A MAÇONARIA E A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

16 maio 2013

A participação da Maçonaria nos movimentos libertários dos povos em todos os continentes é notória. A História Universal descreve com abundância de fatos os eventos cuja realização só foi possível através da iniciativa maçônica, ou por meio de Maçons proeminentes. Na história do Brasil, em todas as fases da consolidação da Colônia em Nação, não faltou em nenhum momento a orientação da Maçonaria, como se poderá ver na continuidade deste trabalho.

 

1º A independência

A Inconfidência Mineira, movimento que tinha caráter autonomista surgiu em Vila Rica, sendo sede da capitania de Minas Gerais, ocorrida no ano de 1789, emergido por força de descontentamento e atrocidade perpetrada pelo Reino de Portugal contra o povo em geral.

Foi um dos marcos precursores do movimento revolucionário da Independência e Proclamação da República que tiveram como baluarte o caminho da tríade  Liberdade,  Igualdade e Fraternidade, que eram pregadas nas centenas de Lojas em território francês, onde foi planejada a Revolução Francesa, bem como a libertação dos mineiros no Brasil. (N.A. Na França, diferentemente do Brasil, a Liberdade nasceu do sentimento de um povo oprimido pela realeza e nobreza e que culminou com a Queda da Bastilha; a Igualdade, do desejo da burguesia – equivalente à classe média e média alta – de ter os mesmos privilégios que os nobres, e não que todos fossem realmente “iguais”; e a Fraternidade, ficou sobrando para os menos favorecidos).

Podemos assegurar sem sombra de dúvida que, ao atentarmos para essa tríade no Brasil, os objetivos eram a  Liberdade  do jugo imposto por Portugal à Colônia, Igualdade pela educação do povo, e Fraternidade pela união dos brasileiros que lá estavam em termos de um ideal supremo, ou seja, a constituição de uma pátria livre.

A Maçonaria não só contribuiu significativamente com o movimento das Minas Gerais, como era conhecida a Capitania, mas com toda a história dos movimentos Republicanos Regionais, que antecederam e culminaram com a nossa Independência.

Grandes mártires defenderam a posição de autonomia e moral que deve nortear e ter o povo, como o direito indelével que deve perpetuar a relação Estado/Sociedade, mas somente conseguiram após muita luta e derramamento de sangue, o que na atualidade é inaceitável.

Dentre os intelectuais, militares, religiosos e liberais que aderiram ao movimento contra o desmando do Reino de Portugal, podemos citar de acordo com os grandes historiadores os seguintes: Tomás Antonio Gonzaga e José Álvares Maciel, Cláudio Manoel da Costa, Inácio José de Alvarenga Peixoto, Tenente Coronel Freire de Andrade, Sargento Mor Luís Piza, Cônego Luis Vieira, Padre Rolim e Carlos Toledo, e finalmente o Alferes (atual 2º Tenente) Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes pela sua atividade esporádica na extração de dentes de colonos e escravos na época que arregimentavam adeptos à causa (N.A.  Não existem evidências sólidas de que Tiradentes tivesse sido iniciado como Maçom). Os Maçons citados acima chegaram a fundar Lojas em Minas, Rio de Janeiro e São Paulo, onde se faziam reuniões e traçavam-se planos para a rebelião.

Não se pode negar que a nossa Independência teve a sua origem no movimento iniciado no Arraial do Tijuco, hoje Diamantina, que rapidamente se ramificou em todo o território brasileiro. Posteriormente alcançou seu ponto alto de realização em Vila Rica, hoje Ouro Preto, na época sede da Capitania de Minas Gerais.

O fracasso do movimento da Inconfidência Mineira começou com a delação e traição, levada a efeito por três portugueses que eram favoráveis à Coroa do Reino de Portugal. Foram eles, o Coronel Joaquim Silvério dos Reis, Basílio de Brito Malheiro do Lago e Inácio Correia Pamplona, que não eram Maçons, mas profanos infiltrados no movimento.

Com a morte de Tiradentes em 21 de abril de 1792, o movimento não se dissipou, mas sim deu origem a outro, que já estava em ascensão, ou seja, a Independência, haja vista a corrupção avassaladora que tomava conta do País.

O Estado que tinha o dever de preservar a moral e os bons costumes, a conduta social e a liberdade, a igualdade e a fraternidade, não conseguiam mais conter os desmandos que assolavam a sociedade. A partir desse momento, passou-se a cultuar a Filosofia e a audácia dos grandes pensadores da época, tais como, Jean Jacques Rousseau, Voltaire e José Bonifácio de Andrada e Silva, entre outros, que pregavam a liberdade e a tolerância, sendo eles guardiões dos princípios basilares da cultura e da emancipação do povo.

