Cristofobia existe —

 e precisamos falar sobre isso

 

 

Letícia Alves·
29 de Outubro de 2020

Daniel Chagas Torres, autor do livro A Cristofobia no Século XXI: Entendendo a Perseguição aos Cristãos no Terceiro Milênio, fala o que a mídia progressista tenta esconder: cristãos são as maiores vítimas de perseguição religiosa no mundo

Cristãos sendo mortos por terrorista na França. Em todo o mundo, 100 mil são assassinados por ano por causa de sua fé, de acordo com dados do Vaticano.

Igrejas sendo incendiadas no Chile. No Brasil, elas são pichadas, vandalizadas, roubadas. Imagens de santos são quebradas. O nome de Jesus Cristo é ridicularizado em filmes, séries e vídeos de mau gosto publicados no YouTube.

Segundo dados de 2013 — e temos motivos para acreditar que, de lá para cá, os números só aumentaram — os cristãos são alvo de 75% de toda a perseguição religiosa no mundo, segundo a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre.

Os números não mentem, mas a grande mídia, sim: apesar desses fatos, quem falar em cristofobia no Brasil é ridicularizado, mesmo que seja o próprio presidente. Em setembro, Jair Bolsonaro usou esse termo em discurso na 75ª Assembleia Geral da ONU e foi, em seguida, bombardeado por notícias que tentavam, em vão, esconder essa realidade.

Ainda há, porém, quem não se intimide. O oficial de Justiça Daniel Chagas Torres, de Fortaleza (CE), lançou em 2015 o livro A Cristofobia no Século XXI: Entendendo a Perseguição aos Cristãos no Terceiro Milênio. À época, nem mesmo as editoras católicas quiseram publicar a obra, por considerarem o tema “polêmico”.

Estudioso do assunto, ele decidiu pagar do próprio bolso a impressão e, por conta própria, conseguiu vender edições para pessoas de todo o Brasil e até de fora do país. No livro, ele fala não só sobre essa perseguição cruenta sofrida principalmente por cristãos que vivem na África, Médio Oriente e Extremo Oriente, mas dessa luta que travamos aqui na América Latina, contra leis absurdas, protestos violentos e tentativa de controle.

Católico, Daniel cita Efésios 6: “Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal nos ares”. E lembra que, embora vivamos em um país cuja liberdade religiosa é garantida na Constituição, devemos ficar alerta aos sinais. Se hoje eles queimam uma Igreja e saem impunes, que mal não nos farão amanhã?

Letícia Alves: Fale um pouco sobre o seu livro.
Daniel Torres:
 No ano de 2013, me veio uma inspiração, por intermédio de Nossa Senhora, e eu comecei a perceber que a literatura poderia ser uma excelente forma de evangelização. Eu nunca tinha me tocado disso. Então, o que eu resolvi fazer: eu resolvi ver qual seria um tema para poder evangelizar.

E falar sobre a perseguição dos cristãos na atualidade — porque a gente sempre falou da perseguição aos cristãos do ponto de vista histórico, do Império Romano, da Idade Antiga —, mas os fatos estavam demonstrando que a quantidade de cristãos sendo mortos e perseguidos na atualidade é em termos numéricos muito maior do que naquela época. E acontecendo hoje. A única coisa que me separava dessa perseguição era só eu pagar uma passagem aérea e ir lá ao Oriente Médio, à África Subsaariana, ao Extremo Oriente. Isso era o que nos separava de uma perseguição cruenta.

Então, eu comecei a perceber que a mídia não dava espaço para esse tipo de coisa, e eu vi que havia uma quantidade — muito pouca coisa, mas existia — de livros sendo escritos sobre isso em outras línguas. Há um grande diferencial do meu livro com relação até mesmo às obras internacionais: elas abordam os vetores da perseguição islâmica, da perseguição comunista e dois menos conhecidos, que são o fanatismo hindu e o budista. Mas existe uma outra forma, que é a busca de uma laicização fanática por pessoas do Ocidente.

