É freqüente ouvir-se falar do Templo de Salomão e sempre glorificando sua grandiosidade, sua beleza, seu fausto. Tal celebração ao celebérrimo edifício nos levou a percorrer sua história e avaliar sua real importância artística para poder confrontar o que em verdade ele representa ou representou na prática com o que, ao invés, é fruto de poéticas ampliações.
Estas fantasias podem até ser justificadas se, ao exaltar o edifício, se pretender atribuir-lhe um sentido simbólico e alusivo fazendo referência a um templo espiritual que a alma humana constrói dentro de si. O próprio Cristo, quando falou de um templo que seria capaz de destruir e reconstruir em três dias, aludia a um edifício espiritual e não a um templo material. A esta segunda e mais concreta expressão queremos dedicar nossa especial atenção neste trabalho, ainda que sucinto e reduzido.
Salomão reinou depois de Davi, entre os anos 974 e 932 a.C., um período de 42 anos; Ele iniciou a construção do templo no quarto ano do seu reinado, ou seja, entre os anos 970/969 a.C. prolongando-se os trabalhos por sete anos e meio.
Chega-se à conclusão, através da Bíblia, de que este edifício de culto foi construído em pedra talhada revestida de uma profusão de materiais de madeira, ouro e bronze, dando origem a uma magnificência que hoje chamaríamos bárbara, mas que evidencia aquele sentimento de “honror ao vazio” característico de uma civilização ainda nos seus primeiros passos.
O lugar escolhido para a edificação foi a colina denominada Moriah, sobre a qual se situava a esplanada de Orna (Araunah), o Jebuseu, lugar onde Davi levantara um altar. Ao término de uma peste que dizimara o povo de Israel teria; nesse lugar aparecido um anjo com a espada desembainhada. Referido altar deveria estar provavelmente sobre a famosa rocha que fica no centro da mesquita de Omar chamada também de “O Domo da Rocha”.
O templo salomônico estava orientado, isto é, com a fachada voltada para o oriente, e se compunha de três recintos dispostos consecutivamente, um após o outro, todos com a mesma largura de 11 metros. Em primeiro estava o vestíbulo de 5,50 m. de profundidade, a seguir vinha o recinto chamado “Santo”, com 22m. de profundidade e por último o compartimento chamado “Santíssimo” ou “Santo dos Santos” com 11 m. de profundidade. As alturas eram: do vestíbulo acima de 16,50 (talvez 22m.), do recinto central 16,50m e do “Santíssimo” 11m. É fácil observar que todas as medidas são múltiplos exatos de 0,55m., isto é, do côvado, razão pela qual, por exemplo, o “Santo dos Santos” era um perfeito cubo de 20 côvados de lado.
Parece que devemos excluir do vestíbulo do templo a rocha sobre a qual teria aparecido o anjo vingador que deveria estar localizada diante do templo; o altar erigido por Davi foi substituído por Salomão pelo altar de bronze dos holocaustos. A divisão do templo em três vãos se referia expressamente aos três reinos da natureza, o vestíbulo representando o mar, o “Santo” a terra e o “Santíssimo” o céu. O comprimento total do edifício, excluídos os muros, era de 38,50m o que leva a crer, conforme Ricciotti, que ele tinha o porte de uma modesta igreja de província, em nada comparável aos imponentes edifícios contemporâneos de Tebas e Babilônia.
Externamente foi acrescida a três lados do edifício uma série de pequenas câmaras de 2,75 m. (5 côvados) de altura, em número de trinta por plano, e que sobrepostas em três planos perfaziam um total de 90 câmaras. A largura delas aumentava paulatinamente com a altura, à medida que as paredes do templo se adelgaçavam progressivamente para o alto.
O vestíbulo era precedido de duas colunas de bronze de 18 côvados de alto (9,90m) e mais um capitel esférico, atingindo uma altura total de 12,65m parecendo-se de certo modo com um grande taco de bilhar. Os nomes das colunas transmitidos pela Bíblia são Jakhin e Boaz, mas parece preferível uma tradição mais antiga que as quer denominadas Jakhun e Beoz, significando “é estável” e “com força”, assim que o templo seria uma força estável e inabalável. O vestíbulo continha seguramente o dito “mar” de bronze apoiado sobre doze bois também de bronze dispostos em grupos de três orientados para os quatro pontos cardeais, tratava-se de um enorme recipiente cheio de água do qual se tirava o líquido para os ritos e as abluções; havia ainda doze grandes bacias para o transporte da água movidas sobre carrinhos.
