Anestor Porfírio da Silva
Mestre Instalado da ARLS “Adelino Ferreira Machado”
Hidrolândia – Goiás
Não se trata de novidade a palavra “achismo”. Já tinha ouvido sua citação por eloquentes oradores, mas confesso, nunca me tinha atentado em saber o seu real significado até que, certo dia, ao ouvir, mais uma vez, alguém afirmar que “pau é pedra,” só porque, na sua concepção, o fato era tido como verdadeiro, dei-me conta rapidamente de que a conotação daquela palavra não me era assim tão estranha, mas, ao contrário, eu já vinha convivendo, havia algum tempo, com o que o “achismo” significa.
O citado vocábulo tem, como sentido, a convicção de quem, de modo irresponsável, sustenta um fato tipificado em norma ou em instruções similares, de outra forma baseando-se em meras suposições.
Ele retrata uma cultura que, a despeito da incerteza, leva o indivíduo a crer que o modo como os fatos devem ser corretamente interpretados não seja o da interpretação das regras que o tipificam, o do conhecimento da verdade, mas o que se baseia no autoentendimento e na convicção pessoal.
É o vocábulo que se atribui às pessoas que fazem comentários ou sustentam posições com pontos de vista definidos, com argumentação firme, porém, sem propriedade. Por isso, o “achismo” é a demonstração do falso conhecimento.
É o erro que alguém comete em afirmar convictamente algo que acha ser verdadeiro, correto, com base apenas em suposições. Com todo esse arcabouço em torno de si o “achismo” ainda se completa passando-se por mecanismo ilusório, enganoso acerca da verdade.
Se prestarmos um pouco mais de atenção no comportamento das pessoas quando estão fazendo parte de uma reunião, de uma assembleia, de um plenário etc., notaremos, com facilidade, quem é “achista” entre os que fazem uso da palavra.
Ele, normalmente, é o que mais pede aparte e, por consequência, é o que mais vezes faz uso da palavra tentando assim persuadir os que o ouvem a aceitarem seus argumentos.
Embora incorporando o falso juízo da verdade, por não ter conhecimento absoluto do conteúdo daquilo que afirma, o “achista” é sempre categórico na sustentação de seus argumentos, da maneira que os supõe ser, por considerar os que o ouvem, como menos esclarecidos.
Mas, na escala dos valores intelectuais essa situação acha-se invertida, pois o “achista” é aquele que acha que sabe, porém, o suporte, o ponto de apoio daquilo que ele pensa, nunca é o conhecimento, mas as conclusões a que ele chega, segundo sua própria convicção.
A prova disso são as evidências. Certo dia, em uma loja maçônica interiorana, realizava-se uma sessão em que, na ordem do dia, tratavam os irmãos da “filiação” de um candidato oriundo de outra loja, portador de “quite placet” não vencido (o maçom só se torna irregular depois de vencido o prazo de validade do seu “quite placet”), quando alguém, invocando claramente o princípio do “achismo”, levantou a voz para dizer que o processo em discussão deveria ser tratado como “regularização” e não “filiação.”
Diante do que foi dito, o desenrolar dos trabalhos, que até àquele momento era normal, tumultuou-se, de repente, em meio a inúmeros apartes. Muitos falavam, fazendo uso do “achismo.”
Outros tantos, os eruditos, falavam citando bases legais como argumentos de seus pontos de vista e, só depois de um bom tempo de acalorado debate, concluiu-se, acertadamente, que o caso tinha mesmo que ser tratado como “filiação.”
Naquele dia muito se trabalhou e pouco se produziu. Houve perda de tempo por conta de uma intervenção inócua, desprovida de cunho legal e motivada pelo exercício do chamado “achismo”, tendo sido seu protagonista o responsável pela grande confusão, pela discussão desnecessária o que, no final, quase levou ao erro os que se encontravam no caminho de um trabalho sério, justo e perfeito.
Em nome da vaidade muitos querem reverberar refletindo falsa sabedoria.
Este fato parece coisa banal, de pouco interesse, mas, quando se refere a trabalhos litúrgicos da maçonaria, o mesmo assume proporções desastrosas para a ordem, uma vez que a adoção do incerto e duvidoso é o desprezo à sabedoria e ao conhecimento dos princípios, normas e regulamentos que regem a mencionada instituição.
E aí eu próprio me pergunto:
por que intervir, por que querer se impor sem ter conhecimento da verdade?
Publicado no JB News – Informativo nº 1.721 – Melbourne – terça-feira, 16 de junho de 2015 – pág. 12/28)