Eu divido o meu livro em duas etapas: a da perseguição mais cruenta, que envolve assassinato, genocídio, tortura, perseguição, eliminação de direitos de liberdade religiosa; mas tem também a parte que diz respeito ao Ocidente, que é a má compreensão do Estado laico, uma secularização fanática que elimina a liberdade religiosa — e esse caso do Chile, de queimar as Igrejas, é um bom exemplo disso. Eu também abordo questões como o marxismo cultural, tento fazer uma análise da cristofobia também na América Latina, no Brasil.

Letícia Alves: Como o episódio do Chile se enquadra no conceito de cristofobia?
Daniel Chagas:
 É muito nítido. Esse episódio do Chile é fruto do marxismo cultural elevado a níveis fanáticos. Então, o pessoal da linha progressista iniciou as manifestações e teve uma ideia brilhante: “Faz um ano daquela primeira manifestação! Vamos comemorar? Vamos! De que maneira maravilhosa? Vamos incendiar igrejas!”.

Por que igrejas? Eu tenho essa resposta tanto do ponto de vista político quanto espiritual. Do ponto de vista político, quando a gente vai pegar a literatura marxista, eles sabem com muita clareza que o grande antídoto para as ideias progressistas e marxistas é o cristianismo, sobretudo a Igreja Católica, que tem uma organização mundial. Esse povo é inimigo disso. Se tem uma coisa que eles odeiam é a civilização ocidental criada pela Igreja Católica.

Já do ponto de vista espiritual, não é contra homens de carne e osso que nós lutamos, mas contra os principados e potestades que estão nos ares, contra os seres espirituais que estão do outro lado, os inimigos de Deus. E esse pessoal sabe que a Verdade está na Igreja Católica, é lá que está a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia. Não é a toa que eles a tem como o alvo preferencial. É lá que estão os sacramentos, os sacerdotes para absolver os pecados, está Jesus Cristo em Corpo, Sangue, Alma e Divindade.

Inclusive, é possível ver um paralelo muito forte com o satanismo nas pichações. Algumas dizem: “Morte ao Nazareno”. O que é isso senão algo satânico de tentar matar Jesus? Ninguém mata quem já está morto, você só mata quem está vivo. De certa forma, é como se esse pessoal reconhecesse que Cristo está vivo.

Letícia Alves: Saindo do Chile e vindo para o nosso país. Como você avalia a situação daqui?
Daniel Chagas:
 Quando a gente vai analisar a situação, sobretudo do ponto de vista jurídico de liberdade individual e religiosa, nós chegamos à conclusão de que os países que mais gozam de liberdade religiosa são os de origem cristã. Onde maior foi a influência do cristianismo, mais as pessoas gozam de liberdade religiosa. Aqui, a gente goza de liberdade religiosa: quem quiser montar a sua igreja, monta; quem quiser ser de religião de matriz africana, embora a gente saiba que nesse caso ainda há muito o que progredir em muitos aspectos, mas é muito diferente; quem quiser, legalmente vai poder abrir a sua igreja, seu terreiro de macumba. Isso não acontece com facilidade nos países islâmicos. Então, nós gozamos de mais liberdade religiosa, mas qual é o problema?

Nós sabemos que avança a passos largos, cada vez mais, influências anticristãs. Ora, é uma questão de lógica: se os regimes mais tolerantes são os cristãos, se eu elimino essa base, é evidente que eu estou eliminando a tolerância também. Aqui, na América Latina, recentemente nós tivemos problema com as Farc. As Farc são um movimento revolucionário marxista que dominou trechos muito grandes da Colômbia. Lá, quem vive sob a égide do poder das Farc, passa por perseguição.

Da mesma forma que a pessoa que mora no interior consegue olhar para o céu e perceber que vai chover, nós conseguimos ver que a perseguição está cada vez mais perto de nós. Eu mesmo já vi vários casos de perseguição. O “morte ao Nazareno”, aqui na capelinha da (avenida) 13 de Maio (em Fortaleza, Ceará), já foi pichada de “nem Deus, nem padre”. Isso é muito parecido com “Morte ao Nazareno”. Eu, na época, cheguei a chamar um amigo, o Felipe e nós compramos uma tinta e pintamos o muro.

Ou seja, as coisas vão subindo os degraus. Nós estamos em uma sociedade em que o cristianismo é ridicularizado em séries, em programas de televisão, em filmes. A arte, de uma forma geral, está sendo produzida de forma muito anticristã. A guerra é cultural. Se você vai ridicularizando o cristianismo, estigmatizando o cristianismo, as pessoas do senso comum vão começando a aderir a esse tipo de coisa.