José Bonifácio de Andrada e Silva e Joaquim Gonçalves Ledo
Existia naquele período, uma disputa entre duas facções se arrogavam o direito à iniciativa da Independência. Um grupo liderado por José Bonifácio de Andrada e Silva à testa da “Maçonaria Azul “que fazia parte do lado dos liberais com pensamento na Independência, e outro de liderança de Joaquim Gonçalves Ledo à testa da “Maçonaria Vermelha “,  grupos que tinham opiniões antagônicas acerca das posições e medidas concretas que o governo a ser criado deveria adotar.

Em Portugal e no Brasil, coube à Maçonaria francesa a sua difusão, já que nessas regiões os interesses ingleses estavam assegurados, não encontrando quase obstáculo à sua penetração comercial, o que não significou, que não tenham surgido Lojas Maçônicas de influência inglesa, sendo certo que determinados núcleos ingleses mais conservadores que os de orientação francesa, mostraram-se isentos em relação à luta da Independência.

Nos idos de 1.788, houve notícias de Lojas Maçônicas no Brasil que foram introduzidas com idéias iluministas de parte de estudantes brasileiros na Europa, que tinham ido estudar na Universidade de Coimbra, como complemento de cursos na França e Inglaterra. Entre eles podemos citar José Bonifácio e particularmente José Joaquim da Maia, José Alves Maciel e Domingos Vidal Barbosa entre outros, que estudavam na cidade de Montpellier, foco da Maçonaria francesa.

No Brasil, a Independência teve como objetivo máximo o movimento encabeçado por José Bonifácio de Andrada e Silva, o liberalista. As Lojas Maçônicas proliferaram com relativa segurança mesmo diante das perseguições da Coroa, mais precisamente nos Estados de Pernambuco, Bahia, e Rio de Janeiro, que em sua maioria tinham estreitas ligações com o “Grande Oriente” francês que tinha interesse em que o Brasil se desligasse de Portugal.

No ano de 1.817, a Maçonaria sofreu as mais severas reprimendas por parte da Coroa Portuguesa. Entretanto, seus esforços foram infrutíferos, pois a Maçonaria continuava a disseminar entre seus membros, ativo trabalho da propaganda emancipadora.

Quando do retorno, José Bonifácio, diante das exigências descabidas de D. Pedro I, e dos desmandos da Coroa, aceita o manifesto da lavra de Joaquim Gonçalves Ledo, cabendo a este redigir outro manifesto, agora destinado ao conhecimento das demais nações. Com a atitude de liberdade lhe dada por José Bonifácio escreveu a D. Pedro I o seguinte: “A sorte está lançada, e de Portugal não temos que esperar senão escravidão e horrores”.

Em 09 de janeiro de 1.822, na Sala do Trono e interpretando o pensamento geral, cristalizado nos manifestos dos fluminenses e dos paulistas e no trabalho de aliciamento dos mineiros, o Maçom José Clemente Pereira, presidente do Senado da Câmara, antes de ler a representação, pronunciou inflamado e contundente discurso pedindo para que o Príncipe Regente permanecesse no Brasil.

A resposta do Príncipe Regente foi dada em 7 de Setembro de 1822, destruindo assim de vez todo elo com Portugal. Estava formalizada e concretizada a Independência do Brasil.

A alusão às hostes Maçônicas era explícita e D. Pedro I conheceu-lhe a força e a influência, entendendo o recado e permanecendo no Brasil. Este episódio, conhecido como o “Dia do Fico” marcou a primeira adesão pública de D. Pedro I a uma causa brasileira.

Portanto, podemos assegurar que se nos dias de hoje está difícil atuar politicamente, imagine-se a tamanha dificuldade naquela época. Podem avaliar o que sente nosso povo porque também fazem parte dele, o exemplo dos incansáveis Joaquim Gonçalves Ledo e José Bonifácio de Andrada e Silva. Em 17 de junho de 1.822 – a Loja Maçônica, “Comércio e Artes na Idade do Ouro” em sessão memorável, resolve criar mais duas Lojas pelo desdobramento de seu quadro de Obreiros, através de sorteio, surgindo assim as Lojas “Esperança de Niterói” e “União e Tranqüilidade”, se constituindo nas três Lojas Metropolitanas e possibilitando a criação do “Grande Oriente Brasílico ou Brasiliano”, que depois viria a ser denominado de “Grande Oriente do Brasil”.

