DEUS E A MAÇONARIA

Ambrósio Peters

A tradição maçônica firmou como consenso não oficializado o incentivo à livre e incessante busca da verdade, mas sem jamais impor essa investigação filosófica aos maçons como um dever a cumprir. A Maçonaria somente a sugere como opção individual, desejando e considerando essa investigação um instrumento insuperável na busca do aprimoramento cultural e moral pessoal que, este sim, é o ideal maior esperado de cada maçom.

Investigação da verdade é o ato de submeter à razão crenças e princípios, tendo como móvel mestre a dúvida filosófica. Só ela tem o poder de levar o homem à plena consciência de suas convicções pessoais. A investigação livre da verdade é sempre indagação sem aceitações prévias, ao passo que a fé é aceitação sem prévia indagação.

Embora não seja habitual, pois a investigação livre é, em tese, um caminho sem ponto final, também a razão pode levar à aceitação de verdades julgadas definitivas. É bem verdade que isso pode estabelecer, por decisão pessoal livre, um limite à continuidade da investigação, mas torna a fé consciente. De qualquer forma, é uma contradição cultuar ou tornar obrigatória a fé em um Deus em grupos que, como a Maçonaria, proponham como lema a busca livre e incessante da verdade.

Essa circunstância nos leva a uma pergunta intrigante. Se alguém, membro de um grupo que cultua oficialmente o Grande Arquiteto do Universo, assumindo o seu direito de pensar livremente, em resposta a um incentivo do próprio grupo, chegasse a uma concepção de Deus diferente, como o Deísmo por exemplo, ou o Politeísmo, deveria ele abandonar o seu grupo por destoar dele com sua nova filosofia? Esta é certamente uma situação contraditória, mas que deveria ser esperada, ainda que excepcionalmente.

Como premissa dessa postura liberal da plena liberdade de opção, e para evitar situações assim contraditórias, seria desejável que nos rituais maçônicos não se cultuasse, nem direta nem indiretamente, um dogmático Ser Supremo sob o nome de Grande Arquiteto do Universo, predefinição de uma concepção abertamente teísta (1). Não se deixariam de lado as menções ao Grande Arquiteto por ser a Maçonaria contra o Teísmo, mas por julgar a postura dogmática inibidora da liberdade de pensar.

Se essa questão fosse levada na devida conta se evitaria que rituais excessivamente elaborados – e que contém o culto ao Grande Arquiteto do Universo – fossem confundidos com a finalidade da própria Maçonaria, numa inaceitável inversão de valores. Os rituais nunca deveriam conter uma profissão de fé, o que não deve porém ser entendido como uma negação da fé, pois essa norma teria o exclusivo sentido de preservar a neutralidade. Os ritos jamais deveriam ser considerados mais que simples regras e cerimônias a serem seguidas com a finalidade de manter a regularidade do funcionamento das atividades conjuntas dos grupos que as engendraram. Assim os rituais de grupos não religiosos, como a Maçonaria, não deveriam conter elementos nem práticas religiosos.

Estaria a Maçonaria então sugerindo a todos os iniciados que exponham à dúvida os seus próprios princípios de fé pessoais?: Não, porque a Maçonaria considera a liberdade de pensar um direito, e não uma obrigação, e espera que essa opção seja assumida livre e conscientemente. Remetemos o leitor ao capítulo final deste livro, “A Filosofia Maçônica”, que se aprofundará nesta questão da indagação plena da verdade.

A busca da verdade nunca poderá ser tomada em grupo. Por isso é um caminho árduo, filosoficamente solitário, não compartilhado. É certamente essa a razão pela qual tão poucos o trilhem, mesmo no seio da Maçonaria. O que se poderia fazer em conjunto seria estudar formas práticas e racionais de se lançar à busca desse caminho.

Sob esse aspecto nada têm as religiões a temer da Maçonaria em relação aos seus fiéis. Sabe-se que menos de dois por cento das pessoas reúnem a coragem e a capacidade cultural para submeter à indagação filosófica os seus princípios religiosos. Na Maçonaria esse percentual de pensadores pode elevar-se em razão de contatos diretos pessoais entre pensadores e cépticos’. Os que não são cépticos nem livres pensadores e têm sua fé firme dificilmente se deixarão afetar por rápidos e distanciados contatos.

Então, repetimos, em razão dessa posição liberal, seria altamente desejável que uma instituição de caráter universalista como a Maçonaria não professasse em seus rituais, de forma dogmática, o culto a um Grande Arquiteto do Universo. Bastaria adotar sempre uma posição de completa neutralidade, não negando nem afirmando oficialmente a existência ou não de um Deus.

Essa neutralidade como regra maçônica satisfaria a teístas, deístas’ e ateus (4). Estes últimos, ou seja, os racionalistas, contrariamente ao consenso vulgar, não negam peremptoriamente a existência de um Deus, apenas julgam irrelevante tratar de sua existência. Com essa neutralidade se preservaria também a posição de fé da grande maioria dos maçons que praticam suas religiões, e se consolidaria o postulado maçônico da neutralidade e o caráter de universalidade da Ordem.

Essa atitude racional levaria a Maçonaria a evitar a introdução de quaisquer resquícios de práticas religiosas em suas reuniões, como já acontece no Rito Moderno ou Francês, deixando as convicções pessoais exclusivamente para o foro íntimo de cada maçom. Pode-se dizer que a Maçonaria se aproximaria da posição de neutralidade do Iluminismo (5).

