O Nome Francomaçom 

Ambrósio Peters

O Livro das Constituições de 1723 (Edição bilíngue do GOB), apresenta à primeira página da “Dedication” a expressão “Free-Masons” traduzida para “Franco-Maçons” que é a nosso entender, a tradução correta.

À página 1, logo após a “Dedication”, sob o título “The Constitution” vê-se novamente aquela mesma expressão neste excerto… of Accepted Free MASONS, traduzida para “Maçons livres e aceitos”, incoerente com a tradução anterior. A tradução coerente deveria ter sido “Franco-Maçons Aceitos, porque o termo “franco” qualifica o termo “maçom” com ele compondo a expressão “franco-maçom” e a palavra “aceito” qualifica esta expressão Francomaçom formando uma nova expressão “francomaçom-aceito”.

Apoia-se o fato de ser o nome “franco-maçom”, ou “francomaçom” bastante antigo e as considerações que seguem, confirmarão que nele o adjetivo ou prefixo “franco” não se refere a pessoa do “maçom” mas à sua profissão ou à pedra com que o “maçom” trabalhava.

Confirmando-o o dicionário inglês “Oxford” ao explicar o verbete freestone (pedra franca) diz que é uma contração da expressão free of split stone (pedra que não se racha ou não se deve rachar). Seguindo o mesmo processo idiomático, free of split stone mason (o maçom da pedra que não se racha), contraiu-se para free stone mason e a seguir para freemason, o maçom que trabalhava com a free stone, no caso o mármore e a pedra calcária.

Corroborando esta interpretação, havia ao mesmo tempo outra profissão, a dos que trabalhavam com a rough stone (pedra áspera ou pedra rachada), chamados os rough stone mason, ou os rough mason. Exatamente como no exemplo anterior, o adjetivo rough (áspero, bruto) não se refere a pessoa do maçom, mas à pedra característica com que ele trabalhava, o granito ou a pedra vulcânica rachada nas pedreiras. Esta etimologia corresponde à da expressão freemason.

Estas duas expressões, free mason e rough mason, correspondem ao francês medieval maçon de franche piere (ou de fraunche pere) e maçon de grosse pere; na forma do francês moderno maçon de franche pierre e maçon de grosse pierre, que correspondem por sua vez ao inglês free stone mason e rough stone mason. O moderno termo frances Franc Maçon, em português Francomaçom, tem esta origem, lembrando que franche é o feminismo de franc que corresponde ao inglês free e que grosse é feminino de gros que corresponde ao inglês rough.

Dada essa explicação etimológica, deve-se voltar 273 anos no tempo, isto é, de 1723 até 1350, de quando data a primeira notícia das citações referidas no livro “The Book of the Words”, às páginas 25 e 26, transcritas no item inicial “Preliminares”, quando se falava da convivência entre Maçons Medievais e Maçons Modernos.

Aquele livro, refere-se em primeiro lugar aos estatutos do ano de 1350 de Eduardo III, rei da Inglaterra (1327 – 1377), dirigido, em francês medieval ao “mestre de franche piere” e em inglês ao “Master Free Mason”, e portanto estas duas expressões se correspondem.

Nos estatutos seguintes do mesmo rei, mas do ano de 1360, são citados em francês medieval como atividades distintas “maçon…de fraunche pere ou de grosse pere”, e em inglês “mason of free stone or of rough stone”.

Anota-se que o francês medieval foi a língua oficial na Inglaterra, desde o ano de 1085 até meados do século XIV, e que o inglês mediu” passou a ser o idioma oficial depois de 1360, esta a razão de os citados estatutos estarem nesses dois idiomas.

Em 1436, um profissional de nome William Horwood, Freemason, contratou a construção da Fotheringay Chapell, conforme o manuscrito MS – Evidente.

Em 1439, no reinado de Henrique VI Rei da Inglaterra, (1422 – 1461), John Wood, Mason, contratou com o abade de St, Edmonsbury, a restauração e reparos na torre do grande sino e outros serviços pertinentes aos Free-Masons.

Uma proposta de regulamentação vinda da Casa dos Comuns e apresentada ainda a Henrique VI em 1446, convertida em lei, cita “Rough Maister” e `Maister Mason” como profissões distintas.

