O QUE É A VERDADE?
Se tivessem esperado a resposta,
quando perguntaram a Jesus,
talvez não estivéssemos até agora
em busca da verdade.
Segundo a definição dos filósofos,
a verdade consiste numa relação
de conformidade entre o conhecimento
e as coisas consideradas.
Mas a verdade não é uma coisa.
Este computador, este trabalho,
não são verdades;
mas pensar, ou dizer que
este computador existe,
ou que este trabalho é ruim,
isso sim, é dizer e pensar verdades.
A verdade consiste, pois, em julgar que as coisas são o que são na realidade: “Dizer que é o que é, e dizer que não é o que não é eis a verdade”, assim disse Aristóteles. Podemos, pois, definir também a verdade como sendo:
uma relação de conformidade entre o que o espírito julga, e o que de fato é.
A VERDADE LÓGICA E A VERDADE ONTOLÓGICA
A verdade supõe três coisas: o objeto que se apresenta à inteligência, a inteligência que julga, e a relação de conformidade entre o juízo e o objeto.
Para quem vê as coisas, os juízos só são verdadeiros enquanto se conformam com os objetos; mas para Deus, criador de tudo o que existe, são os objetos que se conformam com as ideias, segundo as quais todas as coisas foram criadas. No dizer de Bossuet, vemos as coisas porque elas existem; para Deus, elas existem porque Ele as criou e as vê.
Deste modo, existem duas espécies de verdades, sendo uma a verdade lógica, isto é, a verdade dos nossos conhecimentos, que consiste na conformidade da nossa inteligência com o objeto, e a verdade ontológica, isto é, a verdade das coisas, que consiste na sua conformidade com a inteligência divina.
Conclui-se daí que tudo o que existe é ontologicamente verdadeiro; porque, criando Deus os seres tal como Ele os vê e quer, não poderia existir coisa alguma que não fosse perfeitamente conforme com a sua ideia.
Uma vez que a verdade ontológica pertence à metafísica, falaremos então da verdade lógica, mais próxima de nós, os humanos.
A VERDADE LÓGICA
A verdade do conhecimento, ou verdade lógica, é a conformidade da inteligência com o que é, isto é, com o objeto. Todos os atos pelos quais a inteligência se conforma com os objetos serão por isso mesmo, cada um a seu modo, susceptíveis de verdade lógica. Todo o conhecimento intelectual se funda nas intuições imediatas absolutamente infalíveis da consciência.
A inteligência humana tende naturalmente para a verdade; sendo, porém imperfeita, nem sempre a atinge, e quando a atinge, é quase sempre de modo imperfeito. Daí existirem diversos estados da inteligência em relação à verdade:
- A verdade pode estar para a inteligência como se não existisse: é o estado de ignorância.
2. A verdade pode entrever-se como simplesmente possível: é o estado de dúvida.
3. A verdade pode atingir-se como provável: a inteligência está neste caso no estado de opinião.
4. A verdade pode atingir-se com plena evidência: é o estado de certeza.
5. A verdade pode ser desconhecida, negada ou afirmada diferente do que é: é o estado de erro.
Conforme dito acima, ontologicamente, só existem coisas verdadeiras. Entretanto, a verdade pode nos aparecer mais ou menos claramente. Esta é a razão porque o mesmo objeto, que para mim é duvidoso, pode muito bem ser certo para outra pessoa, mais bem dotada em sua inteligência. Convém salientar que a dúvida foi transformada por Descartes em método de conhecimento. É claro que, para a inteligência perfeita – Deus – toda a verdade é evidente, e neste caso perdem sentido os termos duvidoso e provável.
AS PROBABILIDADES MATEMÁTICAS E MORAIS DA VFRDADE
A probabilidade matemática consiste no seguinte: dados todos os casos possíveis e de mesma natureza, em número determinado, podemos conhecer o seu grau de probabilidade através de uma fração, cujo denominador seja o número de casos possíveis, e o numerador seja o número de casos favoráveis.
Seja um copo que contenha 10 bolas, sendo 8 pretas e 2 brancas; a probabilidade de se tirar uma bola branca é exatamente de 2/10.
Sabe-se, contudo, que a mais rigorosa apreciação das probabilidades não pode garantir que não haja erro, e só permite fixar uma média, que será tanto mais exata, quanto maior for o número de casos observado. (Concluímos assim que as pesquisas de opinião efetuadas para avaliar as probabilidades dos candidatos políticos no Brasil, cuja população é de cento e noventa milhões e nas quais a amostra é só de duas mil pessoas, são totalmente furadas e com margem de erro muito superior aos mais ou menos 2% anunciados pelos órgãos de pesquisa).
A probabilidade moral não permite avaliações matemáticas, porque as probabilidades não são todas conhecidas nem são todas da mesma natureza. É o que acontece nos eventos que dependem do livre arbítrio.
