LÍDERES PARA HOMENS LIVRES?
José Maurício Guimarães
16 janeiro 2016
Você já deve ter percebido que a palavra LÍDER lida ao contrário é REDIL.
A palavra REDIL é o mesmo que curral para gado, especificamente ovinos (carneiros) ou caprinos (bodes), de acordo com o Dicionário Houaiss.
Interessante esse modo de invertermos cabalisticamente uma palavra para descobrir-lhe o caráter mágico ou secreto.
Principalmente o secreto…
O livre pensamento se opõe a qualquer tipo de encurralamento, pois é atributo do juízo crítico contrário a qualquer forma de bloqueio. Mesmo nos mais duros embates, a luz só pode ser percebida onde reina a perfeita liberdade.
Sou um defensor encarniçado da Liberdade; não que eu me alimente de carniça (embora engula sapos) mas porque travo combate à hipocrisia com furor inflamado (definições também do Dicionário Houaiss).
O livre pensamento é, como a própria expressão está indicando, livre. Por isso defendo que tolerância seja a indulgência e condescendência para aqueles que procuram a verdade.
Qualquer outro tipo de indulgência e transigência transforma-se em lisonja, fraqueza ou complacência.
Estamos vivendo graves momentos de transigência moral em nosso país e, como consequência e reflexo, a desestrutura progressiva das mais tradicionais instituições democráticas, libertárias e progressistas de nossa cultura. Essa transigência moral vem disfarçada; para o comum das pessoas, pouco dadas à reflexão, são posicionamentos que propiciam uma constante estagnação nas chamadas “zonas de conforto”. Noutras palavras: pensam que estando assegurados alguns “feudos” e garantida a cerveja gelada uma vez por semana, nada há com o que se preocuparem.
Mesmo quando tomo minha cerveja, continuo pensando nas mais nefastas consequências de abrirmos mão do direito de pensar em favor e à espera de líderes. O complexo de “salvador-da-pátria” produz inevitavelmente uma avalanche de novas leis (que jamais serão observadas) e tribunais especializados que frequentemente subvertem os princípios filosóficos e sociais do Direito na aplicação dessas mesmas leis.
Apesar de estagnados, vivemos uma mudança de paradigma. Só não querem, ou não percebem isso, os “senhores feudais” e as instituições que se auto-(des)governam nos obscuros labirintos do tapinha-nas-costas distribuído entre compadres.
Essas estruturas propiciaram noutras épocas (e ainda nos ameaçam) os regimes populistas arrastados por “líderes” da magnitude de Adolf Hitler e Benito Mussolini, chamados em seus idiomas como “führer” (em alemão, condutor, guia, líder) e “duce” (em italiano, condutor supremo). Ninguém que não fosse “ungido” pelo führer ou pelo duce haveria de tomar parte, ou fazer parte, das estruturas do poder na Alemanha nazista ou na Itália fascista ? pois o staff cuidava de tudo e decidia qual seria a OPINÃO ACEITÁVEL e estabelecia o CONCEITO DE BOM para a sociedade. Por contradição, nos governos populistas são raros os plebiscitos (do latim plebiscítum, lei romana aprovada pelos plebeus ou classe popular da sociedade).
Para um líder do tipo führer ou duce não há possibilidade de leis aprovadas pelas classes popular da sociedade, pois algum bureau, gabinete ou junta está autorizada (não legitimada) para “proclamar” o que deve ser a sociedade, como ela deve ser, quando, onde e porquê.
Tais juntas gabinetes e bureaux nazi-fascistóides não desistiram com o final da II Guerra Mundial, nem diante dos julgamentos de Nuremberg. Continuam a pulular disfarçados em benfeitores do povo, modernos politburos e schutzstaffel que afagam a inteligência com o braço direito, enquanto que no esquerdo empunham um machado. E conduzem os incautos do redil ao matadouro.
Antes de líderes precisamos de projetos. E só pode bem representar a vontade do povo quem aponta novos caminhos, novos rumos.
A estagnação e a repetição só favorecem o atraso, beneficiando apenas os projetos de poder.
Ao redigir este texto, lembrei-me várias vezes do ministro Ayres Britto, quando presidente do Supremo Tribunal Federal. dizia ele com relação a um golpe contra a democracia e os valores republicanos:
“Sob inspiração patrimonialista –velha, matreira e renitente—, um projeto de poder foi arquitetado. Não um projeto de governo, que é lícito, é quadrienal, é exposto em praça pública, […] mas um projeto de poder que vai muito além do quadriênio, um projeto quadrienalmente quadruplicado. […] É um projeto de poder que, muito mais do que a continuidade administrativa, é seca e rasamente continuísmo governamental. Golpe, portanto, nesse conteúdo da democracia que é a Republica, o republicanismo, que postula a possibilidade de renovação dos quadros dirigentes e equiparação das armas com que se disputa a preferência do voto popular.”
Disse tudo, pois a instância maior para o homem livre não é o líder, MAS O VOTO.
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Assunto | LÍDERES PARA HOMENS LIVRES |
De | JOSE MAURICIO GUIMARAES |
Para | Samauma Online entre outros |
Enviados | 9 de novembro de 2015 |