O conhecimento de Deus.

Ainda não há uma epistemologia desenvolvida a partir dos novos conhecimentos da moderna Astrofísica, embora eles tenham modificado profundamente a compreensão da natureza e da origem da matéria e do Universo. A falta de novos filósofos para desenvolver uma reformulada epistemologia a partir desses novos conhecimentos era já uma preocupação de Albert Einstein6 (1879 -1955). Os atuais conceitos religiosos de Deus continuam ancorados nos antigos preceitos politeístas adaptados para o Monoteísmo.

Essa nova epistemologia certamente teria modificado aqueles tradicionais conceitos de Deus e de Criação. Na falta dela, continuam as religiões cristãs a defender o acesso direto ao conhecimento de Deus e não poderia ser diferente, pois na visão cristã Deus é um Ser Supremo, corpóreo, de formas definidas, com atributos e poderes, uma noção que certamente uma nova filosofia não adotaria.

Há também a visão teísta de duas grandes religiões não cristãs, o Judaísmo e o Islamismo, que não desenvolveram um sistema teológico como o do Cristianismo. Os princípios básicos dessas duas religiões se aproximam da visão da nova ciência pois concebem Deus como um ser incorpóreo e ilimitado no tempo e no espaço, inacessível às nossas especulações filosóficas, ainda que o considerem criador do Universo com todos os seus atributos. Não é fácil compreender essa posição pois atribuir qualificações temporais a um ser atemporal exigiria que se tivesse pelo menos um conhecimento primário de Deus, contrariando preceitos bíblicos invocados.

A visão deísta, condenada pela teologia cristã, é semelhante à dessas duas religiões. Segundo ela, Deus não tem formas nem atributos. É uma essência primordial não cognoscível e, apesar disso, é o criador do mundo, o que supõe atributos, pois ser criador é um atributo. Não obstante, o Deísmo diverge do Judaísmo e do Islamismo na questão do acesso ao conhecimento de Deus. Aos judeus e muçulmanos Deus se manifesta através de revelações divinas, ao passo que para os deístas manifesta-se ao homem através da
Natureza. Diferente é a posição dos ateus e dos iluministas, que não afastam a hipótese da existência de um Deus, mas negam a sua ação causal na origem e nos acontecimentos do Universo, que julgam auto-suficiente. Deístas, ateus e iluministas concordam que Deus não pode ser diretamente objeto do nosso conhecimento.

Estas são as posições básicas, segundo os conceitos tradicionais. Há algumas subclassificações filosóficas do ateísmo, cuja menção não é pertinente neste momento.

Apenas não podemos aqui nos omitir em relação a determinada posição, a dos assim chamados ateus estúpidos’, que não racionalizam a negação de Deus. Simplesmente não aceitam a ideia de sua existência por não compreenderem porque um Deus, dito todo poderoso e bom, se existisse deixaria a humanidade sujeita a infindáveis sofrimentos quando um simples ato de Sua vontade os poderia evitar. Observavam, em determinada época da história, que esse Deus das religiões parece tirar tudo dos pobres para dar tudo aos nobres e aos burgueses.

Embora não sejam racionais, as alegações destes “ateus estúpidos” não deixam de ser legítimas. Na verdade esses ateus são muito mais numerosos do que habitualmente se possa pensar. Não concordamos com o epíteto “estúpido”, que se poderia aplicar também a todos os teístas que semelhantemente não racionalizam a sua fé. E da sua tradição cultural a censura aos que não professam um Deus.

Deus é, na definição teísta, o criador deste Universo e, assim, é por força anterior a ele, face à seqüência temporal causa/efeito, que não pode ser invertida. Segundo o conceito geral tudo o que existe tem uma causa e deve existir em algum lugar e ser constituído de um substrato. Então se Deus deve estar em algum lugar, esse lugar deve por lógica ser anterior e independente deste nosso Universo. Também não pode ser constituído da mesma natureza da energia que constitui a matéria que conhecemos, porque foi ele que a criou. Também, o Universo não pode ter emanado da suposta energia eterna de Deus porque então seria também eterno.

Mas se Deus – falamos de um Deus teísta – deve estar em algum lugar, o que nos parece lógico se tem formas e atributos, ou mesmo só atributos, e se este lugar não pode ser este Universo, onde poderia estar ele?

Esta pergunta é pertinente porque, dada a necessidade de ser Deus constituído de alguma essência concreta, deve estar ou existir em algum Universo concreto que, para conter um ser infinito, deverá por definição ser também infinito. E neste caso, sendo infinito, não seria esse Universo também Deus? Ou, então, poderia estar Deus em um Universo semelhante ou paralelo ao nosso? Certamente não, pois nosso Universo é provadamente finito. Um outro Universo, para ser paralelo ao nosso, teria que ser por definição e pela circunstância também da mesma natureza, ou seja, também finito.

 

Poderia estar então esse Deus em um Universo diferente do nosso, um Universo também dos espíritos e dos anjos, um Universo de Deus? Teríamos novamente um Universo diferente sim, mas com um Criador, tanto do seu próprio quanto de todos os outros possíveis universos. Não seria esse Universo também eterno, já que teria que ser infinito? E onde estaria Deus antes de criar o seu próprio Universo? E como poderia um ser de formas finitas, ou um Universo de formas finitas, ser eterno e infinito?