Então, pode sim se aproximar uma perseguição aqui também. E no meu livro eu abordo um tipo de perseguição que acontece de forma progressiva. Começa aceitando uma coisinha até que chega a um ponto que as agressões aos cristãos não são punidas, que sedimenta a autoestrada para a perseguição cruenta. Eu estou muito atento a esse caso do Chile porque eu quero saber: vão atrás de quem fez isso? Porque quanto mais os caras se sentirem impunes ao fazer esse tipo de coisa, mais vai haver um encorajamento. E existe uma possibilidade muito grande — já que o movimento progressista é global — de que haja uma exportação disso. Então alguém mais radical daqui vai querer replicar o que houve lá.

Letícia Alves: Sempre que alguma pessoa de renome fala sobre cristofobia, essa pessoa é ridicularizada. A grande mídia diz que não existe cristofobia. Por que isso acontece?
Daniel Chagas: 
Primeiro, nós precisamos tratar de uma questão mais conceitual sobre cristofobia. Nós vamos entender cristofobia exclusivamente como a morte de cristãos? Quando nós conversamos com qualquer pessoa que fale a respeito de homofobia — para usar um termo semelhante muito defendido pela mídia e pelo pessoal da esquerda —, ela considera como homofobia só a morte de homossexuais? Eu tenho certeza de que não. Se eu pegar uma bandeira LGBT e queimar no meio de uma parada gay isso é homofobia ou não? Eu tenho convicção de que vão dizer que é.

Se isso é homofobia, eu pergunto: quando tem um encontro como o da Jornada Mundial da Juventude, com três, quatro milhões de católicos e vai um grupo de pessoas levar crucifixos e imagens de Nossa Senhora e enfiar isso no ânus e quebrar essas imagens, isso não é cristofobia? Eu acho que é. O que acontece é que a mídia tem um viés, que é progressista.

É uma questão conceitual. Eu acho que não se encerra a questão da cristofobia na morte de cristãos, mas mesmo que a gente tratasse assim, é uma ignorância as pessoas dizerem que não há cristofobia no mundo. Graças a Deus no Brasil, na América Latina e no Ocidente em geral nós gozamos de alguma liberdade religiosa. Agora, quando você vai pegar os dados você vê que, em média, morrem 100 mil cristãos por ano por não negarem sua fé. Isso dá mais ou menos um cristão morto a cada cinco minutos, quando você faz o cálculo.

Quando você vai para os dados, quando pegamos a perseguição dos cristãos no mundo inteiro — e esses são dados da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, do Vaticano e de alguns outros estudos —, você vê que 75% de toda a perseguição religiosa no mundo acontece contra cristãos. Existe perseguição contra os mulçumanos? Existe, na China, existe perseguição contra eles; existe perseguição contra os budistas? Existe também; existe perseguição aos hindus? Existe. Mas todas as religiões, juntas, sofrem 25% da perseguição, os outros 75% é contra os cristãos. E quando nós vamos falar a verdade, eles viram negacionistas, dizendo que cristofobia não existe. Existe, sim. Existe muito.

Letícia Alves: Aqui no Brasil, há o surgimento de regras e leis para burocratizar essa discriminação. Um exemplo foi a tentativa do ministro do STF Edson Fachin de condenar o que ele chamou de “abuso religioso” nas eleições, sem deixar claro o que seria esse abuso. O senhor acha que esse pode ser um caminho de perseguição aos cristãos por aqui?
Daniel Chagas:
 O problema reside justamente na elasticidade dos conceitos. Por exemplo, querem a todo custo passar a legislação de combate à homofobia. Quem de nós, cristãos, apoia o assassinato de homossexuais? Ninguém. Se a legislação da homofobia trouxesse uma pena rigorosíssima para as pessoas que agredirem e matarem homossexuais, nós, cristãos, estaríamos completamente a favor dessa lei, porque eles são filhos de Deus, são nossos irmãos e muitos deles fazem parte da Igreja, são cristãos também. O problema é que quando vão elaborar a norma penal eles não fazem de uma forma delineada, colocam conceitos amplos, e aí você fica sem saber o que é homofobia e o que não, deixando margem para que um intérprete da lei, um juiz, um promotor, enxergando homofobia onde não tem homofobia.

