Charles Evaldo Boller
A Polidez é definida como o caráter ou a qualidade do que é polido e gentil. É também a forma do discurso que indica cortesia e civilidade daquele que fala, ao que este se esforça no uso de expressões que atenuam o tom autoritário, imperativo e outras fórmulas de etiqueta linguística.
Partindo do princípio que uma virtude não é natural, mas uma qualidade desenvolvida ao longo do crescimento individual, conclui-se que, do ponto de vista moral, a Polidez é também virtude.
Como exemplo: o que acorreria com as quatro virtudes cardeais: justiça, prudência, temperança e coragem, se o indivíduo não é polido ou destituído de qualquer educação ou cortesia? Seriam inúteis! Sem a educação e o respeito não há como desenvolver nenhuma outra virtude.
E como a Polidez é algo de aparente pouca importância, é neste “quase nada” que reside seu mérito.
Quando o aprendiz maçom conhece suas ferramentas simbólicas: o malho, o cinzel e a régua, de que poderão lhe servir sem a Polidez? Não basta ser apresentado a estas ferramentas sem que pratique seu uso com maestria. É necessário que se eduque em afabilidade, carinho e civilidade para que o conhecimento e a prática possam nortear sua busca em polir seu grande templo interior. A delicadeza é, como a cortesia, a flor da humanidade.
Como o polirá com as outras ferramentas que vir a conhecer no futuro sem que seja finamente educado para isto? Em nenhuma circunstância são as ferramentas colocadas nas mãos do inexperiente sem treinamento. Como poderá fazê-lo sem Polidez?
O uso do malho, que representa a força bruta, a vontade que executa deve apenas ser firme e perseverante. Emblema do trabalho que fornece a força material, para alegoricamente desbastar a pedra bruta e educar, polir, a agreste e inculta personalidade das coisas maçônicas para uma vida ou obra superior.
Sem o malho não poderia trabalhar a pedra bruta. Sem a vontade do malho não poderia exercer o livre-arbítrio do cinzel. Simboliza a vontade ativa, energia, decisão, o aspecto ativo da consciência do aprendiz, o membro viril, reprodutor, da força, da vontade; da iniciativa, da perseverança, símbolo da inteligência que age, persevera, dirige o pensamento e anima a meditação daquele que, no silêncio de sua consciência procura a verdade.
Não é instrumento de criação, mas de desbaste, ele retira e não coloca.
Em sua ação de autodesbaste, retira as primeiras e grosseiras arestas de sua personalidade. Sua ação é forte, decisiva e dolorosa. Age de forma descontinua, num esforço inconstante, pois pressão continua no cinzel tira a sua precisão.
Usar o malho com mestria significa derrubar obstáculos e superar dificuldades. O resultado é a realização prática. Relacionado com a energia que age e a determinação moral.
Com a Polidez, os resultados têm beleza, delicadeza, sutileza e demonstram o intelecto por trás da ação. Empunhado pela mão direita, lado ativo, é também insígnia do comando. Não é massa metálica, pesada e brutal. A vontade não deve ser de obstinação ou teimosia, mas o emblema da lógica, sem a qual não se raciocina corretamente, e por isto mesmo, não pode ser dispensado por nenhuma ciência.
O malho é inseparável do cinzel para talhar, desbastar a pedra bruta. Representa o intelecto. Do ponto de vista intelectual concorrem para o mesmo objetivo. Exemplo de dualismo construtivo, positivo e eficaz o cinzel é o símbolo do trabalho inteligente. Corresponde ao aspecto passivo da consciência, indispensável para descobrir as protuberâncias ou falhas da personalidade. Seu uso é quase nulo sem a ajuda do malho. É usado para trabalho mais bruto, no alicerce de uma construção, um trabalho básico.
Exige a participação de outra ferramenta porque sozinho nada poderá executar. Assim é a inteligência humana que isolada nada constrói: necessita da parte operativa, de esforço maior. Corresponde a penetração, discernimento e receptividades intelectuais.
A lógica torna o homem independente. Sem sua intervenção seria inútil, senão perigoso. Representa as soluções aprisionadas no espírito.
É o emblema da escultura, da arquitetura e das belas artes. Imagem da causticidade dos argumentos que permitem destruir os sofismas do erro. Seguro pela mão esquerda, lado passivo, corresponde à receptividade intelectual, ao discernimento especulativo. O aço aplicado sobre a pedra serve de intermediário entre o homem e a natureza. Deve ser afiado continuamente: exige constante aporte de novos conhecimentos, para não embotar.
Para polir, desenvolver a qualidade da Polidez é necessário desenvolver o uso conjunto destas duas ferramentas. Mas o trabalho ainda não tem precisão, falta-lhe algo que forneça exatidão, para poder ajustar-se perfeitamente uma pedra na outra na construção do templo interior. Aí entra outro instrumento de trabalho, a régua de vinte e quatro polegadas: antigo símbolo de retidão, método e lei; símbolo de precisão e exatidão na ação. Emblema da disciplina, moral, exatidão, justiça. Simboliza que o aprendiz deve seguir através de um caminho retilíneo, uma conduta reta, sempre em frente. A marcha do aprendiz maçom representa os seus passos adentrando ao templo e devem ser retos e decisivos em direção ao oriente. Serve também para a medida do tempo. Que as vinte e quatro horas do dia devem ser usadas na ação e ociosidade de forma equilibrada. Simboliza gastar bem o tempo na meditação, estudo e ociosidade, recreio e repouso. Todas as horas a serviço da humanidade.
Quem não for bastante delicado e cortês não pode ser muito bom. Cerimônias são diferentes em cada país, mas a verdadeira cortesia é igual em todos os lugares. A Terra se tornaria inabitável, se cada um deixasse de fazer por Polidez o que é incapaz de fazer por amor. O mundo seria quase perfeito, se cada um conseguisse fazer por amor o que faz só por Polidez.
A cortesia faz a pessoa parecer por fora como deveria ser por dentro. Todo o mundo vê o não visto em proporção à claridade de seu coração e isso depende do quanto ele o tenha polido. Quem mais poliu, vê mais formas invisíveis que se manifestam a ele.
Assim como a cera, naturalmente dura e rígida, torna-se, com um pouco de calor tão moldável que se pode levá-la a tomar a forma que se desejar, também se pode, com um pouco de cortesia e amabilidade, conquistar os obstinados e os hostis.
A polidez é virtude que deve acompanhar o franco maçom em toda a sua estrada pela vida para se tornar digno na honra que presta ao Grande Arquiteto do Universo.
CHARLES EVALDO BOLLER –
engenheiro eletricista e maçom de nacionalidade brasileira.
Nasceu em 4 de dezembro de 949 em Corupá, Santa Catarina.
Loja Apóstolo da Caridade 2 Grande loja do Paraná
Curitiba
Área de Estudo: Cultura, Educação, Maçonaria