Sinopse: O trabalhador guerreiro; com a trolha em uma das mãos e a espada na outra.
Em qualquer empreendimento, material ou espiritual, aonde o maçom se lance, há necessidade de trabalho constante. Daí o afloramento da boa vontade ser eficiente arma de defesa contra a oposição difamadora dos inimigos.
No mínimo exige o aporte de coragem para enfrentar as vicissitudes da vida, entretanto, sem a existência de forte espiritualidade é praticamente impossível conciliar conflitos, sejam estes materiais ou espirituais. É a característica e desenvolvimento espiritual que dá ao homem a possibilidade de sobrevivência neste sistema competitivo. Característica que só desenvolve plenamente se movida pelo heroísmo de vencer a si mesmo, pelas aspirações e ideias que o diferenciam dos outros animais e de outros iguais. Sua característica guerreira não é fortuita, aconteceu em resultado de sucessivas fases de seleção natural, da prevalência do mais apto. É só olhar ao passado, na história da trajetória do homem até o presente e verificar que a jornada foi penosa, inclemente. Protegiam-se em locais lúgubres como florestas e cavernas, ou então, em encostas e escarpas para escapar aos predadores ou da fúria dos fenômenos naturais. A luta foi longa e muitos agonizaram para lançar o homem no atual estágio de desenvolvimento.
É notório que, apenas os agrupamentos de homens que detinham as mais desenvolvidas características espirituais progrediram e sobreviveram; os demais sumiram nas brumas do tempo sem deixar vestígio de suas passagens. Só as civilizações altamente desenvolvidas em espiritualidade deixaram marcas indeléveis de suas passagens e podem ser vistas hoje ainda. Estas características passaram entre as gerações e, de tão significativas, gravaram-se na estrutura social, passando por herança aos herdeiros, representando a diferença entre a vida e a morte, felicidade e sofrimento. Apenas as sociedades que obtiveram maior sucesso em sustentar características espirituais suplantaram as demais e dominaram por um tempo, normalmente enquanto primavam por altos valores morais e espirituais em suas sociedades. Só através da evolução espiritual é que foi possível obter recompensas de evolução e supremacia e nunca sem o empunhar da espada para defender-se dos inimigos. Os inimigos visíveis são mortos pela espada nos campos de batalha que se cobrem com sangue e, como consequência da derrotas, os seus castelos, templos e cidades são derrubados e incendiados; em muitos casos não sobra pedra sobre pedra. Os inimigos invisíveis, aqueles que conspiram para derrubar o templo interno de cada um, são eliminados por uma espada simbólica com capacidades de lógica, psicologia e gnosiologia.
A espada de defesa na construção e reconstrução de templos internos serve-se da lógica. É ela quem percebe quando o inimigo tenta, por insídia ou ignorância, destruir a construção. Embora a lógica pareça artificial, ela se impõe por si mesma. É a aplicação da razão ao pensamento enquanto pensado. É ferramenta do pensamento enquanto estiver no campo das ideias. Não atua no Universo físico, apenas no pensamento. O grande inimigo da construção é construído no pensamento, e é lá que deve aportar a sagacidade da lógica da espada para matar raciocínios tortos e que conduzem ao erro. É importante entender claramente o que o orador verbaliza e absorver corretamente as estruturas das palavras e frases e sua organização interna. Cabe ao maçom saber falar bem e interpretar corretamente o que fala, usando com galhardia a linguagem para expressar seu próprio pensamento e entender o que os outros realmente verbalizam. Não só ouvir, mas dar sentido lógico e aplicabilidade prática ou sensível. Deve ir além das palavras e descobrir falhas de raciocínio. Andar armado com a espada é necessidade em qualquer ambiente onde se reúnem homens. Todos têm interesses: uns bons, outros não! Que valor tem elogios ditos de forma a apenas fazer coceiras nos ouvidos dos ouvintes? Não é ofensa discordar! Desonesto é elogiar quando existe erro em algum raciocínio. Desgraçada é a construção cujo alicerce é minado pela adulação e falsidade. É cada um em si quem permite que os outros o atinjam com suas armadilhas, com seus pensamentos errados, e isto dura até o momento em que se aplica a fria espada da lógica para derrubar pensamentos tortos. E onde está a lógica na composição da espada? Ela está no fio. Quanto mais aguçada a lógica, com mais facilidade ela corta os raciocínios errados e o derruba inimigo da construção.
A espada que é usada na construção tem mais uma propriedade: a psicologia, capacidade inata ou aprendida para lidar com outras pessoas e consigo mesmo, levando em conta suas características psicológicas. Convém armar-se da espada que percebe a origem do pensamento expresso e qualificá-lo quanto ao tipo a que pertence. Qual linha ideológica defende. A lógica é dependente da psicologia, daí sua importância. A psicologia permite conhecer o processo de pensamento do homem, senão como saber onde atingir os pontos vitais do inimigo? Conhecer bem o homem e os pontos fracos e fortes do seu pensamento é importantíssimo na luta para defender o pátio de obras de construção ou reconstrução de templos. É aprender a reconhecer onde se é mais vulnerável, onde as muralhas são mais frágeis e que eventualmente permitirão um ataque surpresa de vícios e paixões. A psicologia é a essência do “conhece-te a ti mesmo”. Sem conhecer a maneira como o homem pensa e sente é apenas luta inglória e o templo pode vir abaixo a qualquer sopro de contrariedades. Se a lógica é o fio da espada, a psicologia é a sua estrutura, o seu desenho é o que lhe dá forma.
