Maria Lucia Victor Barbosa
16/06/2019
Em um país como o nosso onde o crime compensa largamente era de se esperar que recrudescesse o embate entre a República dos Velhacos, que tenta voltar ao poder e almeja soltar o velhaco mor, e a República de Curitiba composta pelo então juiz e hoje ministro Sérgio Moro, pelos procuradores da força-tarefa da Lava jato e pela Polícia Federal.
Quando o juiz competente, íntegro, de moral ilibada deixou sua brilhante carreira para se tornar ministro, certamente não buscou poder pessoal, mas sonhou que o cargo lhe daria mais possibilidade de continuar sua incansável luta contra a corrupção.
Como ministro Moro apresentou um projeto anticrime que está parado no Congresso e que dificilmente será aprovado por certos parlamentares envolvidos na Lava Jato. O projeto também foi bombardeado pela OAB, por grupos de advogados, de juízes, de juristas e criticado no STF. Além disso ele perdeu a COAF, órgão através do qual poderia outrossim combater o crime organizado.
Aliás, estamos vivendo numa espécie de parlamentarismo na medida em que o Legislativo esvaziou o poder do Executivo engessando projetos e atos presidenciais. A última prova disso foi o texto da reforma da Previdência apresentada pelo relator Samuel Moreira, que atendeu de tal forma o lobby dos servidores e a oposição tangida pelo PT que a recente greve geral, além de ter sido mais uma vez um fracasso retumbante perdeu inteiramente o foco. Afinal, a reforma da Previdência está do jeito que eles querem.
No momento é evidente a costumeira politização do Direito, o que fica claro na maneira de tratar a trama sórdida que surgiu no afã de libertar o hóspede de honra da Polícia Federal em Curitiba, destruir o ministro Moro e acabar com o Lava Jato.
Trata-se da ação do site The IntercePT Brasil, dirigido pelo americano Glenn Greeewald, que hackeou ou mandou hackear conversas informais entre o então juiz Moro e o procurador e coordenador da lava jato, Daltan Dallagnol, supostamente feitas entre 2015 e 2017.
Foram pinçados criminosamente trechos de supostas falas de um contexto que não se conhece na íntegra, porém isso bastou para que a República dos Velhacos, adeptos do crime e da impunidade acendessem a fogueira da Inquisição para queimar a reputação do ministro e incinerar a Lava Jato.
Curiosamente, a divulgação dos áudios adulterados surgiu dia 9. Dia 10 o ministro Gilmar Mendes do STF liberou para dia 25 o milionésimo pedido de liberdade para o hóspede de honra da cobertura da Polícia Federal em Curitiba. Dia 14, no gabinete do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, materializou-se o advogado do presidiário da cobertura da PF de onde o condenado dá entrevistas e recebe quem quer. Cristiano Zanin certamente não foi tomar chá com Fachin. Aí pode?
Recordemos apenas dois fatos entre muitos para não alongar demais o artigo, que aconteceram sem nenhuma aparição de hackers ou gritaria do judiciário que se diz rigorosamente imparcial:
1º) O desfecho do impeachment de Dilma Rousseff, quando o então presidente do Supremo Ricardo Lewandowski, juntamente com o ex-presidente do Senado, portanto do Congresso, Renan Calheiros, rasgou a Constituição ao manter os direitos políticos da destituída senhora. Ninguém reclamou.
2º) A presença do ministro Toffoli no julgamento do mensalão apesar de ter trabalhado como advogado para outro indigitado: José Dirceu. Em momento nenhum o ministro se considerou impedido ou pessoas o julgaram parcial.
Outra coisa que ressalta é a pressa com que querem condenar e pedir a saída do Ministro Moro, sem conhecimento do teor da matéria que é fragmentada e obtida criminosamente. E se alguém da República dos Velhacos também estiver em envolvido na escuta de um hacker, como é que fica? Normal?
Essa pressa em pedir a cabeça do ministro contrasta enormemente com o julgamento do velhaco mor, que se arrastou por longo tempo com o objetivo de obter provas irrefutáveis de crimes depois confirmadas por outros tribunais superiores ao da Primeira Instância. Ao final ainda tivemos o espetáculo da prisão no Sindicato de São Bernardo, uma ópera bufa onde não faltou até uma “missa negra”.
Como sempre resta a esperança acreditemos que vencerá não a República dos velhacos, mas, sim, a República de Curitiba. In Moro we trust.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga