BOCCA DELLA VERITÀ!

Boca da Verdade – A primeira máquina detectora de mentiras

Ir.’. Rogério Vaz de Oliveira

Entre todas as atividades humanas, a política provavelmente seja a que mais leva uma pessoa a mentir, é um lugar privilegiado para lorotas, isto todos nós sabemos. A cada eleição renovamos nossa certeza. Tanto é verdade que assim como existe a máxima “isso é conversa de pescador”, existe a do “isso é conversa de político”. A filósofa política alemã Hannah Arendt lembra mais de uma vez: “As mentiras sempre foram consideradas instrumentos necessários e legítimos, não somente do ofício do político ou do demagogo, mas também do estadista.”

Santo Agostinho em sua obra intitulada “Sobre a Mentira” (De Mendacio), disse: “Permanece, assim, que nenhum homem bom deve mentir”. Este tratado mostra de forma categórica o que o santo pensa sobre a mentira e o mentiroso, afirmando – “Eles são assassinos de si mesmos”. Neste raciocínio, como a mentira afeta a nossa vida? Um estudo de 1997 da Universidade da Califórnia do Sul, que afirmava que o ser humano mente, em média, 200 vezes ao dia. Já escrevia Machado de Assis, em Dom Casmurro: “(…) a mentira é muitas vezes tão involuntária como a respiração”.

O escritor russo Dostoievski, em seu Crime e Castigo, escreve: “A mentira é o único privilégio do homem sobre todos os outros animais. Mente, que vais acabar atingindo a verdade! É precisamente por ser homem que eu minto. Nem uma só verdade poderias alcançar se antes não mentisses quatorze vezes, e até cento e quatorze vezes, o que representa uma honra sui generis. (…)

Mentir com graça, de uma maneira pessoal, é quase melhor que dizer a verdade igual a todo mundo; no primeiro caso, se é um homem, e, no segundo, não se é mais do que um papagaio!” Em Roma há um grande rosto esculpido em mármore com a boca aberta, fica próximo à entrada da Igreja de Santa Maria em Cosmedin; é a “Bocca della Verità” ou a Boca da Verdade.

Os romanos utilizavam como tampa de esgoto, e reza a lenda que, na Idade Média, os maridos levavam suas mulheres até a Boca da Verdade e as obrigavam a meter suas mãos dentro dela. Se a mulher fosse infiel, imediatamente a Boca engoliria a mão, daí o nome. A lenda se espalhou, e a “Bocca della Verità” ficou sendo o tirateima, a primeira máquina detectora de mentiras da história.

O Brasil necessita com urgência de uma “Bocca della Verità”, pois a mentira é institucionalizada, os governantes mentem, os parlamentares mentem, os empresários mentem, os empregados mentem. Ao assistirmos os telejornais sempre paira a dúvida, esta versão da notícia é isenta de partidarismos?

O que estamos lendo nos jornais é verdadeiro? Ou é uma verdade maquiada para atender interesses de grupos políticos ou de empresários? Ao observarmos com atenção a escultura romana veremos que é horrenda, se ela engole ou não as mentiras, não podemos afirmar, é fato que sua face representa fielmente o amargor da decepção de ver que a verdade é desprezada e nem um pouco valorizada.

Coincidência ou não, do esgoto para o adro de uma igreja, a face de boca escancarada deveria dar uma passada por Brasília e ser colocada no centro da Praça dos Três Poderes, para que todos os integrantes do Executivo, Legislativo e Judiciário, passagem pela prova da “Bocca della Verità”.

Infelizmente teremos muitos, senão a maioria “manetas”. O que frustra qualquer brasileiro é a expectativa vazia de um futuro melhor, sabemos que nunca teremos uma máquina detectora de mentiras, sabemos que a matemática do governo é uma fórmula de multiplicar impostos, utilizando a subtração nos serviços básicos à população.

Pagamos para sustentar uma estrutura em franca derrocada e não possuímos uma contrapartida pelo que contribuímos. Sugiro o seguinte, já que não teremos uma “Bocca della Verità” que tenhamos uma boca para colarmos nossos Votos para cidadãos realmente comprometidos com o desenvolvimento do Brasil – “Bocca dell’urna”.

(*) Ir.’. Rogério Vaz de Oliveira
Relações Públicas, Sócio Correspondente das Academias Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul e o do Leste de Minas.

rogériovazbr@gmail.com

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