O exemplo de Clint Eastwood

 

 

Mauricio Nunes, em a Toca do Lobo
05/06/2023

 

 

O filósofo Rousseau dizia que “na juventude deve-se acumular o saber e na velhice fazer uso dele”. O ator, músico e cineasta Clint Eastwood soube, como poucos, seguir bem este “conselho”.

Completando na data de hoje seus 93 anos de idade, o astro que esbanjou virilidade em toda sua carreira, acumula desde seus 20 poucos anos muitas experiências por seus inúmeros trabalhos no mercado cinematográfico, tornando-se parte da cultura popular americana.

Eastwood é a prova viva da tese de que não paramos de nos divertir por ficarmos velhos e, sim, envelhecemos porque paramos de nos divertir.

Clint não envelhece, apenas se diverte com o que faz.

Ele já se tornou uma canção pop e até já foi homenageado por bandas de rock – uma delas inclusive batizada com seu nome – além de ter se tornado personagem de vídeo game e até de quadrinhos.

Teve referências à sua pessoa, ou seus personagens, em inúmeros filmes; foi indicado várias vezes ao Oscar; já faturou por duas ocasiões a tão sonhada dobradinha melhor filme/melhor diretor, isto sem contar as centenas de prêmios que já recebeu por sua vasta carreira.

Clint, apesar do histórico político mais voltado para os republicanos, decidiu não apoiar Trump na eleição de 2020, optando pelo democrata Michael Bloomberg, que desistiu de concorrer, cedendo a vaga (e apoiando) Biden.

Mas a história do ator com a política vai um pouco além, já que foi prefeito de Carmel, uma das cidades mais charmosas da Califórnia, onde ainda abriga seu rancho, aberto a visitantes, que aliás, quando lá estive, infelizmente não encontrei o astro passeando de cavalo por ali, como de costume.

Seu mais recente filme, “Cry Macho” (2021) emociona pela leveza e sensibilidade, porém não é tão simbólico quanto “A Mula”, filme de 2018, que conta a história (verídica) de um nonagenário floricultor que, de uma hora para outra, embarca no mundo do tráfico, transportando drogas, atravessando o país com sua caminhonete, sempre acima de qualquer suspeita.

O mote do filme é sobre nossa eterna falta de tempo para as coisas realmente importantes.

Numa metáfora perfeita, que eu até pensei que seria um Clint se depedindo (e por sorte não foi), seu personagem se aposenta e arruma, enfim, tempo para curtir a família e o que resta da vida, dando ênfase, por exemplo, à tranquilidade de poder contemplar a beleza de uma flor.

Como é bonito ver um homem com esta idade, e tão ativo, fazendo o que mais ama, aparentemente (pra nossa sorte) sem pressa alguma para se aposentar.

Resumindo, Clint é o retrato perfeito da boa velhice, aquela que é disposta e acumula experiências, colocando-as em prática constante, podendo até enrugar a pele, mas nunca a alma, com tamanho entusiasmo e disposição que este jovem senhor distribui.

Em tempos onde boa parte da juventude anda se perdendo por falta de objetivos, de rumo, cultura e, acima de tudo, por falta de amor talvez, assim como acontece nas tribos, esteja na hora dos caciques, pajés e xamãs – homens que acumulam anos e sabedoria – começarem a interferir para que possamos viver num mundo mais justo, onde os erros dos antigos não sejam copiados e sim reparados, pois para os ignorantes a velhice pode ser o inverno da vida, mas para os sábios é a época da colheita.

 

*     Reproduzido da importante página do autor no Facebook
(A Toca do Lobo)

 

 

 

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