Percival Puggina
A um só tempo deprimente e irritante a notícia de que o ministro Alexandre de Moraes, no exercício da insólita tarefa de fiscalizar o que se diz e se escreve sobre a Suprema Corte, mandou o site O Antagonista retirar do ar a edição da revista Crusoé com denúncias sobre José Antônio Dias Toffoli e intimou dois de seus diretores a prestar esclarecimentos à Polícia Federal. Há muito tempo não se assistia, entre nós, a um ato oficial tão desrespeitoso à liberdade de imprensa.
Não deixa de ser curioso que, enquanto aparelhos políticos espalham pelo mundo a boataria de que Brasil, com a eleição do presidente Bolsonaro, entra em uma era de trevas, caiba ao órgão máximo do poder judiciário brasileiro a tarefa de meter o dedo no interruptor e apagar a luz.
A ação do ministro cabe no mesmo molde de onde saiu seu igualmente inusitado poder de criar inquérito de ofício, a ele atribuído, também de ofício, por Dias Toffoli. E assim, de ofício em ofício vai-se à liberdade na turbulência das vaidades feridas.
Foi assim que o mesmo ministro, no dia 2 deste mês, armou confusão no aeroporto de Brasília ao recusar submeter-se ao detector de metais. Um delegado da Polícia Federal e um agente tiveram que ir até a aeronave impor ao ministro o escrutínio de segurança pelo qual todos os passageiros passam.
Nenhum deus do Olimpo, nem Zeus, nem Ares, nem Apolo, jamais passaram por tal “humilhação”.
O pior poder é o poder que tudo pode.