Mulheres invencíveis:
14 de abril de 2020
Você sabia que, nos anos 60, “os computadores usavam saias”? Pelo menos é o que Katherine Johnson, matemática, física e cientista espacial norte-americana que ajudou a NASA a levar o homem para a lua, costumava afirmar – e você não vai duvidar disso.
Nascida no ano de 1918 em West Virginia, Katherine Johnson faleceu em 24 de fevereiro de 2020 com 101 anos. Antes disso, porém, deixou um grande legado com contribuições técnicas fundamentais para o avanço da aeronáutica e da exploração espacial.
Além da vida longa e memorável, a chamada “computador humano da NASA” também se destacou por ser uma mulher negra trabalhando para a maior agência espacial dos Estados Unidos em uma época na qual o racismo vivia um dos seus ápices, o Apartheid. Justamente por todas essas razões é que Katherine Johnson merece ser lembrada como uma mulher invencível.
Vida e trajetória
No dia 26 de agosto de 1918 nascia, na cidade de White Sulphur Springs (EUA), Katherine Coleman Goble Johnson. Filha de Joshua e Joylette Coleman, seus pais enfatizavam a importância da educação para seus 5 filhos. Na vida de Katherine, a consequência é notável: ela começou o ensino médio quando tinha apenas 10 anos.
Aos 15, entrou para a Universidade Estadual de West Virginia, onde se graduou em Francês e em Matemática com honras máximas. É difícil encontrar uma biografia de Katherine que não fale sobre sua paixão por números e ela mesma costumava dizer que, ainda criança, já havia contado tudo: desde de o número de pratos no armário de sua casa até o número de passos que dava cada vez que saia a pé.
Quando completou a faculdade, aos 18 anos, começou a dar aula em uma escola pública para negros (na época, havia uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos de separar as escolas e universidades para negros e brancos). Por lá, ela permaneceu até se casar e ter filhos.
Foi somente no ano de 1952 que Katherine fez sua inscrição para trabalhar na NACA, agência espacial norte-americana antecessora da NASA. Na ocasião, ela não foi aceita, mas sua persistência não a deixou desistir e, no ano seguinte, a matemática entrou para o novo time da NASA.
Depois de apenas duas semanas, já recebeu tarefas importantes como investigar os erros matemáticos que resultaram na queda de um avião, por exemplo. Por ter estudado bastante geometria, Katherine usou desses conceitos para viagens espaciais e descobriu os caminhos para a sonda orbitar a Terra e pousar na Lua.
Há, inclusive, um episódio icônico durante a missão que tornaria John Glenn o primeiro norte-americano a entrar em órbita da Terra: quando estava prestes a pegar seu “vôo”, o astronauta questionou se os cálculos da missão haviam sidos checados “pela garota”.
A garota era, claro, Katherine Johnson que, na época, tinha 44 anos. Ela confirmou todos os números a mão e, então, John disse: “Se ela afirmou que os números estão certos, estou pronto para ir”. E a missão foi um sucesso.
Ela também calculou a trajetória da missão Apollo 11 – o voo espacial tripulado norte-americano responsável pelo primeiro pouso na Lua – e a janela de lançamento do Projeto Mercury, o primeiro projeto tripulado de exploração espacial da NASA que pretendia estabelecer a superioridade dos Estados Unidos no espaço e derrubar as conquistas espaciais soviéticas.
Em 1960, Katherin assinou seu primeiro relatório para a NASA, tornando-se a primeira mulher da sua área a receber créditos por um relatório de pesquisa. Foram 33 anos de contribuição, nos quais ela escreveu 26 relatórios espaciais e participou da realização do Ônibus Espacial e do Satélite de Recursos Terrestres.
Aposentada somente aos 68 anos, Katherine ainda acostumava ressaltar que adorava ir trabalhar todos os dias. Não à toa, em 2017, ela recebeu uma homenagem da NASA: um prédio com o seu nome: o Centro de Pesquisa Computacional Katherine G. Johnson.
Mulher afro-americana nos EUA
Johnson era afro-americana e fazia parte de uma equipe de mulheres negras que trabalhavam no Centro de Pesquisa Langley e que sofriam uma dupla segregação. Enquanto mulheres brancas eram segregadas dos matemáticos e engenheiros da agência, as mulheres negras tinham escritórios, restaurantes e banheiros distintos de todo o resto.
Dentro das instalações de NACA, existiam placas que indicavam quais banheiros as mulheres e os afro-americanos poderiam usar. No entanto, sem perceber, Katherine usava um banheiro “para mulheres brancas” desde a sua chegada e, quando percebeu o “erro”, nada fez para mudar.
A matemática também chegou a ser o único membro negro da equipe da Divisão de Pesquisa de Voo, em que ajudou a calcular as forças aerodinâmicas nos aviões e se destacou, mais uma vez, por seus conhecimentos em geometria.
E a vontade de saber mais só crescia. Foi por isso que tanto insistiu para se juntar às reuniões e briefings científicos com os engenheiros da NASA que permitiam, até então, apenas a participação de pessoas do sexo masculino. Obstinada, a matemática questionou se existia uma lei que proibia a presença de mulheres e, a partir disso, seus colegas passaram a incluir Katherine e outras mulheres em suas reuniões.
Katherine quebrou barreiras raciais e sociais, mas mantinha a humildade: “Eu não tenho um sentimento de inferioridade. Nunca tive. Sou tão bom quanto qualquer um, mas não melhor”.
Estrelas Além do Tempo
A história do grupo de matemáticas negras da Nasa foi contada no filme “Estrelas além do tempo” (“Hidden Figures”, título original), de 2016, baseado no livro biográfico de Margot Lee Shetterly. Na obra, Katherine foi interpretada pela atriz Taraji P. Henson, sendo a figura central do filme.
O longa foi indicado a três Oscars, incluindo Melhor Filme. Na época, Katherine estava com 98 anos e esteve na premiação e, mesmo não tendo levado a estatueta, foi aplaudida de pé quando apareceu no palco com o elenco da obra.
Agora que você conhece a história de Katherine Johnson e sabe porque os computadores usavam saia, que tal inspirar os pequenos dando a eles (ou à elas) um desenho de colorir da “computador humano” da NASA? Divirtam-se!