É problemática a colocação no mesmo recinto do altar dos holocaustos, porque parece difícil que um vão tão pequeno (5,50 x 11m), dimensões de um pequeno apartamento residencial, pudesse abrigar tanto material, sem contar com a multidão de oficiantes que não deveriam ser poucos. Por este motivo julgamos que o altar dos holocaustos estivesse fora do templo, inclusive a rocha sobre a qual ele estaria apoiado; há ainda outros motivos que adiante discutiremos.
O recinto que se seguia ao vestíbulo, o “Santo”, revestido de madeiras de cedro e cipreste e outros materiais preciosos, continha o altar de ouro para os perfumes e os incensos, a mesa para os pães de proposição e os dez candelabros de ouro maciço.
Finalmente vinha o “Santíssimo”, a casa de Deus, onde era conservada a famosa “Arca da Aliança” constante de uma caixa medindo 0,67 x 1,12m contendo as tábuas da lei recebidas por Moisés no monte Sinai; ao seu lado havia duas estátuas de querubins com as asas distendidas; não se sabe ao certo se eram figuras de animais conforme costumes babilônicos ou se eram figuras humanas. Parece mais provável a segunda hipótese porque, se a influência babilônica sobre Israel ainda estava longe de se fazer sentir, a influência egípcia ainda perdurava. Nada mais ali se continha.
Ricciotti comparou a arca israelítica com um móvel egípcio semelhante constante de um cofre, ou baú, em forma de pequeno templo contendo alguma estatueta ou objeto sagrado. A arca israelítica era transportável pois possuía quatro anéis laterais nos quais se enfiavam duas varas de madeira que permitiam o seu alçamento, enquanto a arca egípcia estava colocada sobre uma barca sagrada que servia de liteira, também sustida por duas varas como mostra um relevo em Karnack. Deve-se acrescentar finalmente que nos templos egípcios, depois das procissões, a barca com a arca sobreposta era colocada sobre um pedestal dentro do recinto de Deus. Acrescente-se ainda que antes da esquematização salomônica a arca de Israel havia sido trazida a Jerusalém por Davi, e colocada num pavilhão especialmente construído.
No que concerne à execução dos outros adornos sagradas do templo diz a Bíblia que os cedros e ciprestes vieram por mar até Jaffa e que daí foram transportados até Jerusalém. Os objetos de bronze foram executados por Huram-abhi (menos bem Hiram Abiff) artista de Tiro, que os fundiu junto a Sukoth, no vale do Jordão. Contudo a Bíblia omite o nome do arquiteto, porém disto falaremos depois. Por hora continuemos com o nosso templo.
O recinto de Deus estava separado da sala central por uma parede de madeira de cedro na qual se abria uma porta pentagonal, semi-aberta, mas oculta por um véu que impedia a visão do interior do “Santíssimo”. A porta que ligava a sala central com o vestíbulo era quadrangular.
Juntos estes três recintos formavam o Templo de Deus. Situava-se em meio a um pátio descoberto delimitado por um muro e denominado “átrio interno”. Um segundo pátio mais amplo e situado mais abaixo rodeava o primeiro e se denominava “átrio externo”. O muro do átrio interno tinha três portas correspondentes a três pontos cardeais e devemos crer que junto aos muros do segundo e mais amplo pátio houvesse anexas algumas construções não descritas na Bíblia que contudo deveriam existir porque na antigüidade qualquer templo anexava as condições de banco, de depósito de dinheiro e objetos preciosos, de escola, de biblioteca e de arquivo, e outras manifestações da vida civil. A área que fazia parte do esplanada de Orna, o Jebuseu, além da instalação do Templo foi utilizada também para edificação do palácio real situado junto ao ângulo sudoeste da esplanada atualmente denominada Haram-esh-Sharif.
E chegamos ao segundo templo.
No intervalo entre o século X e o século VII assiste o mundo à ascensão do império assírio-babilônico. Sabe-se perfeitamente que se tratou de uma civilização guerreira empenhada na submissão dos povos das terras a sudeste do mar Mediterrâneo.
No decurso de repetidas guerras os Assírios primeiro, e depois os Babilônios, conquistaram a Síria, a Palestina e o Egito. Quando chegou a vez do modestíssimo reino de Judá a população hebraica foi deportada para as margens do Eufrates e o templo de que nos ocupamos foi totalmente destruído. Esta primeira deportação aconteceu em 597 a.C.
Uma segunda deportação veio no ano de 582 e foi mais limitada. Para o lugar dos hebreus foram deslocadas outras populações também elas estirpadas de seus locais de origem, Estes povos, quando os israelitas voltaram posteriormente à pátria, se comportaram hostilmente em relação a eles considerando-os intrusos. Da transferência forçada provavelmente se salvaram os extratos mais humildes da população, como por exemplo pastores, operários comuns, homens do povo e outros da mesma natureza.