Ao finalizarmos o segundo movimento revolucionário brasileiro, temos o refrão de Joaquim Osório Duque Estrada, que se aplica corretamente no presente, quando diz na letra do Hino Nacional:

“Em teu seio, ó Liberdade, desafia o nosso peito a própria morte”, tendo D. Pedro I nos legado “Liberdade… Liberdade… Abre as asas sobre nós”. Passamos agora para a Proclamação da República, que foi o último movimento revolucionário de tendência fortemente nacionalista, mas que teve várias passagens antes de se firmar e concretizar a Proclamação da República.

A Revolução Pernambucana de 1817
teve o objetivo de implantar a República em Pernambuco, tendo como seu inspirador e líder Domingos José Martins, Maçom nascido na cidade de Itapemirim no ano de 1781, no Espírito Santo, mas que se mudou para a cidade de Recife, e através do Maçom Hipólito José da Costa foi iniciado. Este era considerado o “Patriarca” da imprensa brasileira, sendo amigo do Maçom Francisco Miranda, líder da “Grande Reunião Americana”.

Foram os precursores do movimento da República, mas em confrontos com as forças governamentais da época foi derrotada e seus membros condenados à morte pela Coroa Portuguesa.

Na Confederação do Equador, já com o Brasil independente e lutando pela sua unificação, encontramos na Província de Pernambuco os remanescentes da Revolução de 1817, que reagiram contra a prerrogativa do Imperador de escolher livremente o presidente da Província.

Frei Caneca
O líder dessa reação foi Joaquim do Amor Divino Rabelo e Caneca, popularmente conhecido como Frei Caneca. Maçom, jornalista e propagandista dos ideais republicanos, professor de Filosofia, Retórica e Geometria. No seu jornal “Tifis Pernambuco “, proferiu intensa campanha contra o Imperador D. Pedro I, também Maçom, desde a dissolução da Constituinte e a imposição e outorga da Constituição de 1824, a primeira Constituição de nosso agora país independente.

A Revolução rompeu com o Império recém-implantado, proclamou uma república com o nome de Confederação do Equador. Alastrou-se para as províncias vizinhas com o apoio das Lojas e dos Maçons da região.

A Revolução foi prontamente domada pelas forças governamentais, tanto que o presidente da Confederação, Manoel de Carvalho Paes de Andrade, também Maçom, fugiu para os Estados Unidos, favorecido pelas suas ligações maçônicas. Os demais líderes do movimento foram presos e em seguida enforcados. (N.A. Afirma-se, faltando evidências mais concretas, todavia, que os religiosos envolvidos na conjura, exceto Frei Caneca, foram enviados a Portugal e internados por toda a vida em clausuras fechadas nos mosteiros portugueses.) Frei Caneca, no entanto, pelo seu carisma, autoridade moral e principalmente pela sua condição de sacerdote foi fuzilado pois não encontraram nenhum carrasco que o enforcasse.

A Revolução Farroupilha
iniciada no ano de 1835, como uma Revolução autonomista chefiada pelo Maçom Bento Gonçalves da Silva, que tinha mais características de uma Federação do que um Estado Republicano, sendo que este Estado denominou-se República de Piratini ou República Farroupilha.

Ao contrário do que possa ter ocorrido no período regencial, a Revolução Farroupilha teve em seus quadros os melhores homens da política e da sociedade do Rio Grande do Sul, mas tinham a idéia de autonomia dentro dos quadros de uma Federação, que não era o desejo de Bento Gonçalves diante do conflito federalista e separatista.

Tendo sido implantada a República Farroupilha, esta nunca atingiu seus objetivos diante dos conflitos existentes, mas tinha em seu corpo tático de guerrilhas que conseguiram exterminar parte das tropas da Coroa. Mas por ironia do destino, sofreram uma baixa imprevisível, que foi o confinamento do seu maior líder, Bento Gonçalves, preso no Forte do Mar, na Bahia,  mas que conseguiu fugir com a ajuda da Maçonaria local, assim como o outro líder Davi Canabarro, que teve ajuda da Loja “União e Segredo”, que era dirigida pelo Cônego Joaquim Antonio das Mercês, sendo certo que Bento Gonçalves foi membro da Loja de Porto Alegre, “Filantropia e Liberdade”, onde foi iniciado.

Na Revolução de Farroupilha, outros dois  Maçons de destaque tiveram participações em seu seio, ou seja os liberais italianos Tito Lívio de Zambeccari e Giuseppe Garibaldi, tendo este último se sobressaído nos combates entre os anos de 1838 e 1841, quando da tomada de Laguna.