Parece que, por mais que raciocinemos, vamos nos enveredando por um cipoal intricado, resultado de não se saber a que chegar por não se poder definir onde se quer chegar.

Para as pessoas religiosas que se preocupam com esses assuntos, Deus e os espíritos têm formas e habitam o “sobrenatural”, o hipotético Universo da morada de Deus, uma mera forma de dizer, com o prefixo “sobre”, que haveria uma correlação, ou ligação, entre o nosso natural e aquele Universo situado acima do nosso, numa suposta escala de posições espaciais. Mas para ser superior (sobre-natural) ao nosso Universo deveria, esse Universo de Deus imaginado ser da mesma natureza que o nosso Universo, senão essa escala de posições não seria possível.

Essa discussão poderia se prolongar ao infinito porque seu conteúdo peca pela base. Tudo o que estamos discutindo está baseado em suposições, quando não em meras fantasias, pois jamais se conseguiu provar a existência nem do Deus do teísmo, nem dos espíritos, nem do seu céu. Estamos supondo que exista esse outro Universo, sobrenatural, o Universo de Deus, ou o dos espíritos, a que as religiões usualmente chamam de céu. Dizer Deus um ser concreto já é uma qualificação espacial e temporal.

A digressão dos itens anteriores foi necessária para que se possa ter alguma base para a discussão que encetaremos a seguir, a de que a existência real de um Deus não é demonstrável através da prova da necessidade da existência de Deus.

A Realidade de Deus

Será Deus uma realidade? Esta é apenas uma pergunta para introduzir uma questão filosófica. Não é uma afirmação negativa nem a expressão de uma dúvida, porque para um pensador nenhuma questão filosófica tem uma resposta definitiva. Para um verdadeiro pensador é natural perguntar: Se Deus existe, se Deus é um ser real, não deveria poder-se provar tranquilamente a sua existência?

Afirmar que não se pode provar a existência de Deus não é certamente afirmar que ele não existe. A ausência de provas jamais inibiu o senso comum de crer em Deus. Para os teístas a existência de Deus é inegável e duvidar disto é uma heresia filosófico-teológica. Mas, entenda-se bem, não estamos aqui pretendendo provar que Deus não existe, nem queremos defender o ateísmo ou qualquer outra corrente filosófica correlata.

Estamos apenas afirmando – e é o pretendemos demonstrar – que não se pode provar logicamente, nem que exista, nem que não exista um Deus que seja um ser real, com as vontades, as formas e os atributos que os teístas lhe atribuem.

Os Nomes de Deus

Provas de Deus, ou as provas da necessidade da existência de Deus, ou da existência de deuses, são típicas dos teístas que preconizam um Deus, ou deuses, corpóreo ou incorpóreo, com atributos, qualidades e até formas humanizadas e individualizado com nomes.

Os teístas não formulam suas pseudo-provas para dar uma base lógica à sua fé, mas para se defender de eventuais acusações de irracionalidade da parte dos que não comungam de seu pensamento. O Deísmo e o Ateísmo e suas variações (Panteísmo(8), Cepticismo, Pessimismo(9)) jamais se preocupam com provas da existência de Deus, pois defendem a tese de que Deus não pode ser objeto do conhecimento racional. Todas julgam irrelevante a discussão em torno da existência de Deus, ainda que possam aceitar tacitamente a sua existência.

Tanto quanto tentar a prova da existência de Deus, também é característica teísta histórica atribuir-lhe nomes que expressem, ou não, os seus poderes e os seus atributos, uma reminiscência do antigo politeísmo. Essa prática segue a necessidade geral de atribuir nomes a todos os seres, concretos ou abstratos, que chegam a ser objeto do conhecimento. Assim, não passam de nomes, apenas, o Grande Arquiteto do Universo, ou Deus, ou Ser Supremo, ou Criador, ou Onipotente, ou Odin, ou Júpiter, ou Osíris, ou quaisquer outras denominações que satisfaçam a intenção de dar identidade a um conceito especificamente teísta da divindade”(10).

Osiris

Todos aqueles nomes, ao final, pretendem transmitir os diversos conceitos particularizados que as diversas religiões ou credos formaram oficialmente daquele que creem ser o criador da nossa realidade. Esses nomes, não importa o que tentem representar, ou tentem simbolizar, são na verdade úteis apenas para identificar os conceitos e nada significam fora do seu contexto religioso. O nome Alá nada significa para um cristão, Brahma nada significa para um judeu e assim por diante. Então não tem sentido o dizer popular de que todas as religiões invocam um mesmo e único Deus. Cada religião tem um nome próprio para o seu conceito próprio de Deus.


Brahma

Esses nomes divinos têm a exata função dos nomes que nos são dados quando nascemos, como João, Manoel, José, Francisco etc., e não importa qual seja o escolhido. São meros rótulos para individualizar seres, tanto quanto são rótulos palavras como árvore, casa, beleza, cor, habilidade etc. que se usam para identificar seres reais ou seres pensados.

