Percival Puggina
No dia 5 de dezembro de 1891, há 130 anos, morria em Paris a extraordinária figura humana de D. Pedro II, último monarca brasileiro e aquele que mais entranhadamente amou nosso país. Porque nascido aqui, diferentemente de seus antepassados que reinaram no Brasil (D. Maria I, D. João VI, D. Pedro I), esta era sua pátria e seu chão e foi um pouco desse chão que ele levou, como lembrança, dentro de um travesseiro quando, deposto, partiu para o exílio com sua família.
Sua mensagem de despedida nos diz o seguinte:
“A vista da representação que me foi entregue hoje, às três horas da tarde, resolvo, cedendo ao império das circunstâncias, partir com a minha família para a Europa, amanhã, deixando assim a pátria, de nós estremecida, à qual me esforcei por dar constante testemunhos de entranhado amor e dedicação durante meio século que desempenhei o cargo de Chefe do Estado. Na ausência, eu, com todas as pessoas da minha família, conservarei do Brasil a mais saudosa lembrança, fazendo ardentes votos, por sua grandeza e prosperidade”.
Dois anos mais tarde, matou-o uma pneumonia contraída ao passear em dia frio às margens do Rio Sena. Materialmente pobre, com a ajuda de amigos, vivia o exílio parisiense hospedado no modesto hotel Bedford. No Brasil, com notícia de sua morte, a instável política republicana que dava seus primeiros passos desautorizou, receosa, atos públicos em reverência ao monarca deposto. No entanto, manifestações e sinais de luto, bandeiras a meio pau, tarjas pretas e comércio fechado revelavam o pesar com o óbito e o desconforto com a política estabelecida pelo golpe republicano.
Longe daqui inúmeras nações se fizeram representar na missa de corpo presente, realizada na Igreja da Madeleine, em meio a pompas reais e admiráveis sinais de apreço. As cenas então filmadas tornam evidente a reverência popular, política e a significativa presença das grandes Academias de Letras, Ciências, Artes honrando o notável brasileiro.
Mais de 200 coroas de flores exibiam mensagens: “Ao grande brasileiro, benemérito da Pátria e da Humanidade”, “Um negro brasileiro, em nome de sua raça”, “Tempos felizes, em que o pensamento, a palavra e a pena eram livres”. Dentro do caixão, acompanhava seu corpo o conteúdo de um pacote encontrado nos aposentos do hotel. Com ele, um bilhete: “É terra de meu país, quero que seja posta dentro do meu caixão se eu morrer longe de minha pátria”.
O exemplo e o amor ao Brasil tão longamente demonstrado por D. Pedro II nos 49 anos em que usou, modesto e honrado, a coroa do Império, exercendo com sabedoria o Poder Moderador, nos sirvam de inspiração!
Mormente nestes tempos em que poderes, tão impropriamente exercidos, restringem as liberdades de pensamento, palavra e pena.
Percival Puggina (76),
membro da Academia Rio-Grandense de Letras,
é arquiteto, empresário e escritor e
titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo;
Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões;
A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.