Henrique VIII, rei da Inglaterra e da Irlanda (1509 – 1547) expediu uma ordem aos “Free Mason Mayster, Carpenter, rough Mason, bricklayer, klayster Tyler, etc.” disciplinando suas atividades.

Nos estatutos de 1548 de Eduardo VI, Rei da Inglaterra e da Irlanda (1547 1553), sucessor de Henrique VIII, estão citadas como distintas as profissões `Free Mason, Rough Mason, Carpenter, Bricklayer, etc.”.

No reinado de Jaime I, rei da Inglaterra e da Escócia (1603 – 1625), a corte de justiça de Okeham, Rutlandshire, da Inglaterra central, expediu a 28 de maio le 1610, uma regulamentação dirigida especificamente aos Free Mason e aos Rough Mason. Regulamentação semelhante expedida para Warwickshire por Carlos II, rei da Inglaterra (1660 – 1685), foi dirigida aos Free mason, Master brick-mason e outros. Note-se que neste documento não mais são citados os rough mason.

Note-se também que todas as recomendações e regulamentações do The Book of The Words, citadas para explicar a origem do nome freemason, sempre; e distinguem, entre outras, duas profissões distintas a dos roughmason que trabalhavam nas pedreiras rachando as pedras e a dos freemason que não rachavam pedras, porque trabalhavam nos canteiros de obras. Mostra também, que ainda após 1660 havia maçons medievais organizados, os freemason, em Mala atividade, a ponto de merecerem regulamentação real.

A atividade específica do freemason, segundo a Enciclopédia Britânica, era o trabalho com a freestone, uma pedra calcária (limestone), própria para os trabalhos de escultura e outros adornos, muito em uso nas catedrais góticas em outras construções de arquitetura refinada. Seus instrumentos eram o maço e o cinzel, sendo portanto operários especializados que trabalhavam diretamente nos canteiros de obras das construções em contato com os seus concidadãos e, principalmente, com as autoridades religiosas.

Em face disso, parece lógico concluir que o prefixo “free” de freemason, nada tem a ver com liberdade pessoal ou liberdade legal de ir e vir, mas sim diz respeito unicamente a espécie de pedra com que determinados operários construtores trabalhavam.

É correto afirmar, que na expressão habitual “maçons livres e aceitos” o termo “livres” foi desviado do seu sentido original. A expressão correta deveria ser “francomaçons aceitos”. Isto melhor considerado, levaria à maior facilidade de explicar a história da Maçonaria Moderna, pois se teria no período da convivência dos maçons medievais “freemason – francomaçons” e os modernos “accepted freemason – francomaçons aceitos”, distinguindo-os como pessoas de duas categorias sociais diferentes.

Isso permitiria também uma interpretação mais coerente do nome speculative” a que o dicionário WEBSTERS dá o sentido de “theoretical not practical” , isto é, especulativo significa pensador teorético e não artista prático, um sentido que perfeitamente se adapta aos homens cultos, não francomaçons, mas francomaçons aceitos, que se filiaram a Maçonaria do século XVI em diante, sem serem profissionais da construção.

Portanto, a tradicional adoção pelos Maçons Modernos do nome “freemason” em inglês, “francmaçon” em francês e francomaçom em português, demonstra obviamente que houve um longo tempo de contato muito próximo entre pedreiros medievais e maçons modernos, se não diretamente, pelo menos por intermediação de outra sociedade, que neste caso podem ser perfeitamente os monges com os quais tinham contato permanente nas construções religiosas.

Portanto, Francomaçom (freemason) é nome de uma classe de antigos pedreiros medievais que tinham suas próprias guildas já referidas muito antes do ano de 1350 e a expressão francomaçom-aceito designa aqueles homens de classe social mais elevada e sem ligação com a profissão de pedreiro, que eram aceitos naquelas guildas desde o século XVI. Aqueles eram os maçons medievais, e estes são os maçons modernos. A tradução correta de accepted freemason é francomacom aceito, embora a tradição já tenha consagrado a tradução errônea inicialmente citada.

 

 

Irm. AMBRÓSIO PETERS.
A R L S “Os Templários”
GOB/Paraná
Or. de Curitiba – PR.
Escritor, Historiador Filosofo e Livre Pensador.
CURITIBA, quarta-feira, 5 de julho de 1995
Do Livro Maçonaria – Verdades e Fantasias.

Facebook Comments

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *