PEQUENA (?!) HISTÓRIA DA MAÇONARIA NO BRASIL – 3ª PARTE

 

 William Almeida de Carvalho

 

 

A Revolução de 1930

Enquanto o Grande Oriente do Brasil passava por essa convulsão interna, o País, depois do agitado período de Arthur Bernardes, iria conhecer um tempo de relativa tranquilidade, com a ascensão, à Presidência da República, do maçom Washington Luís Pereira de Sousa, em 1926. O governo de Washington Luís seria tranquilo até 1929 quando a grande crise mundial, desencadeada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York, trouxe problemas econômicos ao País, com o grande aumento dos estoques de café, em uma situação agravada pela recusa do governo em auxiliar, financeiramente, a lavoura em crise.

O ano de 1930 começava, para todo o Brasil, sob o signo da intranquilidade. A par da grande depressão econômica, oriunda da crise mundial de 1929, havia grande perturbação nas esferas políticas, em decorrência da crise que o País atravessava, com a violenta queda da estrutura econômica, baseada na exportação do café.

Desde o início da República até 1930, São Paulo partilharia, com Minas Gerais, sua influência na política e na administração do País. Já antes da crise de 1929, a política de valorização do café, do governo de Washington Luís, encontrava adversária dentro do próprio Partido Republicano Paulista PRP, que reunia a burguesia cafeeira de São Paulo.

Ao se aproximarem as eleições para a Presidência, o PRP indicava, para suceder a Washington Luís, o ex-presidente do Estado, líder do governo na Câmara e maçom Júlio Prestes de Albuquerque, deixando de lado dois nomes de projeção nacional: Borges de Medeiros, ex-presidente do Rio Grande do Sul, e Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, presidente de Minas Gerais. Este, então, passou à franca oposição, estabelecendo, com o Rio Grande do Sul, 50 uma coligação política denominada “Aliança Liberal”, que lançaria a chapa Getúlio Vargas-João Pessoa, para combater a de Júlio Prestes-Vital Soares.

A 1º de março de 1930, realizadas as eleições, vencia como era esperado, a máquina eleitoral do PRP, tendo, em ambos os lados, funcionado a fraude eleitoral. A oposição, então, começou a conspirar para promover o levante armado contra o governo, e tendo, o estopim da revolta sida o assassinato de João Pessoa, a tiros, por João Duarte Dantas, por simples questões familiares da Paraíba – Estado presidido por Pessoa – e sem nenhuma conotação política, mas que foi muito explorado pelos rebeldes.

Eclodida a revolta, em Porto Alegre, a 3 de outubro de 1930, ela culminaria com a deposição do presidente constitucional, Washington Luís, e a entrega do poder a Getúlio Vargas, que governaria durante 15 anos, primeiro como chefe do governo provisório, depois, como presidente constitucional e, finalmente, como ditador absoluto, até sua deposição, em 1945. O golpe de 1930 e a ascensão de Vargas ao poder teriam grande repercussão na Maçonaria brasileira, proporcionando-lhe um período de estagnação e, até, de involução, do qual está até hoje se recuperando.

No Grande Oriente, Octavio Kelly, desencantado com a insistente oposição e as perseguições que lhe moviam, deixava o cargo, a 17 de junho de 1930, só retornando a 3 de julho, depois de promulgada a nova Constituição do GOB, a 19 de junho. Em outubro de 1930, diante da convulsão social e política, causada pelo golpe de 24 de outubro, com implantação de estado de sítio e fechamento dos bancos, muitas Lojas suspenderam seu funcionamento, até por dificuldades de ordem financeira. No mesmo ano de 1930, o Grande Oriente do Brasil havia participado do Congresso de Bruxelas, realizado pela AMI (Associação Maçônica Internacional), sendo reconhecido como única Potência Simbólica no Brasil.

 De 1930 até a Transferência da Capital

Da Revolução de 1930 até a transferência da capital do Brasil do Rio de Janeiro para Brasília, inaugurada pelo Presidente Juscelino Kubitschek em 1960 poucos fatos estratégicos foram dignos de nota na Maçonaria brasileira. Dentre estes podem ser citados o Tratado do GOB com a Grande Loja Unida da Inglaterra em 1934, pelo Grão-Mestre general Moreira Guimarães. A partir do de 1935, o ambiente político-social do País iria ser, mais uma vez, agitado, envolvendo evidentemente o Grande Oriente do Brasil, representante ainda de uma parcela ponderável e atuante da sociedade brasileira, apesar de ter perdido a característica de elite estratégica do país. Os extremismos de direita e esquerda passam a fazer parte do ideário político de parcelas ponderáveis da elite brasileira.

Driblando as escaramuças ideológicas Vargas, por meio da docilidade do Congresso, não tardou a dar o golpe de Estado. E este aconteceu a 10 de novembro de 1937, quando era dissolvido o Congresso, extintos todos os partidos, extinta a Constituição de 1934 e publicada uma nova Constituição de cunho autoritário. Estava implantada a ditadura do Estado Novo. Isso iria repercutir em todas as instituições sociais brasileiras, não sendo, o Grande Oriente do Brasil, uma exceção. O fechamento da Maçonaria foi aconselhado ao governo, a 25 de novembro de 1937, 15 dias após o golpe.

Em 1941, as Lojas maçônicas que haviam permanecido fechadas desde a implantação do Estado Novo, em 1937, procuravam voltar à sua normalidade, embora sob a mira dos beleguins da ditadura, infiltrados na própria instituição, e embora sob o peso de decretos maçônicos castradores da liberdade de manifestação do pensamento. A 22 de agosto de 1942, em vista da série de torpedeamentos dos navios mercantes por submarinos alemães, o Brasil, por nota ministerial, reconheceu o estado de guerra com os países do Eixo, pensando-se então no envio, à Europa, de uma Força Expedicionária Brasileira.

Em todo o desenrolar da guerra, como acontecera durante o primeiro conflito mundial, havia intensa movimentação e comunicação maçônicas entre Obediências. Em abril de 1943, atendendo à solicitação do governo, o Grande Oriente recomendava, às Lojas, que adquirissem bônus de guerra, para auxiliar o esforço bélico dos países aliados. Com o fim da guerra, o ditador Getúlio Vargas era deposto por um golpe de estado, a 29 de outubro de 1945.

Em 24 de junho de 1953, foi eleito Grão-Mestre o almirante Benjamin Sodré, filho do ex-Grão-Mestre Lauro Sodré, tendo como Adjunto Cyro Werneck de Sousa e Silva, que seria GM a partir de 1955. A matriz positivista ainda dava as cartas no GOB. Vargas voltaria ao poder por eleições diretas em 1950. Em meados de 1954, o Brasil passava por um dos grandes traumas de sua existência, o qual propiciaria uma grave crise política e institucional. Surgiram denúncias e mais denúncias de escândalos administrativos, aproveitados pela oposição, à frente da qual se destacava o jornalista e deputado Carlos Lacerda, filho do político e maçom Maurício de Lacerda. No dia 4 de agosto de 1954, ao retornar de uma conferência, Lacerda foi vítima de um atentado a tiros, no qual foi morto um oficial da Aeronáutica; e a situação iria se tornar extremamente grave quando o inquérito, então instalado, mostrou que o assassino era dirigido por um áulico do presidente. Este, a 23 de agosto, crendo que venceria a crise, com um pedido de afastamento temporário, viu na manhã seguinte que isso não satisfazia a oposição. Sem poder, então, contornar a crise, suicidou-se, nesse dia 24, com um tiro no coração.

Assumindo em meio à crise e ao trauma gerado pelo gesto de Vargas, o vice-presidente João Café Filho presidiu a eleição do novo presidente da República. Foi eleito, então, o ex-governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek de Oliveira, tendo como vice-presidente João Goulart. O qual da que tomaram posse a 31 de janeiro de 1956. Em 1957, O Grande Oriente do Brasil participava como Obediência internacionalmente reconhecida, do Congresso Maçônico Internacional de Haia, na Holanda. Na exposição, então apresentada, o Grão-Mestre Cyro Werneck fala da história do Grande Oriente e dos reconhecimentos internacionais de que ele desfrutava, naquela época.

No governo da República, o presidente Juscelino Kubitschek, programando uma série de metas a ser atingidas, tinha como fundamental a mudança da capital federal do Rio de Janeiro para o Planalto Central, aspiração que, embora fosse muito antiga – lembrada, já, na Constituinte do Império, de 1823, e registrada na Constituição republicana de 1891 –, jamais fora levada avante. Em decorrência, entretanto, da firmeza do governo, lançando as bases de Brasília, a nova capital, no Planalto Central, várias entidades – e, entre elas, o Grande Oriente – começaram a planejar a futura mudança de sua sede central para o novo Distrito Federal.

O ano de 1961 começava, para o Brasil, com a posse de um novo presidente da República, Ir. Jânio Quadros que durou apenas 7 meses no poder, tendo renunciado em agosto de 1961. Isso desencadeou uma crise política sem precedentes na história republicana, envolvendo, também, o Grande Oriente do Brasil –, pois, depois de o cargo ser entregue, na forma constitucional, ao presidente da Câmara Federal, Pascoal Ranieri Mazzilli, já que o vice-presidente João Goulart estava viajando pela Ásia, os ministros militares, considerando perigosa a entrega do poder a Goulart, pediam ao Congresso a declaração de seu impedimento.

Seguiram-se alguns dias de apreensões, com vários segmentos da sociedade defendendo a intangibilidade do mandato do vice-presidente. O Grão-Mestre Cyro Werneck, em nome do Grande Oriente do Brasil, manifestou-se publicamente pelo respeito à Constituição, com a consequente posse de Goulart na Presidência.

 O Movimento Militar de 1964

Diante dos protestos emanados de diversos setores da sociedade brasileira, encontrou-se, depois de dez dias de incertezas, uma solução política para a crise: o Congresso resolvia convocar o vice-presidente, mas tirava-lhe os poderes, aprovando, sob a forma de Ato Adicional à Constituição, a instituição do sistema parlamentarista. A 7 de setembro de 1961, Goulart assumia o cargo, indicando para a presidência do Conselho de Ministros o político mineiro Tancredo Neves, do PSD.

No Grande Oriente do Brasil, nesse ano de 1963, ocorriam novas eleições para os cargos de Grandes Dignidades, sendo eleito Grão-Mestre Álvaro Palmeira, empossado a 24 de junho. Enquanto o Grande Oriente entrava em fase de relativa calmaria, o ambiente político do País prosseguia em crescente agitação, pois Goulart, fortalecido pelo plebiscito de 1963, propunha, ao Congresso, várias reformas de base (agrária, fiscal, política e universitária), que, embora reconhecidas como necessárias pela maioria oposicionista no Congresso, suscitavam discordâncias pela maneira como seriam feitas, principalmente a reforma agrária.

Na madrugada de 31 de março, irrompia o movimento político-militar, que iria depor Goulart, ocasionando sua fuga para o exterior. Em seguida, era emitido um ato institucional, que suspendia as garantias constitucionais e iniciava um expurgo na vida pública do País.

A 15 de abril, eleito pelo Congresso, assumia a Presidência da República o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. Nesses agitados dias, embora houvesse uma divisão de opiniões na Maçonaria brasileira, a maioria dos maçons apoiou, inicialmente, o movimento, diante da situação caótica para a qual caminhava o País. Em nenhum momento, no período do regime militar, o Grande Oriente do Brasil, como instituição, foi molestado, embora a repressão que se seguiu à queda de Goulart tenha atingido a intimidade dos templos maçônicos, não diretamente pelo governo, mas por meio da corrente que apoiara o movimento e que iniciava, no seio da instituição, uma verdadeira caça às bruxas, a qual iria ser incrementada a partir de 1968, quando foi fechado o Congresso Nacional e editado o Ato Institucional Nº 5 AI-5. Era a “revolução na revolução”.

A Cisão de 1972-1973

Em 1973 aconteceu a última cisão, também por questões eleitorais, em 27 de maio, quando vários Grão-Mestres estaduais abandonaram o GOB. Tal movimento, sob a liderança do Grão-Mestre de São Paulo Ir. Danilo, eliminado anteriormente do GOB, assinaram uma proclamação onde se declaravam autônomos, surgindo ali o Colégio de Grão-Mestres, que resultou atualmente na COMAB Confederação da Maçonaria Brasileira.

Sérias dissensões no Grande Oriente do Brasil iriam ser uma das causas remotas da crise institucional que a Obediência enfrentaria, a partir de 1970, resultando na cisão de 1973, produto do acirramento ideológico. No governo federal, sucedendo ao presidente Castelo Branco, assumia o governo, a 15 de março de 1967, o marechal Arthur da Costa e Silva. No dia da posse de Costa e Silva, entrava em vigor a nova Constituição brasileira, que fora promulgada pelo Congresso Nacional a 24 de janeiro.

Durante todo esse período o GOB não se notabilizou por alguma ação de vulto, mantendo um perfil baixo, dentro daquele padrão de declínio desde a grande cisão de 1927. No âmbito governamental, nova crise iria acontecer com a doença do presidente Costa e Silva e seu consequente afastamento do governo. Constitucionalmente, deveria assumir o vice-presidente Pedro Aleixo, o qual, todavia, por ter se pronunciado contra o AI-5, foi impedido de tomar posse, a 31 de agosto de 1969, pela junta militar que assumiria, provisoriamente, o poder. Logo depois, a junta declararia extinto o mandato de Pedro Aleixo e providenciaria uma nova eleição indireta pelo Congresso Nacional.

Seria, então, eleito, a 25 de outubro, o general Emílio Garrastazu Médici, que tomaria posse a 30 de outubro, implantando profunda censura a todos os órgãos da mídia nacional. No Grande Oriente do Brasil, por essa época, já circulava, pelas Lojas e Corpos Maçônicos, uma publicação, denominada Prancha Informativa, que, sob a responsabilidade do Ir. Felix Cotaet, deputado à Soberana Assembleia Federal Legislativa – com o apoio e a assessoria de outros deputados da bancada paulista –, trazia notícias daquele corpo legislativo do Grande Oriente do Brasil. Apesar de constar como de “Circulação restrita aos maçons do Grande Oriente do Brasil”, a publicação, como o próprio autor divulgou, era enviada a autoridades civis e militares e não poucas vezes continhas criticam contundentes ao então GM do GOB, Ir. Moacyr Arbex Dinamarco, a quem fazia, notoriamente, oposição. Aproveitando o clima da época e sob a alegação de que, como oficial da reserva do Exército, cabia-lhe uma parcela da defesa da democracia, o autor inseria, em sua Prancha Informativa, mal velada insinuações de “infiltração comunista no Grande Oriente do Brasil”, a qual aconteceria, segundo ele, sob as vistas grossas do GM.

Quando empossado no Grão-Mestrado do Grande Oriente de S. Paulo, a 17 de junho de 1969, o Ir. Danilo José Fernandes, havendo derrotado o candidato oposicionista, apoiado por Cotaet, Nery Guimarães e outros, passou a sofrer, na Prancha Informativa, o mesmo tipo de críticas que Dinamarco. Diante das críticas, Danilo, depois de grandes altercações com Cotaet, proibia a circulação da Prancha Informativa, a 25 de fevereiro de 1970. A 13 de agosto, seis meses após a edição da circular – que não havia suscitado reação quando publicada –, Cotaet apresentava denúncia à Secretaria de Segurança Pública, contra o Grande Oriente do Brasil e o Grande Oriente de S. Paulo, tentando envolver o Grão-Mestre Geral, Moacyr Arbex Dinamarco, e comprometer o Grão-Mestre de S. Paulo com as autoridades da área da Segurança Nacional. Foi, então, instaurado um inquérito policial-militar, o qual teria um desfecho, em outubro de 1971, quando o Juiz Auditor determinou o arquivamento dos autos, considerando infundada a denúncia.

Apesar do tumulto no Poder Central, o Grão-Mestre continuava tentando manter a normalidade administrativa e social e comemorar os festejos do sesquicentenário do Grande Oriente do Brasil, os quais seriam realizados em junho de 1972.

O ano de 1971 começava, para o GOB, com a grande agitação provocada pelas pressões, sobre o GM Dinamarco, dos integrantes do grupo já referido, em torno de uma suposta “infiltração comunista” na Obediência, a partir de S. Paulo e de seu Grão-Mestrado estadual. Pouco tempo depois Felix Cotaet era suspenso de todos os seus direitos maçônicos no Grande Oriente de São Paulo. Um novo conflito surgiria quando da escolha do candidato à sucessão de Dinamarco, que soou, para alguns como um jogo de cartas marcadas, pois, como o Grão-mestre podia deter a maioria de votos da Soberana Congregação, já que muitos de seus componentes eram nomeados pelo próprio Executivo, venceria aquele que, por este, fosse indicado. Pelos cálculos desses, que se opunham à política do Poder Central e a um eventual continuísmo, só poderiam ser contrários ao candidato indicado pelo Grão-Mestrado, alguns dos 15 Grão-Mestres estaduais e o antecessor de Dinamarco, Álvaro Palmeira. Surgiam, então, como eventuais candidatos de oposição, os Grão-Mestres estaduais Athos Vieira de Andrade (Minas Gerais), Enoch Vieira dos Santos (Paraná), Frederico Renato Mótola (Rio Grande do Sul), Miguel Christakis (Santa Catarina) e Danilo José Fernandes (São Paulo).

