Ubiratã Iorio.
09.05.2020
Em meio a um turbilhão de problemas, preocupações e incertezas políticas e econômicas, um verdadeiro pandemônio alimentado pela saída do ministro da Saúde e, poucos dias depois, aquela saída nada cavalheiresca do ministro da Justiça e Segurança Pública, tudo isso em tendo como cortina a enorme tensão provocada por confinamentos, máscaras, estímulos ao pânico, prisões de senhoras por caminharem em praias e ataques incessantes ao governo por parte da velha mídia, volto a dizer, em meio a tudo isso e como se fosse pouco, eis que se passou uma cena inacreditável.
Segundo revelou em primeira mão o site Poder360, repercutido depois por diversos órgãos de imprensa e nas redes sociais, o governador de São Paulo, do PSDB, telefonou para o ministro da Economia pouco depois impacto provocado pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Pública ao demitir-se no dia 24 de abril. Até aí, nem o Neves tinha morrido.
Mas, quando o governador sugeriu ao ministro que desembarcasse do governo federal, pois assim fazendo estaria “salvando sua biografia”, a chamada revelou-se uma cantada. E a resposta do ministro foi uma verdadeira pancada, segundo relatou a matéria. Eis o diálogo em toda a sua bizarrice:
Governador – Paulo, estou te ligando não como governador, mas como amigo. Quem sustentava o governo era o Sergio Moro e você. Agora, sobrou você. Você é muito admirado. Em nome da sua biografia, quero te dar um conselho: desembarque do governo agora.
Ministro – João, eu agradeço sua ligação, mas não sou eu que sustento o governo Bolsonaro. Quem sustenta o governo é o povo que elegeu o presidente. Ele tem 1/3 de apoio. E outro 1/3 que fica no meio do caminho depois vai apoiá-lo. João, o país vive 1 momento democrático que é barulhento, mas virtuoso.
Sobre a gravidade desse episódio, recomendo vivamente os comentários de Guilherme Fiuza nesse vídeo com o sugestivo título O homem e o rato.
Francamente, essa atitude do governador do estado mais importante do país é inadmissível, vergonhosa, constrangedora, uma verdadeira traição ao povo que o colocou no palácio dos Bandeirantes e de resto a todos os brasileiros que têm amor ao país.
Primeiro, pela absoluta falta de ética. Como uma autoridade estadual pede a uma autoridade federal para entregar o cargo e abandonar o governo? Isso não tem nenhum cabimento moral e nem jurídico. É uma cantada imoral, de envergonhar até o mais tosco paquerador.
Segundo, pela total falta de patriotismo. Como um homem com tamanha responsabilidade, como sói ser a de governar o grande motor da economia do país, e sabendo que o ministro da Economia vem adotando uma política correta e que, portanto, sua saída, em meio a tantas incertezas provocadas pela pandemia, seria muito provavelmente a bomba que faltava para desestabilizar de vez a economia, o governo e o país?
A resposta do ministro da Economia foi uma pancada na imoralidade e uma formidável patada na ausência absoluta de patriotismo de seu interlocutor, que não mostrou qualquer escrúpulo em manchar o mandato que os paulistas lhe conferiram, em rasgar a ética e em tentar desestabilizar o país, tudo para semear uma ainda impalpável candidatura à presidência, que só acontecerá daqui a mais de dois anos. Não posso afirmar, mas acho que o autor dessa iniquidade possa ter se queimado de vez.
* Doutor em Economia (EPGE/Fundação Getulio Vargas, 1984); Presidente-Executivo do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP); Diretor Acadêmico e Membro Honorário do Instituto von Mises Brasil (IMB); Editor-Chefe de MISES: Revista Interdisciplinar de Filosofia, Direito e Economia; Laureado com o Premio Intenazionale Liber@mente 2013, em Catanzaro, na região da Calábria (Itália)
Professor Visitante da Scuola di Liberalismo e Membro do Corpo Editorial da Rivista Liber@mente, da Fondazione Vincenzo Scoppa, de Catanzaro, Itália; Membro do Scientific Board da book chain “Il Liberalismo delle Regole”, com Dario Antisseri,
Flavio Felice e Francesco Forte, Roma, Itália