Percival Puggina
08/04/2023
O evangelista Lucas, em 22,8-13, faz um relato instigante sobre a preparação da ceia que antecedeu a Paixão. Pedro e João foram incumbidos por Jesus das providências necessárias e perguntaram-Lhe onde ela deveria acontecer. A resposta – vejam bem – foi assim:
“Logo que entrardes na cidade, encontrareis um homem levando uma bilha d’água. Segui-o até a casa onde ele entrar. Direis ao dono da casa: O Mestre te pergunta: onde comerei a Páscoa com meus discípulos? E ele vos mostrará no andar superior uma grande sala provida de almofadas. Preparai ali”.
Não é uma determinação incomum? Quem era aquele personagem que entra visto pelas costas na história da humanidade? Personagem anônimo estava, na hora certa, no lugar certo, cumprindo sua missão. Usando uma expressão que ganha popularidade nestes dias tumultuados e de tão pouca fé humana nas pessoas das instituições, aquele homem me representa. Nos representa. Como ele, temos que palmilhar o caminho para a casa do Pai, e devemos fazê-lo de tal maneira que outros livremente nos sigam.
O homem com a bilha d’água, de certo modo e do modo certo, serviu a Cristo como a Igreja O deve servir, sem perguntar qual seria seu lugar na mesa, sem posar para a fotografia. O que transcorreu naquela casa, transformada no mais importante templo material do cristianismo, seria mais do que suficiente para impor ao evangelista uma identificação bem precisa. Mas não. Não é assim que as coisas acontecem na história da Salvação.
Também os sacerdotes por uma graça superior à sua condição humana, comparecem ao altar da Santa Ceia como o homem da bilha d’água. Abrem as portas da grande sala e a confiam ao Mestre para que opere, ali, o imenso dom da Eucaristia, “como aquele que serve”. Na eternidade, assim como no tempo humano – eis que sempre, em algum lugar, ela está sendo celebrada – a Eucaristia faz permanente a Aliança, o sacrifício da Cruz e a Ressurreição.
Feliz Páscoa!
Percival Puggina (78),
membro da Academia Rio-Grandense de Letras,
é arquiteto, empresário e escritor e
titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org),
colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo;
Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões;
A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.