tsmaia
Seo Antenor Bureco, lá das Cajazeiras era um cabra abarroado que só ele. Obstinado como quê. Teimava com todos. Ainda afirmava que não levava fácil, quaisquer desaforos para casa.
Certo dia, assobiando, distraidamente, montado em sua mula castanha, passeava pela redondeza que apreciava. Quando passava pelo sítio do Antônio Marques, em torno das três da tarde, sob um sol inclemente, ainda a pique, percebeu à sombra da frondosa mangueira o vistoso peru da fazenda ciscando, insistentemente, pelo chão.
Como se para saudar a bela ave, que por sinal o alegrava, realçou o assovio, e, com isso, atiçou imediatamente o conhecido borbotar do animal.
Como que desafiada a ave soltou um prolongado gorgolejo. O pirrônico viajante, prontamente, respondeu ao peru com um longo silvo. Por sua vez, o atento peru, não deixou por menos e replicou com o som que lhe é peculiar esforçando-se ao máximo para ser devidamente, e bem notado. O beradêro revidou com toda casmurrice que o distinguia…
Assim, o tempo foi passando. Anoiteceu. O nosso previdente Antenor já havia se apeado da montaria e providenciado o desarreamento da mula e não esqueceu de lhe colocar a mochila para que ela se alimentasse, enquanto se confrontava com o majestoso peru. Ele, de antemão, sabia que a contenda se estenderia por um tempo dilatado. Foi o que aconteceu…
Os dois se alternaram até a alta madrugada. Não obstante, o sibilo do Antenor, com o passar dos minutos e depois das horas reduziu-se de tamanho e o som foi se depauperando, até se transformar em sopro emitido quase imperceptível. Da mesma forma, ocorreu com o canto do peru, quanto a intensidade e altura do som.
Os dois foram magníficos e sustentaram a essa picardia, enquanto lhes permitiram o fôlego, a força dos pulmões e a vitória sobre o sono.
Afinal quem saiu vencedor? Que importa? Valeu a peleja, a disputa, a luta mesmo sem auditório nenhum.
Nosso personagem em tudo pertinaz e caprichoso encontrava-se na roda formada por hóspedes do relembrado Hotel dos Viajantes da Cidade Cedro, famosa Cedrinho de Açúcar onde estava instalada uma central da Rede Viação Cearense com suas famosas marias fumaças. A roda de amigos era, sempre, formada, depois de servida a boia hotel da hora da Ave Maria. De quitutes nordestinos, quando nunca faltava a manteiga de garrafa, a tapioca, o queijo de qualho novinho e os petiscos de milho verde. Sempre aromatizado, pelo vapor do característico Café de Baturité. Naquela tardezinha a conversa se animou sobre o clima do sertão. Chico Doutor, um engenheiro prático vindo das alagoas, (daí a razão do título profissional ser posterior ao nome) sustentava que a seca grassava em todo Nordeste como nunca, na vida.
Seo Antenor que estava amuado num canto, não se conteve e contrariou o engenheiro sem formação.
Tanto chovia, em todo lugar, que o rio Jaguaribe, que corta o Ceará de canto a canto, tido como o maior rio seco do mundo estava transbordando pra quem quisesse.
Chico Doutor retrucou de pronto: – Pois o Rio Jaguaribe tá é bem sequinho. Inté suas cacimbas cavadas no leito desse Rio tão negando um pingo d’água. Inda ontem vim de lá.
“Tá doido, home, pois o Rio tá é muito cheio como nunca teve”, disse o Antenor
E o bate-boca discordante iniciou, relembrando o buruçu com o peru e tantos e tantos outros.
E as controvérsias das comadres rendeu e rolou até a chegada do trem “Noturno” que ia de Crato a Fortaleza. Em Cedro ocorria uma parada mais longa pois as Máquinas a vapor eram substituídas e abastecidas. Nesse momento os dois arruaceiros tiveram uma ideia de que suas opiniões poderiam ser confirmadas in loco. Pegariam o trem que estava à frente deles e iriam até Iguatu por onde o Rio Jaguaribe passava. Viajariam durante uma hora por aproximadamente 60 km e resolveriam definitivamente a briga.