Nomes somente identificam os seres dos quais estamos falando, ou as suas qualidades e os seus estados, não importando se esses seres são deuses imortais, ou simples objetos materiais, ou simples atributos desses deuses e desses objetos, ou se são meras conceituações filosóficas. Os deuses e os seres serão sempre invariavelmente concretos se forem considerados elementos da uma realidade perceptível, mas os atributos com os quais os qualificamos e os estados em que os consideramos são abstratos, pois existem apenas na mente, enquanto pensados.

O nome Deus, ou qualquer outro que o substitua, dito isolado de um contexto filosófico-religioso não apresenta nenhum significado em especial. Porém se ligado a algum Ser Superior idealizado por alguma corrente de pensamento assume esse nome um significado próprio e definido. Nestes casos a palavra Deus passa a rotular um ser presumivelmente concreto e real. Os nomes, todos, são símbolos que representam conceitos.

Todos os seres do nosso Universo são percebidos ou conhecidos porque deles podemos formar conceitos através de suas formas, ou de suas qualidades e atributos, o que só é possível por serem todos constituídos de um substrato concreto denominado energia.

O homem ainda não pôde definir de forma inteligível o que é esta energia que é o substrato de tudo o que existe no nosso Universo, mas pode-se saber de sua existência pela interpretação de suas manifestações concretas na realidade.

Mas se é atribuído a Deus um substrato concreto como necessário para que possa ser pensado como ser real segundo os nossos conceitos, parece-nos necessário concluir que também ele tem formas semelhante às de nossa realidade, pois foi sob esta realidade que se desenvolveu todo o nosso sistema de conhecimento.

A habitual resposta teísta nos diz que a realidade de Deus é um mistério insondável a respeito do qual é inútil especular e em seu apoio citam os “Livros Sagrados”. Esta resposta, não obstante, bíblica, védica, corânica etc., parece vir ao encontro do pensamento deísta de que Deus não pode ser objeto de atividades especulativas.

Vemos nisso uma contradição. A fé impõe que as ordens de Deus sejam obedecidas, mas se ele não pode e nem deve ser objeto do nosso conhecimento, como podem essas ordens ser recebidas e compreendidas?

Isto nos faz lembrar Santo Agostinho, o grande pensador, a quem se atribui a conhecida parábola do menino à beira-mar. O santo teria encontrado um menino que com um dedal punha água do mar dentro de um pequeno buraco que cavara na areia cia praia. O que fazes? ter-lhe-ia perguntado Agostinho. Quero pôr toda a água do mar neste buraco, teria sido a resposta do menino, que em seguida desapareceu. Agostinho teria tomado isso como uma repreensão divina por sua insistência em querer compreender o dogma da Trindade Divina ou, em outras palavras, compreender Deus.

Os Conceitos

Todo o conhecimento humano está alicerçado em conceitos elaborados a partir de seres quadridimensionais(11) de nossa realidade e toda a atividade intelectual não pode desenvolver-se a não ser por intermédio desses conceitos, que são os únicos de que podemos dispor.

Dizer que Deus é um ser que apenas “É”, ou apenas “É Aquele Que É”, são expressões que por si nos informam que a respeito dele não podemos formar conceitos e, portanto, não podemos conhecê-lo. Disso é lícito concluir que não podemos atribuir-lhe qualificações e sem atributos as indagações filosóficas carecem de sentido lógico. Isto posto, Deus não pode sequer se tornar objeto de percepções intuitivas, pois a intuição, como parte do sistema do conhecimento humano, também está sujeita à necessidade de conceitos.

A tese de que podemos conhecer Deus intuitivamente se baseia no fato de haver homens que teriam a capacidade de intuir conhecimentos sem necessidade de conceitos. Essas intuições se referem a um ser de outra realidade e portanto só poderiam ser descritas através de comparações com objetos ou conceitos de nossa realidade. Dificilmente se poderá dizer que essas comparações descritivas alcancem seu objetivo, pois são sempre experiências pessoais que não podem ser repetidas para que possam ser analisadas e estudadas cientificamente.

Às considerações de que não podemos construir conceitos não baseados em nossa realidade finita costuma-se objetar argumentando, por exemplo, que os conceitos de beleza e justiça são intuídos sem necessidade desses conceitos. Ora, beleza e justiça são também conceitos abstratos construídos a partir de nossa realidade. Beleza é a qualidade do que é belo e belo é atributo de um ser concreto que tem formas perfeitas e proporções harmônicas segundo tradições e costumes. Justiça é a conformidade com o direito e justo é a conformidade à equidade, que é determinada por leis e tradições. Portanto não vemos intuição nos conceitos de beleza e justiça construídos a partir de conceitos de nossa realidade. Se assim não fosse, beleza e justiça seriam conceitos universais invariáveis, o que não são, pois variam de acordo com os momentos e os ambientes históricos

 Beleza

Assim, tanto quanto os conceitos abstratos de beleza e justiça, também os atributos dos seres fantasiosos, ou não reais, como as próprias qualidades atribuídas ao Ser Supremo, Criador, Onipotente etc. são sempre derivados dos conceitos convencionais de nosso mundo. Todos os conceitos abstratos são formulados a partir de situações reais e, em última análise, se ligam necessariamente a seres concretos.

Falar do conceito de Deus em sentido teísta sempre nos leva a considerações sobre os conceitos de seres finitos e infinitos, ou de seres criados e incriados, como seres de duas naturezas ou de duas realidades distintas. Sempre que pretendemos nos referir aos conhecimentos dessas duas, ou de outras realidades porventura existentes, não temos outra alternativa que não seja a de fazê-lo por conceitos expressos através de palavras e/ou de gestos, que são símbolos conceituais.

