A nota de um dólar dos Estados Unidos e as teorias da conspiração (I)

Rui Bandeira
14 JULHO 2010

A propósito do simbolismo presente na nota de um dólar americano, e particularmente do “olho que tudo vê”, o nosso amigo Diogo comentou:
O facto de George Washington ter sido Grão-Mestre da Grande Loja do seu Estado não lhe dá o direito de colocar um símbolo da Loja na nota. O símbolo era uma imagem de uma sociedade a que ele pertencia (ainda por cima secreta). Parece-me uma impertinência
E, mais adiante:
A Maçonaria Americana pode ter sido ou ser CRENTE. Mas isso não lhe dá o direito de impor os seus símbolos a uma esmagadora maioria que não é maçônica.
Quanto à afirmação de George Washington ter sido Grão-Mestre da Grande Loja do seu Estado (Virgínia), já tive oportunidade de a corrigir no texto Retomando o curso… Quanto à afirmação do Diogo que George Washington não tinha o direito de colocar um símbolo maçónico na nota… a resposta é: não colocou! Pela simples razão de que a nota de um dólar americano foi concebida e fabricada muitíssimo depois do tempo de vida de George Washington – que faleceu em 14 de dezembro de 1799!
A primeira nota de um dólar americano foi criada e fabricada no ano de 1862 (mais de sessenta anos depois da morte de Washington) e nem sequer tinha a configuração atual: apresentava a imagem de Salmon P. Chase, que foi Secretário de Estado do Tesouro na Administração de Abraham Lincoln.
A primeira efígie de George Washington só aparece na segunda nota de dólar, criada em 1869. Também esta versão era diferente da atualmente existente: a imagem de George Washington, ao centro, estava acompanhada, à esquerda, de uma imagem de Cristóvão Colombo avistando terra…
Em 1886, é criada a nota de um dólar “Silver Certificate”, com a imagem de… Martha Washington, a mulher do primeiro Presidente norte-americano!
Em 1896, imprimiu-se a nota de dólar denominada de “série educacional”, em cuja frente figuravam os retratos de George e Martha Washington, constando no verso uma imagem alegórica da História instruindo a Juventude.
Em 1899, a nota de dólar passou a apresentar as imagens de Abraham Lincoln e Ulysses S. Grant, sob uma imagem contendo o Capitólio, a águia careca (animal símbolo dos Estados Unidos) e uma bandeira americana.
Todas estas notas (e outras versões que foram emitidas, mas que aqui não refiro, por menos interessantes ou curiosas) apresentavam uma dimensão superior à nota de dólar atual.
A primeira nota de dólar com a dimensão da atual foi introduzida em 1929, com a efígie de George Washington.
Só em 1957 foi introduzida na nota de dólar a divisa IN GOD WE TRUST.
A introdução, no verso da nota de dólar da frente e verso do Grande Selo dos Estados Unidos (que tem a tal imagem com a pirâmide inacabada e o “olho que tudo vê” que alimenta as disparatadas teorias da conspiração que por aí circulam) só ocorreu em 1935, durante a Presidência de Franklin D. Roosevelt.
Portanto, nem George Washington, nem nenhum dos “Pais Fundadores” dos Estados Unidos tiveram nada a ver com a introdução dos símbolos que as teorias da conspiração acusam os maçons de subrepticiamente terem feito introduzir na nota de dólar…
As informações contidas neste texto, para além das obtidas nos locais para onde apontam os atalhos supra colocados, foram obtidas na entrada da Wikipedia em inglês United States – one dollar bill. Tão simples como isso! Desmontar as disparatadas teorias da conspiração requer apenas um pouco de informação, que nem sequer dá um grande trabalho a obter…
No próximo texto, tratarei dos símbolos incluídos no Grande Selo dos Estados Unidos (a tal pirâmide inacabada e o “olho que tudo vê”), sempre apontados como “provas” pelos inefáveis teóricos da conspiração.
Rui Bandeira
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