Do templo certamente restaram visíveis as fundações e os embasamentos, naturalmente recobertos por vegetação, entulhos e terra como sempre acontece com as ruínas antigas desde que o mundo é mundo. Mas cerca do final do VI século a potência assírio-babilônica foi derrotada pelos persas de Ciro que em breve consentiria no retorno à pátria de origem das numerosas populações deportadas para a Mesopotâmia. Entre estas estavam os israelitas que se organizaram em uma primeira caravana comandada por Zorobabel e Joshua (Josué ou Jesus) filho de Josedec, sumo sacerdote. Ela partiu em 537 a.C., e a primeira coisa a que se dedicou apenas chegada ao destino foi a reconstrução do templo. Mas as populações alienígenas se opuseram a isto firmemente, e os trabalhos tiveram que ser adiados.
Provavelmente o que se conseguiu então foi apenas reformar as fundações, fixar os perímetros das bases e fazer reparos em muros. Depois tudo parou.
Nada se sabe dos 17 anos seguintes, e também Zorobabel desaparece de cena. Uma segunda tentativa teve lugar em 520 quando, instigados pelos profetas Ageu e Zacarias, os israelitas voltaram a erigir o templo; os trabalhos duraram quatro anos e meio e terminaram em fevereiro de 515. A construção tinha as mesmas medidas da salomônica, ficando contudo muito inferior na riqueza das decorações, dos ornamentos e das alfaias. A casa de Deus estava dentro dos dois conhecidos átrios, ou pátios, um interno e outro externo, cuja separação se desconhece, se é que havia delimitações, mas parece que sim pois um dos tais muros teria sido derrubado em 159 a.C. por Alcimo. O altar dos holocaustos sem dúvida estava fora porque em época mais tardia o príncipe Alexandre Janneo foi perseguido a pauladas pela plebe enfurecida quando se encontrava junto ao altar em questão, o que seria impossível se o altar e implicitamente a rocha, estivessem dentro do vestíbulo. Como a reconstrução recopiou sem dúvida o precedente templo salomônico, também este devia consequentemente apresentar análoga disposição como sugerimos.
No “Santíssimo” do templo reconstruído faltou a arca da aliança e os dois querubins provavelmente queimados na destruição de 586. Já na ala principal os dez candelabros foram substituídos pela Menorah, um único candelabro de sete braços. Neste meio tempo os invejosos vizinhos tentaram novamente obter dos dominadores persas que pelo menos os muros externos de Jerusalém não fossem reconstruídos. Em face disto se providenciou para que os judeus que permaneceram a serviço do rei da Pérsia tomassem conhecimento da situação de insegurança a que eram constrangidos a viver os que retornavam a Jerusalém.
Então o príncipe Nehemias veio a Jerusalém por volta do ano 445, com a devida autorização régia para prosseguir na reconstrução do muro em questão, empresa que foi completada em 52 dias. Durante os trabalhos os operários permaneciam com a espada na cintura a fim de rebater imprevistos ataques das infiéis tribos existentes ao derredor.
Era tarefa do escriba Esdras providenciar neste meio tempo a reconstrução moral, a formação de uma consciência cívica, ética e religiosa naquela população abandonada. Nehemias, concluída a obra tornou a Susa no ano de 433; contudo ainda antes de 424 teve de retornar a Jerusalém para insistir na ação anterior de valorização moral e religiosa. Depois disso nada mais se soube dele. Análoga a sorte de Esdras que repatriado a Susa, teve novamente de apresentar-se a Jerusalém em 398 a fim de prosseguir na tarefa de ressaneamento moral; Depois disto também ele desapareceu de cena.
Chegamos assim ao terceiro templo, o de Herodes o Grande, que depois foi destruído pelos romanos de Tito. Segundo modelo de reconstituição de Schnick o conjunto dos edifícios herodianos era idêntico ao do segundo templo, salvo o complemento de um edifício correspondente a ala meridional, construído precisamente nesta terceira fase. Os trabalhos foram iniciados nos anos 19/20 a.C., e duraram nove anos e meio.
Algumas variantes foram introduzidas nos variados pátios. O mais externo foi chamado de “átrio dos gentios”, porque acessível a todos; o mais interno foi dividido em duas partes, sendo a parte mais distante do templo chamada de “átrio das mulheres”, e a oura outra “átrio dos israelitas”. O pátio no qual se projetava o templo sagrado e o altar dos holocaustos era denominado “átrio dos sacerdotes”, em substância se pode concluir de varias descrições que o ordenamento do complexo do templo de Salomão foi sempre respeitado, salvo ligeiras variantes junto aos pátios.
Não se pode deixar de mencionar um outro templo, aquele no qual foi posta a Arca da Aliança depois da saída do Egito e por ocasião do assentamento do povo israelita na Palestina (Jos. 18,1); Este templo foi chamado no livro de Juízes (18,31) de “Casa de Deus”. No primeiro livro de Reis (1,9), ele é chamado de “Templo do Senhor”, e mais adiante de Tabernáculo. Deveria tratar-se de uma construção de pedras porque cerca de 650 a.C. Jeremias assim diz: “ide a minha casa em Silo e olhai o que fiz por causa da malvadeza do meu povo de Israel (Jer. 4,12). Isto significa que no tempo de Jeremias ainda existiam as ruínas desta “Casa de Deus” e por conseguinte não poderia ter sido uma simples tenda, ou um pavilhão construído com materiais facilmente perecíveis como panos ou madeiras, pois neste caso, depois de quatrocentos anos, tudo estaria integralmente corroído pelas intempéries.
Teria sido uma construção em pedras mas duas formas e dimensões são imprecisas. Podemos todavia conjecturar tratar-se de um edifício modesto em parte também destinado, como se conclui lendo a história de Samuel, a moradia de uns poucos oficiantes dedicados ao funcionamento do culto, com encargos parecidos com os de um sacristão, como por exemplo abrir todas as manhãs a porta do santuário. Resumidamente se tem a impressão de uma construção reduzida, austera, e sem qualquer luxo.
Tudo isto considerado não se pode absolutamente comparar o templo construído por Salomão com os templos egípcios, dada principalmente a diferença das medidas,. Basta pensar que o templo de Seti I em Ábidos ocupa uma área retangular de 180 x 546m compreendidos os dois pátios (a parte coberta é de cerca da metade do total). O Ramesseum de
Tebas ocupa uma superfície de 167 x 530m (a parte coberta quase a metade do total). O templo de Amon 90 x 350m (átea coberta idem);
Outrossim quanto à disposição, que nos templos egípcios é muito simples e clássica como a de Khonshu em Kamack, ela consta basicamente de uma dupla colunata cingindo por três lados um pátio ao qual se segue uma sala hipóstila de cinco naves separadas por quatro alas de colunas que se comunica com um santuário dentro do qual se acha um pedestal sustendo a barca sagrada com a arca do deus; por trás desse santuário segue um segundo recinto com colunas e por fim três celas menores. O templo, como descrito, ocupa uma área de 30 x 75m.
Tal esquema, às vezes mais outras vezes menos complicado, é o que se apresenta nos numerosos templos egípcios, compreendidos os supracitados, cujas dimensões assumem uma escala gigantesca. Assim, por exemplo a sala hipostila do Ramesseum mede 80 x 120m, podendo portanto conter, ela somente, quatro ou cinco vezes o templo de Jerusalém.
Por tudo isto, e por faltarem correlações e semelhanças, é de se excluir também a hipótese de que na construção do templo salomônico se tenha pretendido de qualquer modo copiar os modelos arquitetônicos da Assíria ou da Babilônia.
Também neste caso a diferença de escala é em muitos casos enorme e a disposição dos ambientes muito divergente. Nada resta do templo situado sobre Zigurat de sete planos chamado Etemenanki, a famosa torre de Babel, edificado em Babilônia como morada do deus Marduk. Ainda em Babilônia o templo de Ischtar, que remonta ao VII/VI século a.C., tem uma escala bastante próxima à do templo de Jerusalém, medindo cerca de 30 x 40 m., mas nada possui em comum com o seu traçado pois apresenta uma série de câmaras intercomunicantes dispostas em torno de um quadrado.
Os templos de Korschabat, cidade assíria construída no século VII a.C. pelo rei Sargão, se desenvolvem também adjacentes a átrios e pátios, e constam de uma única nave às vezes prolongada por uma cela menor. Todavia alguns têm uma disposição em sucessão, isto é em profundidade, de um vestíbulo, uma sala e uma cela, ainda que as proporções sejam diferentes. Sua organização arquitetônica é bastante próxima a do templo salomônico que contudo precede cronologicamente estas construções assírias. Por esta razão se deve concluir que estas copiaram aquela, e não vice-versa. Mas consideremos que no correr dos séculos a tipologia de qualquer lugar sagrado tendesse a assumir a forma de uma nave retangular com um recinto, ou cela, ao fundo. Assim se pode conjecturar que eventuais semelhanças sejam mais fruto natural e comum da evolução de um determinado esquema arquitetônico do que uma obediência estilística.