No início de 1972, a posição do Grão-Mestre de S. Paulo era de frontal oposição ao Grão-Mestre Geral. Enquanto isso, a 19 de abril de 1972, acontecia, em São Paulo, uma reunião, da qual resultaria a “Proclamação de São Paulo”, com o lançamento das candidaturas de Athos Vieira de Andrade (Minas) e Raphael Rocha (Rio de Janeiro), para os cargos de Grão-mestre e Adjunto, respectivamente, nas eleições que seriam realizadas em 1973.

A 9 de maio, processado e julgado pelo Tribunal de Justiça Maçônico, Danilo tinha suspensos seus direitos maçônicos, sob a alegação de que a dívida de São Paulo para com o Poder Central não fora paga. Iniciou-se uma querela jurídica entre o GM do GOB e o Grão-mestre de São Paulo sobre despesas não pagas.

Diante do impasse, a situação agravou-se. Danilo enviou petição ao Tribunal de Justiça Maçônica, propondo a formação de uma Comissão de Verificação, destinada a proceder ao levantamento e acerto das contas; declarou, também, que aceitaria como definitivo o relatório dessa Comissão. O Tribunal decidiu não tomar conhecimento da petição, por entender que Danilo estava com seus direitos suspensos e não poderia solicitar em nome próprio nem requerer como Grão-Mestre de S. Paulo. Diante disso, Danilo ingressava em Juízo, em uma das Varas Cíveis do Rio de Janeiro, ou seja, na Justiça profana.

Deveria assumir o grão-mestrado estadual o adjunto que não conseguiu o seu intento. A oposição lança então as candidaturas Athos Vieira de Minas Gerais e Raphael Rocha do Rio de Janeiro e era assinado pelos seguintes grão-mestres estaduais: Danylo José Fernandes, Grão-Mestre do Grande Oriente de São Paulo; Enoch Vieira dos Santos, Grão-Mestre do Grande Oriente do Paraná; Miguel Christakis, Grão-Mestre do Grande Oriente de Santa Catarina; Frederico Renato Móttola, Grão-Mestre do Grande Oriente do Rio Grande do Sul; Gumercindo Inácio Ferreira, Grão-Mestre do Grande Oriente de Goiás; Manuel Paes de Lima, Grão-Mestre do Grande Oriente de Pernambuco. Posteriormente, essa proclamação recebeu o apoio de Salatiel de Vasconcellos Silva, Grão-Mestre do Grande Oriente do Rio Grande do Norte; Celso Fonseca, Grão-Mestre do Grande Oriente de Brasília; e Cyro Werneck de Souza e Silva, ex-Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil.

O Grão-Mestre Geral, então, nomeia a 26 de maio de 1972, o general reformado Luiz Braga Mury, como interventor no Grande Oriente de S. Paulo. Danilo obtinha liminar ao mandado de segurança impetrado junto ao Tribunal de Justiça do Estado de S. Paulo e era reintegrado no cargo, retomando a posse do prédio.

Um longo conflito iria perdurar em São Paulo, ao mesmo tempo, lançam-se como candidatos oficiais ao Grão-Mestrado: Osmane Vieira de Resende (que era Adjunto), para Grão-Mestre, e Osiris Teixeira, de Goiás, senador da República e obscuro maçom, para Adjunto.

