Rodrigo Constantino
30 de agosto de 2017
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Paulo Rabello de Castro e Guido Mantega. Fonte: Fiesp
Uma desgraça como a nossa não é obra do acaso, e sim de muito empenho por parte de muita gente por muito tempo. O PT apenas acelerou o processo de destruição. Mas o partido jamais seria capaz de fazer esse estrago todo sem ajuda, sem cúmplices, até porque, historicamente, sempre contou com algo como um quarto da população o apoiando.
E, de fato, não foram poucos na elite que diminuíram o risco petista ou até mesmo chegaram a elogiar seus líderes. O professor Ricardo Bergamini tem resgatado uma série de notícias, que manda para uma lista da qual faço parte. Seu alvo principal tem sido Paulo Rabello de Castro, economista supostamente liberal, que já foi tido como herdeiro intelectual de Roberto Campos.
Hoje Paulo preside o BNDES e faz de tudo para defender o legado do banco que praticamente criou a JBS como essa gigantesca fábrica de propinas. Justamente pelo grau de decepção em relação às expectativas, a escolha do principal alvo parece fazer sentido.
Se até mesmo um doutor em economia por Chicago, autor de um livro chamado O mito do governo grátis, e que até então era reconhecido como ícone do liberalismo, faz concessões indevidas ao PT, como esperar que o leigo possa agir diferente? Eis a mensagem que Bergamini tem colocado na introdução de todos os emails:
Estou tentando provar o óbvio e o ululante, qual seja: não há nenhuma possibilidade matemática de o PT sozinho, com apenas o 35% dos eleitores, ser o único responsável pela tragédia brasileira. Em 2010, quando o Brasil cresceu 7,5%, o Lula tinha 85% de aprovação e elegeria qualquer poste existente no Brasil, da forma como elegeu Dilma, uma ilustre desconhecida. Agora os arautos da moral e da ética acusam o PT como responsável único pela nossa tragédia.
Abaixo, algumas das notícias ou artigos resgatados com os respectivos trechos sobre ou de autoria de Paulo Rabello de Castro:
Economistas elogiam pragmatismo dos 100 primeiros dias de Dilma
O economista Paulo Rabello de Castro, presidente da RC Consultores e do Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio, disse que a análise dos 100 primeiros dias do governo é “injusta”, por conta dos outros dias que ainda restam. Entretanto, ele pontua que a avaliação é importante pelas “perspectivas que a economia brasileira oferece”.
Rabello citou uma pesquisa realizada junto aos diretores da Fecomercio, na qual a avaliação média do governo Dilma foi “suficiente” nas questões de promessas e programas de governo, imagem e realizações do governo Lula, desafios de conjuntura (inflação, déficit, competitividade e câmbio) e desafios permanentes (pobreza, acumulação, conhecimento, justiça fiscal e projeto Brasil).
O ministro Palocci se destaca por seu profissionalismo e senso de missão. Cercou-se de técnicos competentes. Não adotou doutrinas exóticas. Impressionante, porém, como nenhuma dessas importantes qualidades afastou o erro fundamental da sua política econômica. Sendo o ministro responsável pela coordenação dos aspectos fiscais e monetários, Palocci não quis ousar nenhuma originalidade nesse campo. Palocci foi “ortodoxo” e colheu os resultados convencionais: a inflação ficou controlada, a moeda apreciou-se, o risco-país baixou bastante, a economia cresceu, mas devagar.
Como julgar um comportamento tão prudente? À primeira vista, nada a questionar, menos ainda a reprovar. A ministra Dilma Rousseff, encarregada da chamada “visão estratégica” dentro do governo Lula, resolveu, entretanto, debater a percepção dominante. Não conhecendo a ministra pessoalmente, não posso fazer juízo de suas motivações. Sei, porém, que sua intuição está tecnicamente correta. Em suma, Dilma tem razão.
[…] Longe de representar um atentado à sacrificada estabilidade palocciana, o contraditório ensejado pela ministra Dilma é um saudável exercício de contestação à sabedoria convencional. Um olhar para além do livro de tabuada.
BNDES agiu tecnicamente e teve lucro com Lula e Dilma
O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, afirmou nesta sexta (14) que o apoio à JBS “foi um dos negócios mais bem bolados e bem sucedidos” do BNDESPar, o braço de participações da instituição, que detém 21,3% das ações da companhia. A declaração foi dada durante a divulgação do Livro Verde do BNDES, documento elaborado para defender as operações do banco nos últimos anos e, segundo o executivo, fazer uma “grande prestação de contas, diante de dúvidas suscitadas a partir do momento político”.
