MARIO HENRIQUE SIMONSEN E A TEORIA ECONÔMICA

MARIO HENRIQUE SIMONSEN E A TEORIA ECONÔMICA

Daniel Arruda Coronel *

No dia 9 de fevereiro completaram-se vinte anos do falecimento prematuro do engenheiro, economista e acima de tudo professor, Mario Henrique Simonsen, o qual foi um dos maiores economistas do país, tendo atuado na iniciativa privada e pública, além de ter contribuído para a formação de notáveis pesquisadores brasileiros, os quais têm uma folha importante de serviços prestados ao país.

Simonsen foi ministro da Fazenda do governo Geisel, tendo sido o ponto de equilíbrio em um governo que, devido à conjuntura econômica desfavorável e ao projeto de distensão política, preferiu financiar o crescimento em vez de fazer os ajustes econômicos que eram necessários para a estabilidade macroeconômica. Também foi ministro do Planejamento do governo Figueiredo. Entretanto, por discordar dos rumos que a política macroeconômica estava tomando, que tinha como característica o aumento dos gastos públicos e a irresponsabilidade macroeconômica, Simonsen retirou-se da vida pública e voltou ao ensino de economia na FGV-RJ.

Na Fundação Getúlio Vargas, Simonsen conseguiu fazer o que mais sabia, ou seja, contribuir para a construção do conhecimento, tendo sido um dos pioneiros no Brasil a estudar o modelo de realimentação da inflação, que posteriormente desembocou no conceito de inflação inercial. Ainda nesse contexto, conforme Campos (1998, p.13)** , as principais contribuições teóricas de Simonsen foram: a) a chamada “curva de Simonsen”, isto é, a oscilação dos salários reais, nos períodos inflacionários, em virtude das tentativas de recomposição dos picos salariais anteriores, depois rapidamente erodidos pela inflação; b) a teoria das três determinantes da inflação – a componente autônoma, a realimentação e a regulagem da demanda; c) a política de rendas como instrumento governamental para suprir falhas de coordenação no funcionamento do sistema de preços; d) a regra do endividamento prudencial, segundo a qual a solvência só pode ser preservada se o incremento dos juros internacionais for igual ou inferior à taxa de crescimento do produto interno bruto; e e) a crítica às limitações da “escola de expectativas racionais”, cujos postulados, em função da informação e aprendizado, são apenas aplicáveis a “mercado de especialistas”.

Além das contribuições elencadas anteriormente, Simonsen publicou, em 1994, o livro Ensaios Analíticos, o qual foi pensado e preparado como apostila do curso de Metodologia da Pesquisa Científica Aplicada à Economia, ministrado em 1992 e 1993, na FGV. Na obra, o autor discute questões relacionadas à construção do conhecimento, à evolução da ciência econômica, e também apresenta capítulos muito didáticos sobre física e música, mostrando – com acuidade e com forte embasamento teórico e quantitativo – a interdisciplinaridade e a inter-relação das mais variadas áreas do conhecimento.

Para Simonsen, a estrutura e a concepção do Plano Real eram claras e objetivas. Contudo, já em 1994, alertava que para o Plano realmente ser consistente no combate à inflação e, posteriormente, no crescimento econômico, esse deveria buscar atacar o déficit público, através de responsabilidade macroeconômica, bem como repensar o modelo de previdência. Como se sabe, tais questões não foram levadas a sério ao longo dos anos, e o resultado hoje é um remédio amargo, para talvez evitar que o futuro da previdência e das contas públicas não cheguem no seu ocaso e a inflação volte com toda a força.

Um lado pouco conhecido do professor Simonsen era a sua forte relação com a música. Além de barítono e crítico musical, conhecia as partituras de mais de sessenta óperas. As pessoas de seu círculo social tiveram a oportunidade de observar mais esse talento, bem como sua fina ironia. Um exemplo disso foi a resposta a uma pergunta feita por um jornalista durante o governo Figueiredo: se ele não estaria trabalhando pouco. A comparação era com o então ministro Delfim Netto, que chegava ao gabinete às 5h e saía às 20h. Simonsen trabalhava das 9h às 18h. A resposta dada foi: “Você está partindo de um raciocínio errado. Você acha que eu só estou trabalhando na hora em que minha bunda está sentada? Está totalmente errado. Eu trabalho é com a cabeça”.

Enfim, passados vinte anos de seu falecimento, Simonsen faz muita falta pela sua objetividade, parcimônia e acuidade ao analisar as questões econômicas, mas principalmente pelo fato de ser um dos poucos economistas que alinharam a teoria, o embasamento matemático e uma ampla cultura, sendo que suas teses influenciaram uma geração de importantes economistas, assim como vários setores da sociedade e da intectualidade econômica internacional.

_________

Economista (Registro Corecon-RS 7811), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Professor Adjunto, Diretor da Editora UFSM e Bolsista de Produtividade do CNPq. E-mail: daniel.coronel@uol.com.br

** CAMPOS, R. Mario Simonsen, um matemático humanista, engenheiro, economista, professor e banqueiro brasileiro. Ministro da Fazenda do Brasil durante o governo de Ernesto Geisel, entre 16 de março de 1974 e 15 de março de 1979, e Ministro do Planejamento no governo Figueiredo. Nasceu: 19 de fev de 1935, Rio de Janeiro, RJFaleceu: 9 de fevereiro de 1997, na mesma cidade. Revista Brasileira de Economia, v. 52, n. especial, p. 9-14, 1998.

Facebook Comments

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *