Como Stan Lee, que morreu aos 95, teve a ideia de criar o Homem-Aranha

12 novembro 2018
BBC Brasil

Seus heróis tinham poderes extraordinários, mas também dores de cabeça do dia-a-dia.

O homem por trás de roteiros fantásticos, com pitadas de realidade – uma fórmula revolucionária no mundo dos quadrinhos – foi o americano Stan Lee, que morreu nesta segunda-feira aos 95 anos.

 

Hulk, o Homem de Ferro, o Demolidor e o Quarteto Fantástico foram alguns dos frutos de sua imaginação fértil e carreira prolífica.

Em 2012, durante entrevista à BBC, Lee deu uma amostra de seu processo criativo ao contar como nasceu o Homem-Aranha, um ícone da cultura pop.

“Eu estava sentado, tentando pensar em uma ideia e vi uma mosca se arrastando na parede. Pensei: caramba, não seria legal se tivesse um herói que pudesse se movimentar pelas paredes como uma mosca?”, lembrou Lee.

Convencido dos atributos do herói em gestação, o artista precisava então batizá-lo.

“Pensei em ‘Homem Voador’, mas não soou dramático o suficiente. ‘Homem Inseto’? Não. Fiz uma lista e então cheguei a ‘Homem Aranha’. De alguma forma, assim soou um pouco mais amedrontador, mais impressionante”.

“Queria que ele fosse um adolescente, um cara diferente. Não um coadjuvante: ele seria o herói. Percebi que não o deixaria muito bonito, não tão bem sucedido com as garotas. Ele não tem muito dinheiro, na verdade ele não tem dinheiro o suficiente. É um órfão que vive com seus tios. Queria que a garotada pudesse se identificar com ele”.

Logo, o nerd Peter Parker foi transformado e ganhou poderes que o faziam se arrastar pelos arranha-céus de Nova York. Mas isso não fez desaparecer como mágica seus obstáculos em casa ou com as namoradas.

“Só porque ele é um herói e tem superpoderes, não significa que não tenha problemas”, disse Stan Lee à BBC.

Mas afinal, quais foram as dores e as delícias da biografia de Lee, o pai de Hulk e do Homem-Aranha?

Talento precoce, projeto autoral tardio

Nascido em 1922 em Nova York, filho de imigrantes judeus com origem na Romênia, Stan Lieberman conseguiu jovem um emprego na Timely Publications – uma empresa no ramo editorial de propriedade de um parente e que, capítulos depois, se tornaria a Marvel Comics.

Ele foi designado para o setor de quadrinhos e, graças ao seu talento, foi alçado ao cargo de editor aos 18 anos.

Por mais de 20 anos, ele trabalhou com histórias de crime, tramas no faroeste e qualquer outro formato que pudesse saciar o apetite de jovens leitores.

Palavras com mais de duas sílabas eram desencorajadas; personagens só podiam ser bons ou ruins – era preto no branco, sem tons de cinza.

Lieberman se via tão envergonhado por o que estava escrevendo que se recusava a colocar o nome real na autoria dos trabalhos. Ele assumiu seu “nome bobo”, Stan Lee, que posteriormente seria sua assinatura oficial.

Quando tinha 40 anos, Lee decidiu que era velho demais para o mundo dos quadrinhos. Sua esposa, Joan, sugeriu que ele não tinha nada a perder e deveria escrever histórias que ele realmente queria criar.

Depois que a rival DC Comics surgiu com um time composto por Batman, Super-Homem e Mulher Maravilha, a Timely precisava reagir.

A resposta de Lee em 1961 foi o Quarteto Fantástico: uma equipe de astronautas que ganhou poderes após ser bombardeada com raios cósmicos.

Eles mudariam a vida de Lee e a indústria dos quadrinhos para sempre. As cartas de fãs apareceram e começaram a se amontoar. Nasceram personagens e um novo nome para aquela empresa familiar: ela agora se chamava Marvel Comics.

Sucesso de bilheteria nas telonas

Hulk, Thor, o Homem de Ferro e outros heróis lutaram com problemas como abuso de drogas, fanatismo e desigualdade social.

Na vida real, Lee fez questão de dar crédito aos artistas responsáveis pelos desenhos nos quadrinhos. Jack Kirby, Frank Miller, John Romita e outros foram cultuados por obras com suas digitais.

No auge, a Marvel vendia 50 milhões de cópias por ano. Até se aposentar da edição em 1971, Lee escreveu todos os textos das capas da empresa.

Em 1999, sua empresa Stan Lee, criada com o objetivo de conjugar os quadrinhos com a internet, deu incrivelmente errado. Lee foi à falência e seu sócio foi preso por fraude.

Em 2001, porém, ele começou uma nova empresa chamada POW! Entertainment, que passou a produzir filmes e programas de TV.

Suas criações de décadas estão tinindo em poder nas telonas. X-Men, Hulk, Homem de Ferro e o Quarteto Fantástico ganharam tratamento hollywoodiano.

O Homem-Aranha protagonizou um grande sucesso de bilheteria, com o original de 2002 e sua sequência de 2004 arrecadando quase US$ 1,6 bilhão em vendas de ingressos em todo o mundo.

Mais recentemente, os três filmes do Capitão América, estrelados por Chris Evans, arrecadaram US$ 2,24 bilhões nas bilheterias mundiais. O Homem de Ferro, representado por Robert Downey Jr, conseguiu US$ 2,4 bilhões. O apelo da Marvel foi certeiro.

De quebra, os fãs ficaram encantados em ver as breves aparições de Lee em quase todos os filmes da Marvel.

O poder dos poderes: a sorte

Nos últimos anos, o roteirista lamentou a deterioração da visão – o que o impedia de ler os gibis com os quais fez seu nome.

À radio Times, ele disse que a capacidade de ler era o que mais sentia falta no mundo.

Na ocasião, ele apontou também aquele que considerava ser o poder dos poderes: a sorte.

Ele disse: “Toda vez que vou a um evento dedicado aos quadrinhos, pelo menos um fã me pergunta: ‘Qual é o maior superpoder de todos?’. Eu sempre digo que é a sorte, porque se você tiver boa sorte, a maior superpotência, tudo segue o seu caminho”.

 

Veja a integra
https://www.bbc.com/portuguese/geral-46189570

Facebook Comments

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *