A CHAVE DE HIRAM

Charles Evaldo Boller
29 abril 2017

Sinopse: Considerações a respeito do livro A Chave de Hiram; implicações de conhecimento e educação para o maçom; valor do culto e erudito para a ordem maçônica

A leitura do livro “A Chave de Hiram” é visto como leitura prejudicial por pessoas que, em razão de suas crenças, descartam a possibilidade aventada pelos autores de que Jesus Cristo é parte de linhagem real diferente da vertida pela Bíblia Judaico-cristã.

Sem entrar no mérito da veracidade e seriedade das pesquisas que culminaram na proposta das mudanças na história da cristandade, os argumentos são válidos e consistentes como pensamentos novos. Que cada pessoa, debaixo da luz de seu próprio discernimento e crenças, com a visão de sua sã racionalidade e sensibilidade, mude sua forma de pensar. Se isto destruir dogmas absurdos é bom sinal; liberdade é objetivo central da Maçonaria. Significa progresso do pensamento e do conhecimento, cauteriza as chagas do obscurantismo que tanto mal promove ao longo da história. A educação e o conhecimento libertam! Polir a pedra é tarefa de todo maçom.

Todos carecem de polidez, virtude que marca a origem de outras virtudes. A polidez é insignificante e ao mesmo tempo importante; sem ela todas as outras virtudes seriam imperceptíveis. É na aparente insignificância da polidez que reside sua importância. Não se trata de refinada educação, tratamento impecável e boas maneiras, mas do acolhimento de novas ideias e posturas, de mais cultura. É o que significa polir a pedra; é polidez! O caminho da polidez é o ataque frontal, e com todas as forças mentais e psicológicas disponíveis, ao estudo pessoal dentro da capacidade individual e, com isto, progredir em conhecimento, desenvolver em polidez. O maçom alcança seu objetivo quando discute algo que muda seu modo de pensar. Debates fomentam o crescimento maçônico; é o brunir da pedra até brilhar, ficar polida. Ingressa-se na ordem maçônica para beneficiar-se de um sistema de incremento da polidez, para se autoproduzir, e não apenas para ser membro do “sindicato”. E que não fique apenas em meia dúzia de autores! Que absorva bibliotecas inteiras na tarefa de busca de polidez. Não se restrinja a temas exclusivamente maçônicos. Seja eclético! É trabalho, estudo, diversão! E não fique apenas nisso, coloque-se em uso prático o que se descobrir; dê exemplos; as enciclopédias estão repletas de conhecimentos, mas não possuem a capacidade de colocar tal preciosidade em ação.

Os irmãos autores do livro “A Chave de Hiram” pesquisaram e trabalharam para alicerçar dados aceitáveis. São corajosos ao exporem seus pensamentos para a cristandade. O objetivo dos autores não é a de semear discórdia entre maçons, mas apresentar novas ideias, novos formatos, questionar verdades em novos ciclos de tese, antítese e síntese. Seriam estultos se suas pesquisas estivessem baseadas em argumentação sem sustentação histórica e científica. As comunidades acadêmicas e de pensadores os trucidariam! Foi graças ao seu treinamento maçônico que eles obtiveram discernimento diferente das comunidades acadêmicas e científicas que há tanto tempo estudam na mesma linha sem acrescentarem novidade na área, talvez por receio de enfrentar a ira de religiosos fundamentalistas ou mesmo da falta de visão; insight.

Independente de o historiador não usar de “achismos”, seja ele técnico e alicerce suas reflexões em documentação de fonte segura e fidedigna, a história contada em qualquer tipo de registro histórico contém falhas de interpretação, erros e falsidades; não por falha do historiador. Mesmo se a fonte estiver registrada e fartamente documentada, a redação de evento histórico está sujeita aos ventos dos interesses do historiador, grupos de poder, filosofias, religiões e políticas. Muito do que lemos e interpretamos em documentos que o tempo preservou intactos, estão recheados de mentiras; já falsos em sua origem. A boa técnica exige do historiador métodos e procedimentos de correlação de fatos passados, e por ser parte especulativa e parte assertiva, a verdade histórica absoluta é quase impossível; resta duvidar sempre; na dúvida e na certeza, duvide! Segundo o pensamento grego, a verdade absoluta e eterna deve presidir o pensamento filosófico, mas até este deve ser permanentemente questionado. O pensamento deve ser reavaliado em base permanente pelos eternos ciclos de tese, antítese e síntese. Para evadir-se da possibilidade de gerar obscurantismo é recomendada ampla abertura para o lançamento de novas ideias, sempre as submetendo aos filtros que cada um dispõe. Com o livro “A Chave de Hiram” não é diferente. Mesmo com o risco de a obra ser construída em resultado de promoção comercial, visando lucros, em hipótese alguma aceitar o preconceito fundamentado em crenças, dogmas, fantasias e absurdos de alguns para censurar, refutar ou invalidar o pensamento. A liberdade de pensamento é a coluna mestra de sustentação da Maçonaria. A pesquisa de novas ideias não divide a Maçonaria, tal procedimento a justifica. Divisão é natural em todas as organizações humanas, a Maçonaria não é exceção. A proposta da Maçonaria é a de promover a tolerância para fomentar a livre investigação da verdade, caso contrário ela é apenas mais uma simples organização filosófica.

