Alex Pipkin, PhD
Recentemente vi uma amiga postar, orgulhosa e sorridente, pomposa edição da magnífica distopia ? ”1984”, de George Orwell. Muito bom! Neste momento, porém, eu recomendaria fortemente outra distopia: o romance “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley.
Incrédulo, penso que o cenário mais real e provável para o qual estamos nos direcionado, é o da “doce” promessa coletivista, que tão bem descreveu Huxley.
Orwell retratou de maneira brilhante as mazelas do totalitarismo, e a luta de uma população para escapar do jugo autoritário, nefasto, violento e imoral do Grande Irmão.
No entanto, “1984” reflete ainda uma visão mais otimista do homem, ou seja, um ser autônomo, pensante, capaz de reconhecer a própria servidão, e baseado em princípios, lutar por sua liberdade individual num ambiente de ampla repressão e de profusão do medo.
Huxley, por outro lado, apresentou uma sociedade em que as massas eram manipuladas pelos prazeres modernos, pelas facilidades existentes, seduzidas por privilégios, tornando-se presas fáceis para o controle estatista.
A massa que não pensa foi “domesticada”, acabando por ser cúmplice de sua própria perda de liberdade. Como Huxley advertiu em seu livro, os homens viriam a “amar sua servidão”.
Orwell temia a escassez e a distorção de informações. Já Huxley, temia que os prazeres conduzissem a irrelevância das informações, à passividade e ao egoísmo.
Devo dizer que o nosso presente se assemelha muito com a promessa coletivista “bondosa” profetizada por Huxley.
Neste contexto, os indivíduos pouco se importam com suas individualidades; preocupam-se com as “dádivas” que devem vir do Estado responsável por suas vidas, distraídos da umbilical relação entre coletivismo e totalitarismo.
As pessoas ficam inebriadas pelo pão dado, por supostos direitos sem contrapartidas com responsabilidades e por privilégios, perdendo o interesse pela vigilância e pelas liberdades que são esmagadas pelas autoridades estatais.
Oh, liberdade! Basta analisar o ambiente atual para se assombrar com a retirada de liberdades com a Covid-19, com o cerceamento de opiniões nas redes sociais, e com o descaso com a ética na política, em que comprovados ladrões ou se candidatam à presidência ou mandam prender homens, até prova em contrário, honestos.
Numa sociedade coletivista inexiste liberdade, pois ninguém pode falar e agir em nome de um indivíduo único, que pensa e que age de acordo com seus planos individuais.
No coletivismo há, de fato, a morte da soberania individual, uma vez que o pequeno corpo de elite de governantes e de intelectuais no poder, odeia a individualidade e a competição.
A ideia do coletivo pressupõe o apagamento do ser individual racional e pensante, visto que são os líderes que pensam no projeto de poder e manipulam a massa que não pensa.
O ser individual pensante, por sua vez, é avesso ao controle, já que a individualidade sempre foi uma afronta ao projeto de cima para baixo.
É kafkiano, mas as pessoas não se dão conta da perda das liberdades individuais. A liberdade não cresce como uma árvore, ela foi e é conquistada.
Triste, muito triste que as pessoas estejam sacrificando suas próprias individualidades, como apontou Huxley, enquanto muitas esperam as migalhas de um coletivismo farsante.
Huxley e Orwell convergem num ponto: o coletivismo tem como destino certo a pobreza e o totalitarismo.
Alex Pipkin
Doutor em Administração – Marketing
pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração –
Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional
pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial
pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e
Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de
Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades.
Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul.
Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex,
Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da
FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor
de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.