A Ignorância Como Pecado
Stephen Kanitz
Muitas religiões condenam atitudes como a cobiça, a inveja, a idolatria, adultério e roubo.
Curiosamente, somente as religiões orientais condenam a ignorância como um mal a ser extirpado.
Naquela época, ignorância não significava desconhecer Kant, Platão, Aristóteles, ou os livros clássicos.
Ignorante era aquele que não sabia cuidar de si.
Era aquele que não aprendia com suas próprias experiências, que não aprendia com seus erros.
Hoje, ignorante é aquele que não aprende o que nossos intelectuais escrevem.
Mas as religiões orientais dão ênfase ao auto conhecimento e à integração dos sentidos com a realidade.
Aprender e ser ensinado são bem mais distantes do que se imagina, a grande diferença entre o Ocidente e o Oriente.
Todo leitor já deve ter visto na TV e no cinema um guru budista dizer algo enigmático ao seu pupilo, para que ele decifre sozinho o significado.
No Ocidente dos intelectuais, se um aluno chegar às suas próprias conclusões será reprovado na certa.
Ensino é repetir o que os professores acham que tem de ser aprendido.
Observar por si mesmo a realidade, pensar, refletir, permitiria que os nosso alunos contestassem algumas mentiras ensinadas.
A ignorância começa justamente aí, aprender a não ser enganado.
Quando se estuda o caráter nacional brasileiro, percebe-se que a característica central do brasileiro é a de imitar o estrangeiro no intelectual.
Casa Grande e Senzala diz aptidão para imitar.
Borges Lagoa diz que somos copiadores.
Em Raízes do Brasil, Sergio Buarque de Holanda afirma que somos desterrados na nossa própria terra.
Não sabemos observar a nossa realidade, ficamos lendo livros de Karl Marx, Maynard Keynes e Milton Friedman para pegar as três grandes vertentes políticas, e achamos que as leis são transculturais, universais.
Assim, nosso intelectual não precisa pensar. Basta repetir algumas frases em inglês e francês. Très chic!
Nosso povo é presa fácil daqueles que prometem fazer tudo em nome deles.
Por isto temos tanta corrupção, enganação e nossos serviços públicos não funcionam.
Não poupe para a velhice, porque nós cuidaremos de você.
Não se preocupe com sua saúde, que nossos médicos cuidarão de você.
Não eduque seus filhos com seus valores pessoais, que nossos professores os educarão com outros valores que não os seus.
Não se preocupe em trabalhar com esmero, que nós lhe daremos seguro desemprego.
Não aprenda a se defender dos bandidos, que nossa polícia cuidará disto.
Um país para dar certo não depende de 100 intelectuais no poder, inteligentes e preparados para comandar a sua vida.
Quanto mais outros pensarem por nós, decidirem por nós, mais ignorantes ficaremos.
Noventa por cento de um jornal não discute o que você deveria fazer com sua vida, mas sim o que governo e seus intelectuais estão pensando em fazer para ou contra você.
Países que dão certo são aqueles que acreditam e incentivam a sabedoria do povo.
O commom sense dos ingleses é a sabedoria do povo, não a sabedoria dos intelectuais dominantes.
Hoje, nosso povo não decide absolutamente nada.
Não é o povo que decide onde aplicar seu FGTS, nem seu fundo de aposentadoria.
Nem quem será o professor dos seus filhos ou quem será seu médico.
Ele não aprende nem a entender contratos, porque a maioria dos contratos é com o próprio governo.
Leia o contrato que você assinou com o FGTS para cuidar do seu dinheiro.
Com o governo é tudo contrato de adesão, não tem discussão.
Estão condenando nosso povo à eterna ignorância.
É a falsa consciência em reverso.
Precisamos criar uma nova religião neste país, uma que coloque como primeiro mandamento o combate à ignorância, para salvar o povo de seus falsos salvadores.
Aqueles que pregam o altruísmo para tirar dinheiro dos seus filhos.
Portanto, como primeiro passo pare de ler estes meus artigos e comece a observar o que estão fazendo com você e seus filhos.
Aprenda a poupar, a cuidar da sua saúde, do seu fundo de desemprego e aposentadoria.
Eu sei que isto é chato e difícil, mas você um dia vai me agradecer.