Concordaram as apostas foram feitas, os bilhetes foram adquiridos e embarcaram nos últimos vagões demonstrando um contentamento pela solução alvissareira.
Nem precisariam chegar à cidade destino, pois o trem cortava o Rio em questão um pouco antes. Nesse ponto as janelas foram abertas e os curiosos cm toda alegria deste mundo aclamaram:- o Rio tá seco! Como? Rebateram os partidários do Antenor. O Rio tá abarrotado. – Tá seco! – Tá Cheio! – Tá seco! – Tá Cheio! – Tá seco! – Tá Cheio! E o trem indiferente chegou onde parou na estação da cidade.
Os bons observadores percebiam a discussão, sem muito esforço: – Tá seco! – Tá Cheio! – Tá seco! – Tá Cheio! – Tá seco! – Tá Cheio!
Seguiram em direção ao Rio e sem descanso afirmavam: – Tá seco! – Tá Cheio! – Tá seco! – Tá Cheio! – Tá seco! – Tá Cheio!
Alcançaram a beira do Rio e ali percebia-se que as opiniões não ou pouco mudavam: – Tá seco! – Tá Cheio! – Tá seco! – Tá Cheio! – Tá seco! – Tá Cheio!
Finalmente, os dois gladiadores principais penetraram no leito do Rio e o Chico Doutor com um punhado de areia que apanhara do leito atirou no Antenor e aos berros informou! – “Bem que Eu disse que o Rio tava seco. A resposta do adversário foi igual e tremendamente perceptível. – “ Oh! Seu sacana de merda, não me molha Porra!
Isto ocorreu no dia 8 de maio de 45! Exatamente, no dia da Vitória dos aliados sobre os alemães! Sirenes, apitos estridentes e foguetes de todo lugar celebraram o ato. Noite a dentro. Hoje, depois de tanto tempo, pois a data completa 75 anos estamos refletindo enclausurados em nossas casas. Para alguns japoneses a 2ª Grande guerra não terminou. Para outros os russos ganharam a Guerra. Certas pessoas acreditam piamente que não: Foram os Americanos (só do Norte). Outros perguntam Que Guerra?
Seo Antenor, o digladiador que enfrentou um peru a sombra de uma arvore frondosa, aquele mesmo que travou um arranca rabo com o Chico Doutor das Alagoas sente-se realizado com o suporte que lhe dão vários admiradores, por onde perambula.
Como ele, tantos, mas tantos antenores deste mundo de meu Deus estão afirmando de pés juntos, dispostos a dar, pelo que dizem, a própria vida, se preciso, de “que a terra é plana…” “Que o holocausto é conversa pra boi dormir…” E sentimos o terreno movediço que formam por onde vão e estão, se alastrar aos nossos pés.
No seio de cada família, nas escolas de todos níveis, nas instituições e igrejas herdadas pois foram criadas por nossos antepassados com tanto ardor e amor, na sociedade, na política, no país inteiro temos que pisar com cuidados em chão movente para não sermos tragados e afogados, ali, porque não está clara a razão real do ódio que geram as desavenças.
“E o mais pió de tudo tá por vir”:- (com velocidade pavorosa) a confirmação de “que gente (gente?) tipo lula e dilma formam uma dupla petista maravilhosa (pela fineza, educação, grau de escolaridade, honestidade… Gente pacata, realizadora, solidária, benevolente, amável, competente) para reedificação de um país sempre dilacerado pelos que o governam… em todos os tempos
As opiniões insensatas e sem fundamento despertam curiosidade nas pessoas desprevenidas que ficam expostas a poluição verbal, por tempo indeterminado. Sino que tange, com chamadas repetitivas o que tornam esses (an)tenores, agradavelmente, convincentes, persuasivos bastante.