A Maçonaria simbólica de 1871 era vista assim por Albert Pike: “Se você ficou desapontado nos primeiros três graus da forma como os recebeu, e se pareceu a você que o desempenho não atingiu o prometido, que as lições de moralidade não são novas, a instrução científica é rudimentar e os símbolos foram explicados deficientemente, lembra de que as cerimônias e lições desses graus foram se acomodando cada vez mais no tempo, reduzindo-se e afundando na trivialidade da memória e capacidade limitada do mestre e instrutor para o intelecto e necessidades do iniciado; que eles vieram a nós de tempos onde os símbolos eram usados, não para revelar, mas para esconder, quando o aprendizado simples foi limitado a uns poucos seletos e os princípios mais simples de moralidade pareciam verdades recentemente descobertas; e que estes antigos e simples graus estão agora como as colunas quebradas de um abandonado templo druida, na sua rude e mutilada grandeza; e em muitas partes, também, corrompidas no tempo, desfiguradas por adições modernas e interpretações absurdas. Estes graus iniciais são a entrada para o grande templo maçônico, as colunas triplas do pórtico”. – Estas “colunas triplas do pórtico” são os três graus simbólicos, a base, o sustentáculo de toda a estrutura do sistema de polidez da Maçonaria. Se a Maçonaria simbólica cai na trivialidade, as colunas de sustentação quebram e a Maçonaria Universal caminha para a aparência de “um abandonado templo druida”.

A aventura continua nos graus filosóficos nos ritos que possuem tal extensão. Não são graus superiores; é falácia! Não distingue ninguém! Antes, espreme o maçom debaixo de grande responsabilidade: o de tornar-se mestre servidor. Os graus filosóficos caracterizam-se apenas pela continuação do que deveria acontecer no terceiro grau simbólico. Nada mais! O maçom que alcança ao mais alto grau de seu rito deve abandonar insígnias, comendas e enfeites dourados, que só serviram como demarcação visível do caminho e passagem pelos degraus da escada de Jacó, para voltar a portar apenas a mais humilde e significativa das insígnias maçônicas: o avental do aprendiz maçom; assim continua e faz da arte de pensar, debater, estudar, o hábito permanente de sua vida; chegado ao topo, volta aos graus simbólicos e filosóficos inferiores para dar sustentação à base; sem alicerce a estrutura da edificação vem abaixo.

A Maçonaria cresceu vertiginosamente até a década de 1950, quando inicia sua corrosão e aumenta a evasão; é fenômeno universal! A evasão acentuada é em virtude da falta de desafios, de renovação do pensamento, de acomodação, sem interesse intenso em pesquisar, ler e abrir a mente para novos pensamentos. Quando a divisão em novos ritos e obediências promove novas linhas de pensamentos ela é correta, se a razão for dividir para conquistar poder, então a instituição segue o caminho da estagnação, mesmice, trivialidade; basta avaliar em qual destes caminhos cada loja segue, para determinar a capacidade de sobrevivência de seus obreiros na ordem maçônica.

A Maçonaria universal oferece amplas possibilidades ao crescimento de polidez de seus membros, mas eles devem trabalhar arduamente a pedra. Reportando-se a isso, certo ritual do Rito Escocês Antigo e Aceito verte o seguinte: “Um sistema de numerosos graus, onde o ensino é permanente, não pela palavra do presidente ou do orador, mas principalmente pelo trabalho do adepto”. Quem trabalha é o obreiro, o adepto – não existe a figura do professor; não existe cardápio pronto, receita de bolo ou varinha mágica! Quem desenvolve polidez com auxílio de seus irmãos é o obreiro, e isto só ocorre na convivência, em debates e produção de material intelectual escrito. Aponta-se principalmente para a importância em manter a mente aberta para novos ou inusitados pensamentos; abrir portas diferentes ou novas. A sociedade muda pela força do pensamento e da consciência; e isto demanda trabalho!