Essa necessidade de conceitos condiciona o homem a falar de modo apropriado apenas do que existe e acontece neste mundo. Falar de uma realidade estranha à nossa, como seria a realidade de Deus, da qual não se pode formar conceitos, seria simplesmente conjecturar, atitude nada conveniente para compor argumentações filosóficas.

A partir disso é evidente a conclusão de que Deus, sob todas as conceituações, é um ser do qual nada poderemos saber, nem de sua essência, nem de sua constituição, nem de seus atributos e nem do lugar onde está. Contudo estes seriam conhecimentos indispensáveis no caso do Teísmo. Se não os podemos ter, por não podermos formar conceitos de sua realidade infinita, devemos contentar-nos com as revelações contidas nos livros sagrados cuja autoria não raro é posta em dúvida pelos próprios exegetas teístas. Certamente o seu conteúdo estará sempre muito sujeito às oscilações do espírito humano.

Esses conhecimentos ditos revelados são evidentemente subjetivos. Caso contrário não variariam tanto de livro sagrado para livro sagrado, já que teriam sido feitos por um Deus hipoteticamente o mesmo para todos. Essa subjetividade certamente não parte de Deus, mas do homem. Essas revelações são por vezes suplementadas por raros cientistas terrenos(12) cuja ciência se formou e cresceu suportada exclusivamente por conceitos gerados a partir de um Uni-verso composto de seres finitos quadridimensionais (ou quânticos(13)).

Sabemos que cada cultura terrena tem o seu próprio conjunto de conceitos. Esses conjuntos formam sistemas de conhecimentos que evoluem de geração em geração e dificilmente se intercambiam com os de outras culturas. Sempre divergem fundamentalmente, e isso torna impraticável uma comparação entre essas diversas culturas.

Por esse mesmo motivo não podemos, por exemplo, avaliar os princípios filosófico-religiosos dos povos hindus sob a ótica dos conceitos dos povos cristãos, ou daqueles dos povos islâmicos, ou dos povos judeus ou de qualquer outro povo que não comungue por tradição das idéias hinduístas, fundamentalmente diferentes dos sistemas conceptuais ocidentais.

Dessa forma, se não podemos julgar acontecimentos de um sistema terreno pelos parâmetros de um outro sistema terreno, também não podemos julgar o que acontece no infinito pelos conceitos formados a partir da realidade finita desta Terra ou deste nosso Universo, porque o finito e o infinito são duas realidades distintas.

Qualquer temática filosófico-teológica deve ser tratada dentro dos elementos de um mesmo sistema conceptual, a não ser que se consiga estabelecer uma linguagem comum a todos os interlocutores. Caso contrário essa eventual dialética se transformará certamente num diálogo de surdos, como acontece geralmente com as tentativas de permuta de idéias entre pessoas de sistemas de pensamento diferentes, como entre um cristão e um hinduísta. Poderíamos dar o exemplo prático de uma pessoa de poucas letras tentando captar o indizível significado de uma pintura expressionista moderna através das palavras do pintor. Seria um diálogo de surdos, pela falta de uma a linguagem comum.

Então, como uma realidade distinta, um Universo eterno alheio ao nosso, poderia ter um sistema conceptual semelhante ao do nosso mundo finito? Essa possibilidade certamente poderia ser admiti-da se a construção dos conjuntos de conceitos de cada realidade obedecesse a um padrão invariável para todas as realidades. Isso é improvável porque as gêneses dos variados sistemas de conceitos têm como base seres e circunstâncias seriais nunca coincidentes no tempo e nem no espaço.

Os múltiplos sistemas conceituais surgidos aqui mesmo, na nossa Terra, são diferenciados não só por distanciamento material entre elas, mas também por defasagem no tempo. Temos os evidentes exemplos da filosofia oriental, da filosofia ocidental e da visão do mundo dos povos ameríndios. Diferem tão profundamente porque surgiram em três compartimentos naturais culturalmente estanques e em três períodos históricos distintos, o que os impediu de sofrerem influências recíprocas durante sua formação.

Quando na Europa já nasciam as primeiras universidades e a filosofia ocidental, os povos onde havia surgido a cultura oriental já estavam decadentes e os povos nativos da América apenas estavam iniciando seu processo cultural.

Essa é uma lição que já nos foi dada por Moisés. Pretendendo levar um grupo de hebreus e escravos fugitivos do Egito a formar uma nação e fazê-los abraçar o Monoteísmo, isolou-os no interior do deserto arábico por quarenta anos, mantendo-os assim afasta-dos da influência do forte Politeísmo então dominante em todo o Oriente Médio. Quando Moisés chegou com eles diante da Terra Prometida, já comandava um povo que, com fé inabalável num Deus único, se transformara numa nação com um sistema conceptual religioso próprio e único, formulado nas agruras do deserto, longe de todos os outros povos.

Os nossos conceitos terrenos também constituem um sistema organizado de pensamento que também se formou na Terra, um território isolado dos sistemas conceituais de outros sistemas do imenso número de planetas do nosso Universo. Esta observação deveria fazer refletir aqueles que afirmam já terem se comunicado com seres alienígenas, que evidentemente têm também seus sistemas conceituais próprios.