Mas uma verdadeira semelhança com Jerusalém revela um outro templo recentemente escavado no norte da Síria. Aí, entre Antioquia e Alepo, existiu em tempos remotos um grande principado, o principado de Unqui, do qual foram trazidos a luz duas cidades, uma das quais deve ter sido a capital. Esta corresponde ao sítio modernamente conhecido como Tell Ta’Ynat, sobre o rio Oronte, não longe de Antioquia, e parece tratar-se da cidade bíblica de Kalno, ou Kinalua.
A outra cidade foi localizada próxima a Tell Ayn Dara. Ai foi escavado um templo estruturalmente semelhante ao de Salomão, em relação ao qual as diferenças consistem na redução a uma galeria com pórtico das noventa câmaras que rodeavam o perímetro do templo de Jerusalém. Ainda que a planta tenda ao quadrado foi mantida a sucessão em profundidade do vestíbulo-sala-cela e acrescente-se que as duas construções são contemporâneas.
Uma comparação entre as diferentes decorações e esculturas é impossível por causa das depredações e do tempo decorrido, circunstâncias que terão destruído o material ornamental; mas os detalhes do monumento Sírio revelam suas ligações com a área da cultura figurativa neo-hitita da Síria do Norte, do início do primeiro milênio a.C.
O edifício sírio por sua vez apresenta o vão da porta de entrada tripartido por duas colunas segundo um motivo que se poderia chamar “alla Palladio”. característico (pela raridade de colunas na arquitetura assírico-babilônica que reduz bastante a área de caracterização) da ordem siríaca denominada “Bit Hilani”, que segundo Gurney constava, de uma porta monumental em dois planos com pilastras a que se chegava por uma escadaria que levava a um átrio bastante largo mais de pouca profundidade, ou seja como no templo de Tell Ayn Dara ou como no templo salomônico.
Este parece haver copiado dita estrutura de ingresso.
Um edifício a “Bit Hilani” é o que se encontra no conjunto do grande complexo real de Korshabat, acima mencionado. André Parrot diz tratar-se de uma construção de origem anatólica ou síria do norte, copiada pelos reis assírios, que
as admiraram no decurso de suas campanhas guerreiras. O nome “Bit Hilani”, adverte Guerney, foi decifrado em uma tabueta de Mary de 1700 a.C. (Mari era uma cidade antiqüíssima situada a meio curso do Eufrates). O mencionado edifício de Korshabat apresenta o aspecto de um pavilhão provavelmente destinado a funções habitacionais de especial interesse. E semelhante função devem ter assumido numerosos “Bit Hilani” de Zengirli dos quais Fletcher apresenta desenhos bastante claros.
Justamente o fato de os “Bit Hilani” terem servido de residência principesca deve ter sido tomado como base para os projetos de Tell Ayn Dara, isto é, para morada de deus. O mesmo deveremos afirmar do templo de Jerusalém cujo desenvolvimento em profundidade, e também em largura, poderá também ser atribuído a reminiscências egípcias.
A descoberta de Tell Ayn Dara confirma todavia a derivação norte-síriaca do templo bíblico trazendo consequentemente a aceitável hipótese, para não dizer certeza, de que tal monumento tenha sido projetado pelo fenício, ou sírio-fenício, Hiram Abif.
Assim se poderá perguntar porque a Bíblia se preocupou em registrar o nome do escultor e omitiu o do arquiteto? A isto se poderá facilmente responder que até uma época bastante recente a arquitetura foi considerada como suporte das artes maiores, isto é, da pintura e da escultura, de modo que o nome dos arquitetos são apenas vagamente lembrados até por ocasião da inauguração de grandes edifícios muito famosos; veja-se o exemplo do Partenon cujos frisos e relevos todos sabem que são de Fídias, mas poucos sabem que a arquitetura se deve a Ictino e a Callicrates. O mesmo vale para outras importantes construções da antiguidade e também da Idade Média.
Assim, tudo somado, podemos estar seguros de que o arquiteto a serviço do rei de Israel tenha sido um sírio das dependências do rei de Tiro, e que a figura do anônimo projetista e do mencionado escultor coincidem na mesma pessoa de Hiram Abif.
Com este modestíssimo trabalho pensamos ter contribuído para apresentar uma simples sucessão cronológica de fatos ligados à arquitetura jerosolimitana, mostrando os mais recentes achados arqueológicos e as conclusões mais atuais dos estudiosos da Ordem acerca das particularidades e da origem histórica do sagrado Templo de Salomão.
Do Irm Renzo Pardi
Tradução Do Irm Ambrósio Peters
Revista Hiram
Out / 87 – G
Or de Itália