Com a ajuda de Davi Canabarro, Giuseppe Garibaldi iniciou-se na Loja “Asilo e Virtude” no Rio Grande do Sul. Conclui-se que tivemos vários movimentos com a presença notável de Maçons e de suas Lojas no sentido de dar ao povo a “Liberdade ainda que tardia”, frase que hoje consta da bandeira do Estado de Minas Gerais –  Libertas Quae Sera Tamen –  (Liberdade ainda que tardia) – onde estavam presentes mais pensamento esperançoso do que realidade fática; todavia, mais tarde a realidade terminou por se concretizar, pois  Liberdade, Igualdade e  Fraternidade sempre foram objetivo de todo homem livre e de bons costumes.

A Proclamação da República, a partir de então, estava praticamente concretizada, embora com certas divergências lembradas dos guardiões Joaquim Gonçalves Ledo e José Bonifácio de Andrada e Silva, que pertenciam ao Grande Oriente. Mas por força de nomeação do Príncipe Regente, este último passou a liderar a implantação da República, embora o grupo de Ledo e Cipriano Barata procurassem a todo custo precipitar a ruptura total com Portugal ao passo que o outro grupo procurava manter laços de união com a Coroa, sem abdicar da autonomia conquistada.

2º Do Levante Republicano para a Proclamação da República

Don Pedro II, minado pela diabetes, para não permitir a ascensão da Princesa Isabel e seu marido o Conde D’Eu resolve apressar o fim do Império, diante da aclamação pela República que era simplesmente uma questão de tempo.

O Império estava desgastado e ruia. Sua queda iniciou-se em 187O após a Guerra do Paraguai, onde mesmo o Brasil tendo saído vitorioso daquela campanha, o Exército, seu principal agente, não foi devidamente valorizado.

Atento a este fato e outros fatores determinantes através dos meios militares e da Escola Militar, com adesão na casa de Benjamin Constant, onde estiveram presentes os Maçons Francisco Glicério de Campos Sales, começou o levante que deveria ocorrer negociando-se com Deodoro da Fonseca, para que ele fizesse parte da nova história do Brasil, tendo este aceito e assumindo o comando das tropas. (NA. Algumas fontes históricas criticam a atitude de Deodoro, que ao aceitar o comando teria quebrado seu juramento de lealdade ao Imperador; todavia, isso ainda não é evidência comprovada porém apenas opinião de um ou outro Historiador).

Proclamada a República em 15 de Novembro de 1889 pelo Marechal Deodoro da Fonseca nomeando-se ele próprio, Chefe do Governo Provisório com um ministério totalmente Maçônico e filiado ao Grande Oriente do Brasil.

O ministério era composto pelos Maçons Eduardo Campos Sales na Justiça, Eduardo Wandenkolk na Marinha, Benjamin Constant no Exército, Rui Barbosa na Fazenda (Finanças), Demétrio Ribeira  na Agricultura, Quintino Bocaiúva nos Transportes e Aristides Lobo no Interior.

Em editorial da  Gazeta da Tarde, edição de 15 de Novembro de 1889, foi publicado o seguinte:
“A partir de hoje, 15 de Novembro de 1889, o Brasil entra em nova fase, pois, pode-se considerar o fim da MONARQUIA, passando o regime francamente democrático, com todas as conseqüências da LIBERDADE”.

Em mensagem ao novo governo, o Imperador D. Pedro I destinou o seguinte texto:
“A vista da representação escrita que me foi entregue hoje, às 3 horas da tarde, resolvo, cedendo ao império das circunstâncias, partir com toda minha família para a Europa, deixando essa Pátria, de nós tão estremecida, à qual me esforcei por dar constante testemunho de estranho amor e dedicação, durante mais de meio século em que desempenhei o cargo de Chefe de Estado. Ausentando-me, pois, com todas as pessoas da minha família, conservarei do Brasil a mais saudosa lembrança, fazendo o mais ardente voto por sua grandeza e prosperidade”.

Estava assim proclamada a República no Brasil. Ao partir para o exílio na França, Dom Pedro II coletou um pouco de terra e colocou em um saquinho, que conservou debaixo do travesseiro até sua morte, que servia para lembra-lo da pátria que deixara e que tanto amara.

No dia 19 de Dezembro do mesmo ano, o Marechal Deodoro da Fonseca foi nomeado Grão – Mestre do Grande Oriente do Brasil.

Encerrou-se, assim, um capítulo de uma longa história de lutas e de glórias, de traições, de sangue e de atos nobres, tanto quanto vís. Que o povo maçônico não se esqueça de sua ação e através de seus filhos e netos lute sem cessar pela preservação da tríade venerada:

 

 

Apresentado por
Irm Antonio Carlos de Souza Godoi, 33º,
em Sessão do Capítulo Rosa-Cruz Mauro Xavier de Souza.
Do Vale de Mogi Mirim,

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