AS TRÊS ESPÉCIES DE VERDADE: METAFÍSICA, FÍSICA E MORAL
A verdade metafísica não é passível de ser contradita; por exemplo, o todo é maior do que as partes: 2 + 2 = 4. Por serem verdades apreendidas pela razão, a evidência e a certeza, que delas procedem, chamam-se racionais ou metafísicas.
A certeza metafísica supõe a total impossibilidade da dúvida. Ao afirmar uma verdade metafísica, o espírito sabe que a contraditória é absurda.
A verdade física é contingente, isto é, o predicado sempre combina com o sujeito: o sol ilumina, o leão tem juba. Estas verdades são apreendidas pela experiência; por isso, por sua evidência e certeza, chamam-se verdades físicas.
Finalmente, existem as verdades morais, que independem de leis físicas ou metafísicas, mas dependem da lei psicológica e moral, isto é, de uma lei da natureza humana. Exemplos: o homem tende para a felicidade; ele é feito para a verdade; e está submetido à lei do dever.
Como vimos, a definição da Verdade é das mais complexas, e cada filósofo a apresenta de maneira diferente. A Verdade dos conhecimentos é a base da Filosofia, e a Verdade Moral é a base da vida Social.
AS QUATRO NOBRES VERDADES
O mundo está cheio de sofrimentos. O nascimento, a velhice, a doença e a morte são sofrimentos, assim como o são o odiar ou o estar separado de um ente querido. A Vida que não está livre dos desejos e paixões está sempre envolta em angústia. Eis o que se chama a Verdade do Sofrimento. A causa do sofrimento humano encontra-se nos desejos do corpo físico e nas ilusões das paixões mundanas, que se acham profundamente enraizados nos instintos físicos. O desejo, sendo muito forte, pode se manifestar em tudo, até mesmo em relação à morte. A isto se chama a Verdade da Causa do Sofrimento.
Se o desejo que está na raiz de toda a paixão humana, puder ser removido, aí então, morrerá esta paixão e desaparecerá todo o sofrimento humano. Esta é a Verdade da Extinção do Sofrimento.
Para se atingir um estado de tranqüilidade, em que não há desejo nem sofrimento, deve-se disciplinar a mente, de modo a desenvolver a percepção, o pensamento, o comportamento, o meio de vida, o esforço, a atenção e a concentração corretos. Esta é a Verdade para a Extinção dos Desejos e das Paixões.
Os que buscam a Iluminação devem entender as Quatro Nobres Verdades. Quem não as entender e praticar, continuará o seu ciclo de vidas pela eternidade.
A BUSCA DA VERDADE
Quando o fogo dos desejos está assolando o mundo, não importa saber qual é a composição do universo ou qual é a organização ideal da comunidade humana. O importante é saber como resolver o problema dos nascimentos, da velhice, das doenças e da morte. Os que buscam a Verdade não devem esperar que isto seja uma tarefa fácil.
Antes de tudo, deve-se ter na mente a natureza básica deste mundo, onde reinam a vida, o sofrimento e a morte. Vida, oh vida! Para que serves se o ser humano não faz bom uso dos seus renascimentos?
Na Mensagem do Mestre, Krishna disse a Arjuna: “O conhecimento da Verdade é dado àquele que domina o eu pessoal e as impressões dos sentidos. Aquele que atingiu esse conhecimento e esta sabedoria entra na Paz Suprema, no Nirvana”. Como ensinaram Buda, Confúcio, Zaratustra, o Amor é a via primordial para a Iluminação. O Amor é o Alfa e o Ômega da vida. O Homem nasce com o Alfa. O Ômega só é alcançado pelo trabalho difícil, árduo e constante, no seu aperfeiçoamento espiritual.
Para o maçom, a busca da Verdade deve ser constante. É algo que começa com a sua Iniciação, mas que nunca mais acaba, ainda que tenha atingido os mais altos graus.
Através de seus símbolos e alegorias, a maçonaria ensina que a Verdade é um atributo da Divindade, e que só pelo burilamento das asperezas do seu caráter, pelo estudo e pela meditação, pelo uso da razão e da moral, o maçom pode alcançar a Iluminação e aproximar-se da Grande Verdade, o Grande Arquiteto do Universo.
Bibliografia
Bhagavad Gita
A Sabedoria dos Vedas
A Doutrina de Buda
Gnose – Estudos Esotéricos
Aristóteles – Metafísica
Kant – Crítica da Razão Pura
Hegel – O Real e o Racional
Dicionário de Maçonaria e Simbologia – Nicola Aslan
ANTÓNIO ROCHA FADISTA
M.’.I.’. Loja Cayrú 762 GOERJ / GOB – Brasil