Podemos associar fé à psicologia, que endurece o metal de que é feita. Fé é a crença no não visto. Acreditar na existência daquilo que o maçom representa apenas por um conceito, ao qual denomina Grande Arquiteto do Universo, é um ato de fé. É aceitar, mesmo sem ver, a manifestação de uma mente lógica que apenas cria as leis que dão vida. Este ato de fé é resultado da atuação de lógica e psicologia.
A esperança dá sentido e razão do porque lutar para defender o templo interno, aponta a direção para a espada atingir os pontos vitais do inimigo. É a certeza que o Criador não o colocou nesta bela nave espacial sem um propósito definido. Para alguns é indiferente viver em virtude da existência do mal, mas a maldade é criação do livre arbítrio da criatura e não do Criador. A intenção do Arquiteto é simples: felicidade.
Uma espada bem afiada, dura, bem desenhada, manejada com habilidade carece de mais uma característica: a gnosiologia; teoria geral do conhecimento humano, voltada para a reflexão em torno da origem, natureza e limites do ato de pensar; defende o pensamento quanto ao seu valor; estuda as relações entre as diversas verdades de um pensamento, entre o conhecimento e o objeto conhecido. Em grosso modo é a psicologia e a lógica atuando juntas para construir pensamentos corretos, sem falha, onde a gnosiologia apenas os organiza e classifica. É o conhecimento resultante da interpretação correta do pensamento enquanto estiver na cabeça. É a organização de conhecimentos visíveis como visão, gosto, tato, e invisíveis, ou como fantasia, metafísica e outras. Gnosiologia é necessária ao maçom para que esteja estruturado com uma espada eficiente, treinada e organizada para defender a construção de seu templo interior. É a espada do conhecimento que espanta todo e qualquer inimigo que tenta destruir a bela construção moral que cada maçom deve ser na construção da sociedade humana. É o motivo de o maçom estudar em sua loja os mais diversos assuntos do pensamento, guardando-os para aplicação em sua vida. O resultado de todo conhecimento é ordenado e organizado pela gnosiologia. Ela é a espada toda. Está em todos os detalhes, de como este são belos, ordenados e prontos para o uso. Uma arma desprovida de treinamento, organização e método são o mesmo que possuir um revólver sem saber usá-lo, vem o meliante e leva tudo, inclusive a arma.
O maçom que prima pela reconstrução constante de seu interior, de seu templo vivo, usa a trolha numa das mãos e empunha a espada na outra, e em virtude desta condição de permanente alerta é bem sucedido na vida, progride material e emocionalmente – apesar das dificuldades, é feliz. Aprende a suportar a visão do ser e do que há de mais luminoso do ser, visão equilibrada que passa a interpretar como o bem. Só usa da espada para matar os inimigos que tentam bloquear o caminho para a luz, para intimidar e afastar os que tentam interferir na sua permanente reconstrução, razão da sabedoria, manifestação da felicidade. O sumo do bem é encontrar a felicidade. Está consciente que é pelo valor, perseverança e firmeza com que trata seus assuntos internos que dependem seu sucesso na sociedade e constantes momentos de felicidade. Com este repetido trabalho de reconstrução do templo interno obtém a vitória da liberdade como consequência da coragem e da perseverança. Está consciente que o caminho da luz é resultado da repetição que conduz ao hábito, pois quem tem por hábito repetir práticas virtuosas certamente encontra a felicidade. Trabalha para construir um ambiente de paz e harmonia onde possa crescer junto com seus irmãos e cidadãos do mundo, sempre alerta contra os ataques, os quais são repelidos com coragem e firmeza. O ambiente que ele constrói internamente reflete-se ao seu redor, contamina aos que lhe são próximos. Surge o ambiente fraterno onde as pessoas tratam-se como irmãos, onde se reúnem diversos templos vivos semelhantes que têm profundo amor entre si, e como consequência, lá naquele local sagrado se manifesta aquilo que o maçom define pelo conceito de Grande Arquiteto do Universo.
Bibliografia:
- CAMINO, Rizzardo da, Rito Escocês Antigo e Aceito, Graus um ao Trinta e Três, ISBN 978-85-370-0222-3, primeira edição, Madras Editora Ltda., 302 páginas, São Paulo, 2009;
- CLAUSEN, Henry C., Comentários Sobre Moral e Dogma, primeira edição, 248 páginas, Estados Unidos da América, 1974;
- MIRANDA, Pedro Campos de, Os Caminhos da Maçonaria, ISBN 85-7252-216-6, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 160 páginas, Londrina, 2006;
- SANSÃO, Valdemar, O Despertar para a Vida Maçônica, ISBN 85-7252-206-9, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 192 páginas, Londrina, 2005;
- SOBRINHO, Octacílio Schüler, Maçonaria, Introdução Aos Fundamentos Filosóficos, ISBN 85-85775-54-8, primeira edição, Obra Juridica, 158 páginas, Florianópolis, 2000;
- SPOLADORE, Hercule, O Homem, o Maçom e a Ordem, ISBN 85-7252-204-2, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 194 páginas, Londrina, 2005.
Sinopse do autor: Charles Evaldo Boller, engenheiro eletricista e maçom de nacionalidade brasileira. Nasceu em 4 de dezembro de 1949 em Corupá, Santa Catarina. Com 61 anos de idade.
Loja Apóstolo da Caridade 21 Grande loja do Paraná
Local: Curitiba
Grau do Texto: Aprendiz Maçom
Área de Estudo: Espiritualidade, Filosofia, Maçonaria, Moral
Data do texto: 05/02/2010