Nas contas apresentadas por Rabello de Castro – um economista notoriamente neoliberal – a banco injetou R$ 8,11 bilhões na empresa, recebeu R$ 1 bi em dividendos, vendeu R$ 4,04 bilhões em ações recebidas e ainda tem R$ 6,63 bi em papéis da empresa, em valores do final do ano passado. São, portanto R$ 11, 67 bilhões, R$ 3,5 bilhões a mais que o investido.
Sem medo do futuro
O PRÉ-CANDIDATO José Serra está numa sinuca de bico para afinar seu discurso de oposição. Após elevações praticamente ininterruptas do nível do emprego e da renda assalariada, marcando os oito anos de gestão Lula, fica difícil tentar contestar a avaliação positiva que a grande maioria dos eleitores faz do atual governo.
Na sua argúcia, o gênio político de Lula tenta atrair a oposição para o confronto que lhe interessa e onde é imbatível, na comparação entre os feitos da gestão FHC e a sua, cujo saldo positivo emprestará à campanha de Dilma.
Não há como contrariar a primazia dos oito anos de Lula, até pelo fato de ser ele o período mais recente, de memória mais viva para o público. Além disso, as gestões de FHC e Lula se deram numa sequência em que o último não interrompeu as políticas mais eficazes do primeiro.
A geração de 68
Lula, outro gigante da política brasileira, trouxe de volta, mais do que a moeda, a auto-estima de ser brasileiro, num esforço que ele próprio encarnava ao superar suas próprias limitações de escolaridade e informação para se tornar o grande presidente que é, e provavelmente, o maior de todos. Pensava eu com meus botões que o ciclo estaria, então, completo. De certa forma temos, de fato, uma obra concluída e o edifício da nacionalidade posto de pé sobre fundações estáveis, que são a liberdade, a estabilidade econômica e as garantias fundamentais. Mas agora vejo que, de outro ângulo, econômico e produtivo, talvez não esteja ainda completa a obra política desta geração que se identifica com o ano de 1968, a “geração de 68”.
Presidente do BNDES diz que não houve corrupção no banco
Diante dos apresentadores antipetistas, Castro disse que não encontrou nenhuma corrupção no BNDES, nem agora nem nos governos de Lula e Dilma. Declarou também que as operações de financiamento a exportações de serviços de engenharia foram acertadas, referindo-se ao porto de Cuba e às obras nos países africanos. Segundo ele, o papel do BNDES é ajudar empresas a fazer negócios no exterior, gerando empregos e divisas para o Brasil.
Quando um “liberal” passa a ser muito elogiado por petistas, ou começa a elogiar ele mesmo os petistas, é sinal de alerta vermelho. Agora pensem: se até mesmo alguém como Paulo Rabello de Castro, tido como substituto de Roberto Campos, com doutorado em Chicago, casa de Milton Friedman, age dessa maneira, o que esperar dos “neutros”, dos keynesianos, dos empresários sem convicção ideológica?
Fecho com uma notícia fresquinha, divulgada no GLOBO de hoje:
JBS deve atingir BNDES em novos anexos da colaboração premiada
Os irmãos Joesley e Wesley Batista pretendem entregar à Procuradoria-Geral da República (PGR), em complementação à colaboração premiada assinada em maio, detalhes de agendas, reuniões, registros de ligações telefônicas e operações relacionadas aos contratos do grupo J&F com o BNDES. Os irmãos Batista e executivos do grupo proprietário da JBS trabalham, em conjunto com seus advogados, na elaboração de novos anexos da delação.
[…] No caso do BNDES, haverá um anexo específico com informações relacionadas aos contratos do grupo com o banco. Os delatores, no entanto, não devem admitir pagamento de propina dentro do BNDES para a obtenção de contratos. O que está previsto é um detalhamento de reuniões e ligações telefônicas, especialmente de Joesley com o corpo técnico do banco, além de supostas provas do “empenho” e da “influência evidente” do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para a liberação do dinheiro.
Mas Paulo Rabello de Castro provavelmente vai continuar insistindo no legado do banco que hoje preside. Mesmo que, para tanto, tenha que fechar os olhos até para os escancarados escândalos da era petista. O PT realmente conta com muitos cúmplices, diretos e indiretos. E a destruição que causou ao país jamais teria sido possível sem a colaboração de tanta gente da elite, até mesmo daqueles que se dizem liberais…