O resultado certo é a produção duradoura de felicidade e paz para a humanidade pela evolução do conhecimento bem utilizado. O Grande Arquiteto do Universo ilumina os caminhos do homem que obtém sabedoria em resultado do uso do livre-arbítrio no esforço de obter polidez e discernimento de aplicação prática.

 

 

Bibliografia:

  1. BRASIL, Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito para a República Federativa do, Ritual do Grau 15 do Rito Escocês Antigo e Aceito, Cavaleiros do Oriente, da Espada e da Águia, Segunda Série de Graus Históricos e Capitulares, primeira edição, Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito para a República Federativa do Brasil, 64 páginas, Rio de Janeiro, 1925;
  1. COMTE-SPONVILLE, André, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, tradução: Eduardo Brandão, ISBN 85-336-0444-0, primeira edição, Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 392 páginas, São Paulo, 1995;
  1. CURY, Augusto Jorge, O Código da Inteligência, a Formação de Mentes Brilhantes e a Busca pela Excelência Emocional e Profissional, ISBN 978-85-6030-398-4, primeira edição, Ediouro Publicações S. A., 236 páginas, Rio de Janeiro, 2008;
  1. CURY, Augusto Jorge, Pais Brilhantes, Professores Fascinantes, A Educação de Nossos Sonhos: Formando Jovens Felizes e Inteligentes, ISBN 85-7542-085-2, sétima edição, Editora Sextante, 172 páginas, Rio de Janeiro, 2003;
  1. GOLEMAN, Daniel, Inteligência Emocional, A Teoria Revolucionária que Redefine o que é Ser Inteligente, título original: Emotional Intelligence, tradução: Marcos Santarrita, ISBN 85-7302-080-6, 14ª edição, Editora Objetiva Ltda., 376 páginas, Rio de Janeiro, 1995;
  1. HUNTER, James C., Como se Tornar um Líder Servidor, Os Princípios de Liderança de o Monge e o Executivo, título original: The World’s Most Powerful Leadership Principle, tradução: A. B. Pinheiro de Lemos, ISBN 85-7542-210-3, primeira edição, Editora Sextante, 136 páginas, Rio de Janeiro, 2004;
  1. HUNTER, James C., O Monge e o Executivo, Uma História Sobre a Essência da Liderança, título original: The Servant, tradução: Maria da Conceição Fornos de Magalhães, ISBN 85-7542-102-6, primeira edição, Editora Sextante, 140 páginas, Rio de Janeiro, 2004;
  1. KNIGHT, Christopher; LOMAS, Robert, A Chave de Hiram, Faraós, Franco-maçons e a Descoberta dos Manuscritos Secretos de Jesus, título original: The Hiram Key: Pharaohs, Freemasons and the Discovery of the Secret Scrolls of Jesus, tradução: José Rodrigues Trindade, ISBN 85-88781-085, primeira edição, Editora Landemarque, 378 páginas, São Paulo, 2002;
  1. PIKE, Albert, Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry, Prepared for the Supreme Council of the Thirty Third Degree for the Southern Jurisdiction of the United States, Charleston, 1871.

 

Biografia:

  1. Albert Pike, advogado, autor, escritor, historiador, maçom e poeta de nacionalidade norte-americana. Nasceu em Boston, Massachusetts em 29 de dezembro de 1809. Faleceu em Washington, em 2 de abril de 1891, com 81 anos de idade. Reorganizador de todos os rituais do Rito Escocês Antigo e Aceito, do grau quarto ao trinta e três;
  1. Christopher Knight, autor de nacionalidade inglesa. Nasceu em Cidade de Nova Iorque, Nova Iorque, Estados Unidos da América em 7 de novembro de 1957. Com 53 anos de idade;
  1. Robert Lomas, engenheiro eletricista, escritor e maçom de nacionalidade inglesa. Ensina Sistemas de Informação na Escola de Administração da Universidade de Bradford.

Data do texto: 30/12/2010

Sinopse do autor: Charles Evaldo Boller, engenheiro eletricista e maçom de nacionalidade brasileira. Nasceu em 4 de dezembro de 1949 em Corupá, Santa Catarina. Com 61 anos de idade.
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Local: Curitiba
Grau do Texto: Aprendiz Maçom
Área de Estudo: Cultura, Educação, Maçonaria

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