Natasha Romanzoti,
Uma nova pesquisa da Universidade de Washington e da Universidade Carnegie Mellon (EUA) desenvolveu uma tecnologia que substitui a linguagem como forma de comunicação, ligando diretamente os cérebros de três pessoas.
A atividade elétrica do cérebro de duas delas serviu como sinal para uma terceira completar uma tarefa, sem que elas tivessem contato umas com as outras.
“Internet de cérebros”
Esse não é o primeiro estudo que testa a comunicação direta entre cérebros.
Um dos pesquisadores líderes desse campo, Miguel Nicolelis, por exemplo, conduziu um experimento que ligou o cérebro de vários ratos criando uma rede ou um “computador orgânico” complexo. Os roedores tinham atividade cerebral sincronizada e se saíam melhor em tarefas do que animais individuais.
Será que o mesmo pode ser feito com seres humanos, ou seja, uma rede de cérebros conectados que funcionam como um supercomputador biológico?
O estudo
No novo estudo, três seres humanos em salas separadas colaboraram uns com os outros em jogo do tipo Tetris, no qual deveriam orientar os blocos para encaixá-los. Dois indivíduos agiam como “enviadores” de sinais (estes podiam ver o jogo), e um como “recebedor” (este só tinha que escolher a orientação).
Os “enviadores” estavam conectados à eletroencefalogramas (EEGs). Para passar a mensagem ao “recebedor” sobre a orientação do bloco, focavam em um flash de luz a determinada frequência. As diferenças nas frequências causavam diferentes respostas cerebrais.
Um pulso magnético era enviado ao “recebedor” usando estimulação magnética transcraniana (EMT). Dependendo do sinal, ele virava ou não o bloco. A partir desse momento, todos viam o resultado do jogo, o que deixava os “enviadores” saberem se o “recebedor” fez o movimento certo, medindo assim a eficácia da comunicação. O trio podia em seguida podia tentar melhorar sua performance.
Para aumentar o desafio, os pesquisadores às vezes adicionavam alguma “interferência” ao sinal enviado pelos “enviadores”. Nesse caso, os “recebedores” ficavam confusos com as informações ambíguas. Rapidamente, no entanto, eles aprendiam a identificar e seguir as instruções mais confiáveis.
Ao todo, cinco grupos de indivíduos foram testados na rede chamada de “BrainNet,” e tiveram mais de 80% de eficácia em completar a tarefa.
Avanços
Esse é o primeiro estudo no qual os cérebros de vários indivíduos foram conectados diretamente de uma forma não invasiva. A quantidade de pessoas que podem ser “ligadas cerebralmente” dessa forma é ilimitada.
Apesar disso, a informação sendo compartilhada era muito simples: uma instrução do tipo “fazer ou não fazer”, ou seja, “sim ou não”.
Questões éticas
Apesar deste estudo ser menos invasivo que outros como o da DARPA, também levanta preocupantes questões éticas.
Por exemplo, poderia uma interface ou rede cerebral deste tipo ser usada para coagir uma pessoa a fazer algo que não queira, invadindo o seu senso de agência? Poderia ser usada para extrair informações confidenciais, invadindo a privacidade do indivíduo? De forma geral, poderia atrapalhar o senso pessoal (senso do “eu”) de um ser humano?
Uma das nuances da linguagem humana é que aquilo que não é dito é frequentemente mais importante do que aquilo que é dito. Se tais redes se tornarem comuns e permitirem toda uma “abertura” descontrolada de pensamentos e trocas de informações, talvez os benefícios se mostrem menores do que os prejuízos: é o nosso senso de autonomia individual que pode estar jogo.