Realizadas as eleições, o resultado oficial mostrava a vitória de Osmane, com 2129 votos, ante 1107 dados a Athos, enquanto Osiris Teixeira também vencia, com 2046 votos, diante de 1180 de Raphael Rocha. Segundo a oposição, entretanto, o resultado “extraoficial” consignava 7175 votos para Athos, contra 3820 para Osmane; e 7195 para Raphael, contra 3794 para Osiris. Ocorre que, no Tribunal, mais de 6 mil votos de Athos foram anulados, enquanto Osmane perdeu menos de 2 mil, tendo, isso, acontecido sob a alegação de débitos com o Poder Central e preenchimento irregular das atas das eleições. Todo o processo ocorreu num ambiente bastante agitado, já que os representantes da chapa oposicionista, na apuração alegavam fraudes na anulação de atas eleitorais, com parcialidade do tribunal, em favor dos candidatos oficiais.

A partir daí estava deflagrada nova cisão no GOB com a perda de inúmeros Irmãos de escol de diversos estados brasileiros tais como: São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Ceará, Paraná, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e Estado do Rio de Janeiro. O Estado de Goiás que permaneceu coeso em torno do GOB iria jogar um papel importante no desenrolar dos acontecimentos, além do mais a Capital da República tinha se mudado do Rio de Janeiro para Brasília. O fato lamentável, contudo, era que se tornou ainda mais fraca a Maçonaria brasileira.

A 24 de junho de 1973, tomava posse, como Grão-Mestre do GOB Osmane Vieira de Resende que realizou uma gestão opaca. A 15 de março de 1974, o Brasil tinha novo presidente, com a posse do general Ernesto Geisel, também eleito pelo Congresso Nacional, a 15 de janeiro. Pouco depois, a 16 de maio, o presidente da República recebia, em audiência, o Grão-Mestre Geral e seu Adjunto, quando este, como senador do partido situacionista, leu um ofício em que o Grande Oriente reafirmava seu apoio ao governo que havia se instalado após o movimento de 1964.

Da Redemocratização ao Dias Atuais

Dos governos dos Presidentes Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo até a redemocratização as gestões do GOB foram opacas para não dizer lamentáveis, até a eleição de Jair Assis Ribeiro de Goiás. Digno de nota foi que o Senador Osíris Teixeira empossado no cargo, a 24 de junho de 1978, já a 13 de julho, providenciava a mudança da sede do Grande Oriente do Brasil para a capital federal, Brasília, que já tinha a estrutura suficiente para abrigar a Obediência.

Em março de 1983, era eleito, para o cargo de Grão-Mestre Jair Assis Ribeiro, que representou um marco de ressurreição da Maçonaria brasileira. Não só responsável pela construção do Palácio Maçônico de Brasília como também por ser um pacificador do GOB. A gestão de Jair Ribeiro iria assistir à redemocratização do Brasil com as primeiras eleições diretas para presidente da república desde 1964. Com a eleição do Presidente Tancredo Neves, que não tomaria posse, por vir a falecer poucos dias depois de eleito, assumiu a Presidência, o vice José Sarney.

Se Jair Assis Ribeiro representou um ponto de inflexão no declínio da Maçonaria brasileira e eleição de Murilo Pinto pode ser vista como a consolidação, a abertura para o exterior depois de décadas de isolamento de administrações provincianas desde Cyro Werneck – e um robusto programa de educação maçônica. A gestão de Laelson Rodrigues pode ser vista como de saneamento financeiro do GOB e de consolidação de abertura para o exterior. A de Marcos José da Silva, ainda é muito nova para algum tipo de comentário mais profundo.

Atualmente a Maçonaria do GOB atravessa uma fase de criação de Lojas de Pesquisa, Lojas universitárias e Academias Maçônicas, Ação Paramaçônica Juvenil, Fraternidade Feminina, etc.

 

 

 

