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Percival Puggina

 

Leio no Estadão

Cabe aqui um “mea culpa”. Permiti, e por fim aceitei, o instituto da reeleição. Verdade que, ainda no primeiro mandato, fiz um discurso no Itamaraty anunciando que “as trevas” se aproximavam: pediríamos socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Não é desculpa. Sabia, e continuo pensando assim, que um mandato de quatro anos é pouco para “fazer algo”. Tinha em mente o que acontece nos Estados Unidos. Visto de hoje, entretanto, imaginar que os presidentes não farão o impossível para ganhar a reeleição é ingenuidade. (FHC no Estadão, em 05/09/2020)

 

COMENTO

Sempre me surpreende a atenção que os grandes veículos da imprensa brasileira concedem às falas e aos escritos de Fernando Henrique Cardoso. Esse artigo chega com 20 anos de atraso.

Ele diz que “permitiu” e que, por fim, “aceitou”. Por tal depoimento quase sou levado a crer que FHC foi sujeito passivo de uma violência praticada contra sua vontade. Ora, por favor! A reeleição aprovada em 1997 lhe conveio e ele muito a desejou. O arrependimento pelo malfeito não apareceu na reeleição de Lula, não se manifestou na reeleição de Dilma. O remorso só começou a espicaçar a consciência do seu criador quando a balança da regra pendeu para o lado direito, afetando e mobilizando Bolsonaro e seus eleitores.

Assim vai a política brasileira, de arrependimento em arrependimento, sem atentar para sua ficha mais suja, incorrigível promotora de todas as crises: o sistema político imposto por Sarney à Constituinte de 1988.

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