Habitualmente se supõe que os seres de outros mundos possam se comunicar com os seres desta Terra através da emissão de simples ondas de pensamento, sem a necessidade de palavras, sem a necessidade de conceitos, o que é uma utopia. Palavras são símbolos utilizados para expressar conceitos, e como poderia alguém transmitir por pensamento alguma ideia a respeito de qualquer coisa sem que o fizesse através de algum simbolismo comum a ambas as partes, mesmo que transmitidos, mentalmente? No caso da nossa Terra o único simbolismo conhecido para transmitir pensamentos é o das palavras. Raramente se utilizam sinais, gestos ou outros símbolos, que no caso devem também ser conhecidos e comuns a ambos os interlocutores.

Praticamente desde o momento da concepção é o cérebro humano treinado para se comunicar através de palavras representativas de conceitos e nos parece sumamente improvável que nosso cérebro possa repentinamente passar a interpretar vibrações externas que lhe quisessem transmitir imagens conceituais sem que o fosse por meio de palavras e imagens de origem terrena.

Tal qual é impossível comunicação entre realidades distintas, também a comunicação entre dois interlocutores somente é possível se ambos tiverem as mesmas palavras para os mesmos conceitos a respeito dos mesmos seres. Um interlocutor que se expresse em japonês não entenderia outro que falasse apenas o português e vice-versa. Jamais se compreenderão a menos que ambos consigam representar seus conceitos com palavras comuns, ou seja, que um aprendesse a língua do outro, ou ambos aprendessem um idioma comum. Atualmente a língua inglesa desempenha esse papel.

A identidade objetiva dos conceitos entre o transmissor e o receptor é indispensável. O recurso à intuição, como um ato de comunicação com um Universo sobrenatural, é habitualmente citado como forma independente de comunicação, que não cremos possível. Na verdade quem não está apto a se expressar por conceitos não pode se comunicar.

Diz a ciência moderna que o conhecimento humano não pode ultrapassar os limites do momento do Big Bang, a grande explosão primordial que deu origem ao nosso Universo atual. Esta teoria limita todos os nossos conhecimentos científicos e todos os conceitos básicos sobre os quais desenvolvemos nosso sistema cultural à percepção inteligente dos seres ao alcance do nosso conhecimento, que surgiu após aquele início. Substituir o Big Bang por outra origem menos explosiva não mudaria a questão.

O que houve, ou o que existiu, antes do Grande Início não está ao nosso alcance porque este início é o horizonte final dos acontecimentos, o limite final a que podemos chegar com nossa capacidade de observação da realidade.

Mesmo uma hipotética revelação divina da verdade, ou uma hipotética captação intuitiva de conhecimentos sobrenaturais, ou uma eventual percepção intuitiva direta de Deus, ou mesmo alguma fantasia mística, tudo nos chega ao conhecimento através de conceitos. Isso impede que compreendamos o que exista ou o que ocorra em outros universos sobrenaturais ou paralelos ao nosso, e torna inviável a revelação, a intuição ou o misticismo como formas de comunicação com o sobrenatural.

A Gênese do Conceito de Deus

Como teria o homem primitivo chegado à ideia da necessidade da existência de um Deus, que as gerações tornaram um elemento cultural tão forte a ponto de muitos a considerarem inata?

Nos primeiros momentos históricos da humanidade sentiu o homem primitivo a necessidade de se comunicar com seus semelhantes e o fez por primeiro gesticulando e emitindo sons orais. Não tendo ainda condições de formar pensamentos abstratos, limitava suas comunicações à realidade imediata ao seu redor. O cérebro ainda não se desenvolvera o suficiente para torná-lo apto a raciocinar a partir de objetos e seres que estivessem fora do seu campo de visão.

Lentamente esses primeiros conceitos concretos simples se interligaram e construíram um sistema conceptual calcado na realidade circundante. Passo a passo, e à medida em que evoluíam as suas necessidades de comunicação, esse primitivo sistema foi evoluindo até se formarem os pensamentos abstratos, não mais representando objetos ou seres concretos. Esses pensamentos abstratos o capacitaram a formar o fundamental sentido de causa e efeito. Percebeu que tudo o que acontecia tinha uma causa.

Quando o homem viu as montanhas vomitando fogo através dos vulcões, ou sentiu o efeito dos terremotos e de outros fenômenos climáticos que o fustigavam, a ansiedade lhe trouxe à mente atribuir esses fatos a alguém muito poderoso, muito mais forte do que ele.

Estava também habituado a ver sempre se sucederem causas e efeitos e que tudo o que acontecia à sua volta era causado por alguém. Então concluiu que também esses fatos misteriosos ao seu redor deveriam ter um causador. Viu-se frágil ante os poderes da natureza e desse senhor todo poderoso. Sem condições de conceber qual seria essa causa desconhecida, deu-lhe apenas um nome: chamou-a Deus, ou deuses.

As crianças hoje ainda repetem essa infância da humanidade ao terem primeiro que conhecer e entender o mundo ao seu redor para só então, cerca dos doze anos de idade, partir para a formação de um sistema de conceitos não mais calcados sobre a realidade material do seu dia-a-dia. Ao chegar a adolescência, começa a formar um novo sistema de conceitos abstratos e se torna apta a conceituar o que está fora do seu campo de visão, ou fora de sua realidade física. Esse é um perfeito retrato do desenvolvimento cultural da humanidade.

