Francisco Ferraz, em Política para Políticos
19/04/2021
A política é sempre surpreendente. Nela as certezas costumam ser abaladas pelo imprevisível e as previsões frustradas pelos fatos não antecipados. Este foi o caso do discurso de Lincoln em Gettysburg.
É um discurso breve, no qual cada palavra escolhida preenche a sua função, para compor uma peça singular, que combina força com serenidade e sobriedade com esperança.
Este discurso extrapolou os limites da história americana, para constituir-se num dos marcos da história universal da luta pela liberdade. O discurso, instantaneamente célebre, tornou-se um dos mais citados de todos os tempos. Não obstante sua duração de 3 minutos…!
Mas tudo parecia conspirar para o discurso sair mal.
Para começar, Lincoln não deveria ter ido à cerimônia, Com o filho doente, sua mulher, num surto de histeria, exigia que ele ficasse em casa. Além disso, os organizadores do evento não estavam nem um pouco desejosos que Lincoln comparecesse, tanto que ele nem constava da lista dos oradores.
Concluída sua fala, Lincoln, decepcionado, comentou que o discurso tinha sido um rotundo fracasso.
O discurso
“Há 87 anos atrás, nossos pais criaram neste continente uma nova nação, concebida em liberdade e dedicada ao princípio de que todos os homens são criados iguais.
Agora estamos em plena guerra civil, sendo testados, se aquela nação, ou qualquer outra assim concebida e assim dedicada, é capaz de resistir e sobreviver.
Nós nos encontramos num dos grandes campos de batalha daquela guerra. Aqui estamos para dedicar uma parte deste campo como o repouso final daqueles que aqui deram a sua vida para que aquela nação possa sobreviver. (…)
O mundo não dará muita atenção, nem lembrará por muito tempo o que dissermos aqui hoje. Mas o mundo nunca esquecerá o que eles fizeram neste campo.
Somos nós, os que estamos vivos, que devemos dedicar-nos ao compromisso de completar a grande obra não concluída, que aqueles que aqui lutaram, com tanta nobreza fizeram avançar.
Somos nós que devemos nos dedicar à grande tarefa que ainda está diante de nós, de que estamos resolvidos a não permitir que estes mortos tenham morrido em vão, e de garantir que esta nação sob Deus possa ter um novo nascimento de liberdade, e de que aquele governo do povo, pelo povo, e para o povo não desapareça da face da terra”.
*Francisco Ferraz é
Professor de Ciência Política e Ex-Reitor da Ufrgs,
Pós-Graduado em Princeton É diretor do
site politicaparapoliticos.com.br