Eu vou dar um exemplo prático, que aconteceu aqui na Igreja de Fátima (em Fortaleza, Ceará). Um casal homossexual chegou no batizado querendo ser padrinho de uma criança, e o padre teve que, com todo o jeito, dizer que não ia ser possível, porque o Código de Direito Canônico da Igreja não permite. É uma diretriz que existe dentro da Igreja, mas e se esse casal se sentir discriminado e for ao Judiciário e encontrar um juiz que entenda que isso é discriminação? Ou, pior, se isso chegar ao Supremo Tribunal Federal (STF), que tem o poder de impor sua posição às instâncias inferiores?

Da mesma forma, essa questão do abuso religioso. O que quer dizer isso? Você tem que delinear. Porque um religioso, cristão, é mais ou menos cidadão pelo fato de ser cristão? Não, não é. A Constituição me garante o direito de liberdade religiosa e, além disso, a religião confere a todos nós o direito de fazer proselitismo das nossas opiniões e da nossa fé. Eu tenho direito de tentar convencer os demais de que eu estou certo, isso é constitucional. Eu posso evangelizar, se eu quiser. Por que o religioso não poderia usar sua fé (na política)?. Essa é uma má compreensão do Estado laico, essa visão secularista fanática. Os religiosos não podem ser expulsos da arena política, eles são cidadãos. 

Nós vivemos em um país de democracia, e estado laico significa que o Estado não terá uma religião oficial, mas não pode ter aversão à religião. Um país comunista é laicista, ele tem essa aversão, ele não quer que haja prosperidade de nenhuma religião. Não é isso que o Brasil é, pelo contrário. Aqui, eu poderia mostrar na minha plataforma política que sou católico e que defendo os princípios básicos que todo católico deve defender do ponto de vista político: a defesa da vida desde a concepção até sua morte natural, o direito dos pais educarem seus filhos e a união entre homem e mulher. São os princípios inegociáveis de que falava o Papa Bento XVI.

Como é que eu não vou poder dizer isso numa plataforma política se é a coisa que é mais cara para a minha vida? É claro que eu posso. É impossível eu separar o Daniel oficial de justiça e o Daniel cristão. Eu sou uma pessoa só, com meus valores, com minhas crenças.

Letícia Alves: O livro está esgotado?
Daniel Chagas:
 Eu ainda tenho poucas unidades. O digital não vai acabar nunca, enquanto a Amazon deixar disponível. Já sobre o físico, eu tive muitas dificuldades nas editoras. É até uma crítica que eu faço aqui às editoras cristãs, católicas. Quando eu escrevi, eu fui a uma editora e mostrei o livro. Eu aceitaria que me dissessem que a livraria precisa pagar suas contas e que tem como política publicar autores mais conhecidos, com retorno garantido. Isso eu entenderia. Mas eu cheguei a ouvir de uma dessas editoras o seguinte: ‘Eu acho melhor você procurar uma editora secular porque senão fica parecendo que você está fazendo uma defesa da fé”. Aí eu fiquei: “Mas eu estou fazendo uma defesa da fé”. Afinal, qual é a finalidade de uma editora católica?

Eu fiquei numa situação em que eu escrevi o livro e ele estava se desatualizando. A primeira edição quase sai sem o Estado Islâmico. Eu tive que parar, estudar o Estado Islâmico, e incluir. Aí resolvi com minhas próprias expensas imprimir o livro. E percebi que havia público para isso. Fiz uma segunda edição, e fico fazendo sob demanda, já que não tem uma editora maior para fazer. Eu nem sei quanto esse livro conseguiria atingir se tivesse nas livrarias. O que eu posso dizer é que eu não só cobri os custos que eu tive como até um lucro pequenininho eu acabei tendo, e a finalidade disso não é lucrativa.

— Quem se interessar pelo livro, pode comprá-lo em formato digital na Amazon ou pedir o livro físico diretamente ao Daniel Chagas Torres pelo WhatsApp ou e-mail:
(85) 98898-8178


doutoradodaniel@gmail.com 

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