O homem primitivo apenas acreditava no seu poder e passou a temê-los, e ao temê-los passou a ter medo de duvidar deles. Foi somente com o nascimento da filosofia, na Grécia, no quinto século antes de Cristo, que pela primeira vez o homem se atreveu a pensar que poderia não existir um Deus. Passou a se manifestar uma preocupação com a busca de provas para a existência de Deus, ou dos deuses, muito provavelmente porque surgiram as primeiras dúvidas.

Para os gregos a busca dessas provas parece ter sido mais uma atividade mental para exercitar a sua bela filosofia recém-descoberta do que propriamente a necessidade de encontrar uma explicação lógica para a existência dos seus deuses.

Se haveria apenas um só deus ou muitos deuses foi um questionamento que não poderia deixar de surgir.

Cada fenômeno tinha sempre a sua causa própria, segundo as observações. A sequência lógica foi admitir que cada fenômeno natural tinha também o seu próprio poder superior – o fogo, o vento, o trovão, o relâmpago etc. etc. – e o homem concebeu muitos deuses. Fê-los poderosos, e pedia clemência a cada um deles em sua hipotética jurisdição de poder, quando o perigo o ameaçava. Julgou que pedir-lhes clemência nas horas do aperto o poderia livrar de desastres iminentes. Quando era atendido ficava devendo favores ao seu invocado, esquecendo-se das múltiplas vezes em que não era atendido. O agradecimento pelos esporádicos favores recebidos fez nascer o rito religioso e começava a nascer o espírito das religiões.

A seguir vieram as religiões nacionais com seus deuses pátrios e então os próprios reis se transformaram em deuses para aumentar o seu poder. Na sequência histórica, os homens tenderam para a adoção de um deus supranacional, um deus da Terra toda, um deus que governasse a todos os homens, e estava nascendo o Monoteísmo.

Com o progredir dos conhecimentos foram os deuses se afastando conceptualmente dos homens. No início eles moravam perto deles, nas altas montanhas, nos territórios tabus, nos grandes rochedos, nos rios, nos lagos. Esses deuses sempre presentes em todas as fases da vida eram seres materiais, misteriosamente ocultos durante o dia e temidos durante a noite. Depois passaram a ser temidos todo o. tempo, e o homem temeu-os como temia a todos os poderosos. Todas as religiões teístas ainda agem sob o signo desse mesmo medo.


Amenofis

Houve uma primeira tentativa frustrada no Egito, do faraó Amenofis IV (1372 – 1354 a.C.), de instituir como deus único o disco solar (Aton). Imediatamente após a sua morte os sacerdotes de Amon deram fim à sua aventura monoteísta. A grande introdução do Monoteísmo a devemos originalmente ao líder hebreu Moisés(14) (*entre 1350 a.C. a aprox. 1250 a.C.). Era ainda o Deus de um povo escolhido, mas já um Deus de toda a Terra, a quem todos deviam obediência e submissão total. Vemos que Amenofis IV e Moisés estiveram muito próximos no tempo histórico; Moisés certamente ainda teve, através da tradição, contato posterior com a aventura monoteísta de Akenaton, e não é absurdo pensar que poderia ter se deixado influenciar por ela.

Já houve pronunciamentos semioficiais importantes a favor da criação divina no Big Bang, como o do Papa Pio XII em seu discurso intitulado As Provas da Existência de Deus à Luz das Modernas Ciências Naturais, pronunciado frente à Academia Pontifícia de Ciências, em 23 de novembro 1951(15), e publicado na Acta Apostolicae Sedis – anno XXIII, de 15 de março de 1952. No seu pronunciamento o Papa aceitou o Big Bang como “um vigoroso Fiat Lux”.

Assim podemos também considerar a opinião do teólogo israelense Gerald L. Schroeder, PhD, que em seu livro O Gênesis e o Big Bang(16) procura identificar, com muita propriedade, os dois grandes eventos explicativos da criação do Mundo. Também não podemos deixar de citar uma ainda mais livre interpretação dos textos bíblicos, principalmente do texto da criação, exarados pelos rabinos David J. Goldberg e John D. Rayner em seu magistral livro Judeus e Judaísmo(17).

São na verdade importantes pronunciamentos que não produziram o eco que se esperaria, evidentemente porque sua aceitação provocaria mudanças fundamentais nos respectivos sistemas conceituais religiosos, pois de princípio teria que ser reinterpretado todo o texto bíblico. Não obstante esses pronunciamentos e não obstante não se observar em parte alguma do Universo qualquer sinal ou resquício arqueológico de que o mundo tenha sido criado como descrito na-quele texto, ele continua sendo aceito Universalmente no mundo judaico-cristão, com as raras exceções de algumas pessoas cultas.

Com os progressos e o desenvolvimento do conhecimento intelectual o Deus ou os deuses foram se afastando do homem e da Terra. As religiões teístas conservaram um Deus de formas humanas, mas transferiram sua moradia para um céu, um lugar não desta Terra nem deste Universo. Porém todas as suas características eram, e ainda são, de um Deus com todas as qualidades humanas em grau infinito.