Anexo 1

Grão-Mestres do GOB

  • José Bonifácio de Andrada e Silva – Ministro 1822
  • D. Pedro I Príncipe Regente e Imperador – 1822
  • José Bonifácio de Andrada e Silva – Ministro 1831 a 1838
  • Antônio Holanda Cavalcanti – Visc. de Albuquerque 1838 a 1850
  • Miguel Calmon du Pin e Almeida Marquês de Abrantes 1850 a 1863
  • Honorário Luiz Alves de Lima e Silva Duque de Caxias 1850 a 1863
  • Bento da Silva Lisboa Barão de Cayrú 1863 a 1865
  • Joaquim Marcelino de Brito – Sup. Tribunal de Justiça 1865 a 1870
  • José Maria da Silva Paranhos Visconde do Rio Branco 1870 a 1880
  • Francisco José Cardoso Junior – Marechal 1880 a 1885
  • Luiz Antonio Vieira da Silva Visconde Vieira da Silva 1885 a 1889
  • João Baptista Gonçalves Campos Visconde de Jary 1889 a 1890
  • Manoel Deodoro da Fonseca Presidente do Brasil 1890 a 1891
  • Antonio Joaquim de Macedo Soares – Conselheiro 1891 a 1901
  • Quintino Bocayuva Ministro de Estado 1901 a 1904
  • Lauro Nina Sodré e Silva – General e Senador 1904 a 1916
  • Interino Francisco Glicério de Cerqueira Leite – General 1905
  • Veríssimo José da Costa Júnior – Almirante 1916 a 1917
  • Nilo Procópio Peçanha Presidente da República 1917 a 1919
  • Thomaz Cavalcanti de Albuquerque – General 1919 a 1922
  • Mário de Carvalho Behring Engenheiro e Jornalista 1922 a 1925
  • Interino Bernardino de Almeida Senna Campos 1925
  • Vicente Saraiva de Carvalho Neiva Ministro do STF 1925 a 1926
  • João Severiano da Fonseca Hermes 1926 a 1927
  • Octávio Kelly Ministro do STF 1927 a 1933
  • José Maria Moreira Guimarães – General 1933 a 1940
  • Joaquim Rodrigues Neves 1940 a 1952
  • Benjamin de Almeida Sodré – Almirante 1952 a 1954
  • Cyro Werneck de Souza e Silva – Advogado 1954 a 1963
  • Álvaro Palmeira – Professor 1963 a 1968
  • Moacir Arbex Dinamarco – Médico 1968 a 1973
  • Osmane Vieira de Resende – Odontólogo 1973 a 1978
  • Osiris Teixeira – Senador 1978 a 1983
  • Jair Assis Ribeiro Empresário 1983 a 1993
  • Francisco Murilo Pinto – Desembargador 1993 a 2001
  • Laelso Rodrigues – Empresário – 2001 a 2008
  • Marcos José da Silva – Funcionário Público – 2008 a 2013.

Anexo 2

  1. Grande Oriente do Brasil

Registro da Grande Secretaria Geral da Guarda dos Selos

 

Ano Total Lojas Acresc. %
2003 2.090
2004 2.150 60 2,79%
2005 2.245 95 4,23%
2006 2.318 73 3,14%
2007 2.400 82 3,65%
2008 2.484 64 2,78%
2009 2.528 64 2,59%

 

Ano Total Obreiros Acresc. %
2003 54.843
2004 54.857 14 0,03%
2005 58.466 3609 6,17%
2006 60.979 2513 4,12%
2007 63.842 2863 4,48%
2008 66.651 2809 4,21%
2009 68.593 1942 2,91%

Dados reais. Fonte: GOB

2. Grandes Lojas

CMSB Grandes Lojas 2530 Lojas Maçônicas 94486 Maçons

Fonte: List of Lodges 2009

3. COMAB

Número de Lojas: 1072

Número de Obreiros: 33497

Número de Grandes Orientes afilados a COMAB: 20

Fonte: Grandes Orientes Independentes de cada estado a Secretaria Geral da COMAB

Total (I+II+III)

Lojas: 6130

Maçons: 196576

William Almeida de Carvalho

Ex-Diretor da Biblioteca do Grande Oriente do Brasil,

ex-Secretário de Educação e Cultura do GODF-GOB.

Autor de diversos livros sobre a Maçonaria no Brasil.

Membro da Loja de Pesquisas Quatuor Coronati de Londres, da Scottish Rite Research Society.

Presidente da Academia Maçônica de Letras do DF.

Tesoureiro da Academia Maçônica do Brasil e da Academia Maçônica de Letras da Paraíba.

Doutor em Ciência Política pela Panthéon-Sorbonne.

Licença  CREATIVE COMMONS – ” Reconhecimento-Não comercial-Compartilhar igual”

Exemplar em PDF para sua biblioteca:  Clique aqui:  HISTORIA DO GOB- WILLIAM CARVALHO

[i] William Almeida de Carvalho, Maçonaria, Tráfico de Escravos e o Banco do Brasil (São Paulo: Ed. Madras, 2010).

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