Os mitos dos intervencionistas?

Steven Horwitz

14 de Abril, 2015.

 Um dos mais perniciosos mitos na história econômica do século XX é a crença de que a Grande Depressão foi causada, ou pelo menos agravada, pelo compromisso dogmático do presidente Herbert Hoover com uma política de inação, de laissez-faire, em seguida à Quinta-Feira Negra. Este argumento é parte integrante do conjunto de crenças sobre a Grande Depressão que dei o nome de “versão ensino médio” desse evento. (Isso inclui as alegações de que o laissez-faire causou a Quinta-Feira Negra, a inércia de Hoover a agravou, o New Deal fez maravilhas, e da Segunda Guerra Mundial nos tirou da crise.) Esta afirmação sobre a dedicação de Hoover para com o laissez-faire é, como sugeri, totalmente falsa.

Herbert Hoover, na verdade, foi por muito tempo um conhecido progressista que favorecia muito mais intervenção governamental na economia. Desde os seus dias como chefe da U.S. Food Administration na Primeira Guerra Mundial até sua gestão como Secretário do Comércio na década de 1920, Hoover constantemente impulsionou suas crenças de que o laissez-faire não funcionava e que o Estado deveria assumir um papel mais ativo. Quando a economia caiu durante seu primeiro ano como presidente, não foi nenhuma surpresa que ele colocasse essas crenças em ação.

Hoover não só sancionou, como todos sabem, a tarifa Smoot-Hawley, como ele também incentivou os empresários a manter os salários elevados, aumentou a quantidade real de gastos públicos, reduziu a imigração para perto de zero, criou todos os tipos de facilidades de crédito da parte do Estado, e aumentou o déficit orçamentário. Paralelamente com o fracasso do Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos em fazer o seu trabalho, provocando uma desvalorização de 30 por cento na massa monetária, essas intervenções de Hoover foram responsáveis por transformar o que poderia ter sido uma recessão severa, mas curta, em uma Grande Depressão. Assim, a “versão ensino médio” da história está certa em culpar Hoover, mas o culpa exatamente pelos motivos errados.

A bem conhecida visão de Hoover

Como esse mito começou? As crenças de Hoover eram amplamente conhecidas antes de sua eleição. Na verdade, “em 1920 [Franklin] Roosevelt teria apoiado Hoover para a presidência, se este concorresse como um democrata.” Durante a presidência de Hoover, numerosos comentaristas destacaram seu ativismo. O próprio Hoover também o destacou em sua campanha presidencial de 1932 contra Roosevelt. Roosevelt também o reconhecia: parte de sua campanha foi um ataque contra a expansão de Hoover do déficit orçamental. Conselheiros de Roosevelt também entenderam o que Hoover fez: eles notaram que a maior parte do New Deal veio de programas que Hoover tinha começado.

Então, de onde vem o mito de Hoover como entusiasta do laissez-faire?

Eu não tenho uma resposta fácil para essa pergunta, mas é uma questão importante porque nós podemos muito bem estar no meio de um mito paralelo. É a crença de que os chamados “programas de austeridade” têm impedido as economias europeias, e talvez também a americana, de se recuperarem mais fortemente da Grande Recessão. Colunistas como Paul Krugman culpam o que eles veem como dramáticos cortes orçamentários (“austeridade”) nos países da União Europeia para as fracas recuperações e até mesmo as recaídas em recessões ao redor do mundo. Para Krugman isso prova que um ainda maior estímulo de estilo keynesiano é necessário.

Onde está a austeridade?

Diante deste argumento vários economistas liberais têm oferecido provas convincentes de que na verdade as reduções de gastos na Europa têm sido inexistentes ou muito pequenas. Em quase todos os casos, elas foram acompanhadas por aumentos de impostos que são desaconselháveis em uma recessão. Esses economistas também argumentam que a recuperação medíocre pode ser o resultado de diversas políticas adotadas por esses governos, como programas de estímulo no início da recessão e/ou as elevações de impostos associadas à suposta austeridade. Sem uma tentativa séria de resolver o problema dos crescentes custos de manutenção de seus caros programas sociais, os países da União Europeia (e os Estados Unidos) cedo ou tarde terão de pagar a conta. Sua relutância em enfrentar essa realidade não incentiva os investidores locais a assumirem riscos de longo prazo.

O perigo no momento é que o Mito da Austeridade se torne o equivalente ao Mito de Hoover para a atual Grande Recessão. O mal que o mito Hoover fez e faz está em todas as etapas da própria Grande Recessão: No outono de 2008, muitos argumentaram que qualquer coisa menor que a intervenção maciça que tivemos no inverno seria “Hooverismo” e nos empurraria para uma segunda Grande Depressão. Como vemos, o Mito da Austeridade é realmente apenas uma versão requentada do Mito de Hoover.

Quando pessoas como Krugman se acham diante do fracasso das ideias que têm vendido por décadas, em vez de enfrentar a verdade eles recuam aos mesmos velhos mitos. Assim como os defensores da intervenção na década de 1930 e 40 precisaram do Mito de Hoover quando o New Deal não cumpriu suas promessas, os seus equivalentes modernos precisam do Mito da Austeridade para explicar o fracasso de seu atual intervencionismo. Não há tarefa mais importante para os liberais de hoje que evitar que o Mito da Austeridade se imponha.

 

* Publicado originalmente em 04/06/2012.

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