Evo Morales e Sebastian Piñera têm pouco em comum. O primeiro, mandatário da Bolívia até o último fim de semana, é um político esquerdista, de origem indígena, ex-agricultor de coca. O segundo, atual presidente do Chile, é um empresário branco milionário e de centro direita.
Ambos enfrentaram nas últimas semanas massivas manifestações populares em seus países, com um saldo sangrento de mortos e centenas de feridos, além de destruição urbana. No último domingo, enquanto Evo renunciava ao posto, Piñera chamava uma constituinte para tentar deter a instabilidade social.
É certo que, tanto em um caso, como no outro, há elementos muito particulares que explicam a crise enfrentada pelos países.
No caso boliviano, ignorando um referendo popular que o vedava de concorrer a um quarto mandato, Evo não apenas saiu candidato, como se sagrou vencedor em primeiro turno – em eleições que a Organização dos Estados Americanos (OEA) afirma terem sido fraudadas e que estão agora anuladas.
No caso chileno, apesar das manifestações populares terem tido como ponto de ignição o anúncio de um aumento do preço das passagens de metrô, foi a baixa rede de proteção social pública, que tem levado aposentados à miséria, que forneceu o combustível ao levante social.