Maria Bunita

tiberio sá maia

… muié de cangaceiro
Não tem medo de careta
Quando vê a coisa preta
Sai rolando pelo chão
Bota o dedo no gatilho
Toca fogo no sertão
Tenente perde a patente
Coronel perde o galão*

Taí, conforme o nome que ganhou, na mais tenra idade, pelo mais puro merecimento desse mundo de meu Deus, Maria Bunita foi uma mulher do Nordeste, reconhecidamente, bela e de acordo com o que se propalava, assustadoramente corajosa.

Não obstante, a láurea de rainha que conduzia, não lhe fazia justiça, ainda que, andasse coberta de riqueza de pedras e joias raras que notavelmente, exibia.

Porque as joias nunca lhe pertenceram. Nem foram pelo grande valor que possuíam, dignas de lhe tornar uma mulher um pouco melhor e mais merecedora de consideração.

Opalas de fogo; quartzo facetado; turmalinas; sodalitas; ametistas; citrinas; os diamantes; os medalhões de ouro. Todos objetos roubados. Todos arrancados ou tirados da posse de algum imprudente.

As trovas e os versos criados em torno de Lampião eram de que se tratava de um ladrão que roubava ladrão e por isso, lhes tocavam os decantados cem anos de perdão. Não, não eram. Estas trovas e estes versos eram mais uma daquelas estórias contadas, pra boi dormir. Conheço uma grande parte de conterrâneos muitos deles amigos de minha infância que abomina a péssima índole dessa pessoa que expressou tanta malvadeza e perversidade. Ser sem a menor piedade, desprezível e depravado.

Nem todos os que sofreram os ataques de Lampião eram coronéis de fazenda, birrentos; teimosos, insistentes avessos ao nosso povão; como pintam os nossos contadores de história. Como se sabe, há os donos de terras, bonzinhos, agradáveis que são resguardados pelos padres Ciços da vida. E por alguma razão, Lampião adorava o Beato do Juazeiro Norte, tinha por ele enorme respeito e era incapaz de bulir com qualquer um daqueles que lhe fossem queridos.

Porém seu bando de forasteiros causou muitas tragédias a pessoas que lhe serviram. Há os casos de saques a comerciantes e funcionários municipais humildes. Há, nisso tudo, muita gente honrada, proba que nem lhe era conhecida. Há casos escandalosos que praticaram em festas realizadas por onde passaram. Há assaltos inexplicáveis a construtores da Rede Viação Cearense, em momentos em que estavam consagrados ao trabalho daquela Rede no estado paraibano. Desses foram tirados até partes do vestuário.

E consta que Maria Bunita participava de todas as operações criminosas do cangaço de arma em punho. Ativamente.

Mas se estava sempre disposta a brigar, não tinha a menor capacidade de liderar as outras cangaceiras e causava obstáculos com os problemas de relacionamento no grupo. Sua principal rival, queixava-se das estridentes risadas e das repreensões em termos violentos quando ela esbraveja. Nada que condissesse bem a qualquer mulher, que procura posições nobres. Certo jornalista publicou que Maria Bunita se cuidava mal e citou suas unhas maltratadas. Estes fatos são insuportáveis para uma mulher Nordestina que se preza e objetiva destaque em seu meio.

Olê
Mulher rendeira
Olê
Mulher rendá
Tu me ensina a fazer renda
Que eu te ensino a namorar

* Diana Pequeno / Zé do Norte / Zé Martins 

 

 

 

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