realidade, relembra as cavernas das antigas iniciações, inclusive religiosas. Como qualquer iniciação, simboliza a morte material de alguém e o seu ressurgimento num plano mais elevado. O iniciando permanecia no interior de uma caverna da qual, em dado momento, saía por uma fenda ou orifício, como se estivesse nascendo. Segundo o Pod.·. Irm.·. José Castellani, ainda existem tribos na África que, vivendo na idade da pedra, se utilizam desse ritual, quando considera morta a criança que ali entrou e nascido o ho-mem maduro, pronto para a vida. A Câm.·. de Refl.·. representa, ainda, o útero da mãe terra, de onde os filhos da viúva nascem para uma nova vida. Esse conceito atual de masmorra foi introduzido pelos franceses na metade do Século XIX, influenciados pela Revolução Francesa e por um certo sentimento anti-místico oriundo do iluminismo fran-cês, mas esses fatos não podem desvirtuar a sua origem.
Em segundo lugar, “retificando-te” significa, na verdade o “seguir em linha reta”, ou seja, agir em si mesmo com profundidade. É nesse momento de solidão, de encontro consigo mesmo, de meditação diante do inusitado, do desconhecido, que o novo homem se retifi-ca interiormente, deixando de lado todos os vícios de uma vida anterior para adotar no-vos padrões de conduta moral. E, ao fazer isso, mostra-se para o novo homem a pedra oculta que há dentro de todos.
Tal pedra ainda se encontra em estado bruto, necessitando ser lapidada, trabalhada, o que só acontece com o aprendizado constante, com a prática incessante das boas ações, com o respeito às normas, com a presença constante em Loja, com a aplicação dos princípios fundamentais da Maç.·. como a fraternidade e a humildade!
De nada adianta descobrir que em seu interior há uma pedra bruta, se essa pedra não é tocada, não tem a sua rusticidade conhecida, se nada se faz para seu polimento. Esse polimento é pesado, o desbaste das arestas, dos excessos, é doloroso, mas necessário para fazer crescer aquele que encontrou dentro de si o que o diferencia dos demais ani-mais: a pedra oculta, isto é, a inteligência, a capacidade de raciocinar, de discernir entre o certo e o errado, de dominar o desejo pessoal, de vencer paixões e submeter vontades!
A menção à pedra oculta, ainda, significa atingir o mais profundo do EGO do iniciando e é usada como originária da força dos alquimistas, que acreditavam na PEDRA FILOSOFAL, ou seja, aquela pedra que transformava os vis metais nos mais puros e raros metais, ou os metais inferiores em ouro. Esse processo de transmutação, visto pela alquimia prática como “pedra filosofal”, é também conhecido como Obra do Sol, ou Crisopéia, ou Arte Real. No entanto, para a alquimia oculta, todavia, a frase é um convite ao conhecimento do ser interior, da espiritualidade, já que a Obra do Sol é a transmutação do quaternário humano, inferior, no ternário divino, superior ao homem.
A PEDRA OCULTA é a PEDRA DO SÁBIO, que pode se transformar na PEDRA FILOSOFAL, ou seja, dentro de cada homem há uma PEDRA OCULTA, conhecida também como PEDRA DO SÁBIO, que o diferencia do animal irracional e que qualifica o ser humano como tal. Trabalhada a PEDRA DO SÁBIO tem-se a PEDRA FILOSOFAL, ou a PEDRA POLIDA, surgida com a transformação do bruto Prof.·. em um novo homem, um Maç.·.
Encontrada a pedra oculta, ou a PEDRA DO SÁBIO, mas se esquecendo de que o trabalho com essa pedra bruta deve ser constante, o homem não avança, não cresce espiritualmente e a pedra permanece bruta, não dando a público a sua beleza interior, permanecendo carregada de jaça, de sujeira que a obscurece e a torna imprestável para o uso a que se destina. O Maç.·. que mantém a sua pedra oculta com traços de impureza, causados por ações ou omissões denominadas vícios, não pode ser chamado de Maç.·. antes, pelo contrário, deve ser alijado do meio sadio para não impregná-lo com seu hálito sujo, pois é ele indigno de ser chamado Irm.·.
Daí, pode-se afirmar sem temor que o trabalho do Maç.·. na pedra bruta deve ser diário e incessante, devendo ele, com constância, visitar o interior da terra, retificando-se, na busca da pedra oculta. E seguir trabalhando-a na busca da evolução contínua e infinita!
Carlos Roberto Pittoli,
M.·. M.·. A.·. R.·. L.·. S.·. Antonio Francisco Lisboa, “O Aleijadinho” – Or.·. de Bauru-SP BRASIL.
17 Agosto, 2013