Libertado o pensamento no correr dos séculos XVI e XVII começaram a nascer as ideias do Deísmo. Um Deus feito à imagem e semelhança do homem deixou de ser racionalmente aceitável. E o Deus passou a não ter mais um lugar ou um céu para morar. Tornou-se apenas um princípio criador, uma força cósmica universal cuja essência pareceu indefinível. Deus passou a ser um ente inacessível ao homem muito antes mesmo de serem conhecidas as modernas teorias da Astrofísica.

Mas é importante lembrar que, de geração em geração, de tanto se ver repetida a ideia de uma causa necessária para tudo o que acontece e existe neste nosso Universo, e de tanto ser imposta por reis e sacerdotes, a ideia da necessidade de Deus, ou deuses, se incorporou às tradições culturais, acompanhando o processo evolutivo. E nasceu disso a convicção dos teístas de que o homem tem naturalmente a ideia de Deus que lhe lembraria sua criação divina.

No inconsciente do homem residem inumeráveis ideias semelhantes à da necessidade de um Deus. Veiamos o seguinte exemplo em que o resultado do processo de sua fixação é mais perceptível. Quando admiramos uma pintura ou um desenho automaticamente temos a sensação de contemplar uma imagem em três dimensões, isto é, dotada de profundidade. O desenho de uma bola logo é visto por todos como uma bola e não como um círculo plano e esta percepção é automática, não precisa mais ser ensinada.

Observando o desenho da bola veremos que ela tem um sombreado na parte inferior, e justamente esse sombreado é o responsável peia aparência de alto relevo. Invertendo a posição do desenho, de modo que o sombreado fique na parte superior do desenho, surpreendentemente ver-se-á não uma bola mas uma cavidade. Este fenômeno é provocado pela observação constante de que as sombras sempre ficam na parte inferior dos objetos devido à habitual posição superior, tanto da luz do sol como das luzes das iluminações artificiais.

A observação constante transformou essa percepção de alto e baixo relevo em condição genética. Da mesma forma o consenso da necessidade da existência um Deus é fruto da observação sistemática e permanente da lei da causalidade.

Assim com o passar dos séculos foi se formando no inconsciente do homem esse consenso segundo o qual devem existir seres poderosos Responsáveis por tudo o que acontece aqui na Terra e nos céus. Procurava-se uma causa e encontrou-se, ou criou-se, um Deus para estar presente entre os homens e os vigiar.

 

 

Ir AMBRÓSIO PETERS.
A R L S “Os Templários”
GOB/ParanáOr de Curitiba – PR.
Escritor, Historiador Filosofo e Livre Pensador.
CURITIBA, quarta-feira, 5 de julho de 1995

 

1 – Teísmo é a doutrina que admite a existência de um deus corpóreo ou incorpóreo, causa do mundo, sujeito a variações de humor e de atributos humanos.

2 -Cepticismo: Atitude ou doutrina segundo a qual o homem não pode chegar a qualquer conhecimento de forma indubitável, quer seja nos domínios das verdades de ordem geral, quer seja no domínio de algum campo predeterminado do conhecimento.

3 – Deísmo: Sistema ou atitude dos que, rejeitando toda espécie de revelação divina aceitam, todavia, a existência de um Deus, destituído de atributos morais e intelectuais, que poderá ou não ter influído na criação do Universo.

4 -Ateísmo: Atitude ou doutrina que dispensa a ideia ou a intuição da divindade, quer do ângulo teórico (não recorrendo à divindade para se justificar ou fundamentar), quer do ângulo prático (negando que a existência divina tenha qualquer influência na conduta humana).

5 – lluminismo (Filosofia das Luzes): Movimento filosófico do séc. XVIII que se caracterizava pela confiança no progresso e na razão e pelo incentivo à liberdade de pensamento.

6 – Monteiro, Irineu, Einstein – Reflexões Filosóficas. pg 51,

7 – Constituições de Anderson. GOB. pg. 50.

8 – Panteísmo: Doutrina segundo a qual só Deus é real e o mundo é um conjunto de manifestações ou emanações dele. Deus é a soma de tudo quanto existe.

9 – Pessimismo: Doutrina segundo a qual o mal predomina sobre o bem, valendo mais não ser do que ser, e que não vale a pena procurar Deus.

10 – Propositadamente não incluímos Javé e Alá, por serem deuses incorpóreos, ainda que tenham todos os atributos do Deus dos teístas cristãos. O Judaísmo e o Islamismo não têm uma teologia própria e estão mais próximos do Deísmo do que do Teísmo.

11 – Comprimento, largura, altura e espaço/tempo.

12 É raro encontrar ainda algum cientista categorizado apegado aos tradicionais concei-tos teológicos. Vide Brockmann, John. Einstein, Gertrude Stein, Wittgenstein, Frankenstein. pg 252 e sgs.

13 A Quântica descreve um universo que no campo das partículas é probabilístico, isto é, nele o resultado de aplicação das leis da Física nunca pode ser totalmente previsível.

14 – É importante observar que Akenaton e Moisés são de um mesmo período histórico e tiveram um mesmo ideal, o Monoteísmo.

15 – Wells, H.C. a alei. Nós e a Vida, Vol. III, Apêndice 1, pg 338.

16 – Schroeder, Gerald L. O Gênesis e o Big Bang. pg 114 e sgs.

17 – Goldberg, David J. e John D. Rauner. Judeus e Judaísmo. pg 33 e sgs.

 

 

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