Camila Pati
Oportunidades são na área de TI, jogos virtuais, usinagem e administração. Confira o relato e as dicas de um brasileiro que conseguiu emprego
Cidade de Quebec: lá se fala francês (GuiMesquita/Thinkstock)
São Paulo – “Ter a paciência para recomeçar tudo do zero e reconhecer que tudo tem seu tempo para acontecer”. Assim, define o brasileiro Gabriel Silveira Platt, analista programador .NET de 38 anos, qual é parte mais difícil de deixar o Brasil para morar e trabalhar fora.
Há 10 meses morando na cidade de Quebec, no Canadá, Platt é um dos 300 brasileiros já contratados por empresas canadenses nas chamadas missões de recrutamento organizadas pela Québec International, a agência de desenvolvimento econômico da cidade, capital da província canadense em que se fala francês.
A missão deste ano está com inscrições abertas e tem vagas nas áreas de TI, jogos virtuais, usinagem, administração e serviços oferecidas por 22 empresas. Os contratos são temporários de um a três anos, com possibilidade de renovação.
Profissionais podem candidatar-se gratuitamente até o dia 5 de agosto pelo site Quebec na Cabeça. A missão é mundial, mas os brasileiros são “queridinhos” das empresas, que há alguns anos vêm buscar pessoas por aqui. Alto nível acadêmico, experiência profissional, e fácil integração cultural e da abertura para aprender o francês, são as razões por que brasileiros se destacam, segundo a Québec International.
Neste ano, empresas buscam profissionais de TI com conhecimentos de Java, C#, C++, .Net, BI, Oracle, SAP, Microsoft SharePoint, Cobol, visual studio, entre outras.
Companhias do mercado de jogos virtuais querem desenvolvedores e programadores de games e artistas gráficos.
No setor de usinagem, há oportunidades para montadores soldadores, mecânicos industriais, eletromecânicos, especialistas de aplicações (automação), designers de produtos e operadores de máquinas CNC (Controle Numérico Computadorizado).
Profissionais de administração também são procurados para vagas de assistentes de direção bilíngues. Técnicos em ambiente, higiene, saúde e segurança do trabalho também encontram oportunidades de trabalho.
Falar francês é sempre um requisito geral imposto pelas missões. Uma das primeiras atitudes de Platt ao decidir que ia tentar uma oportunidade no Quebec foi estudar francês. “Comecei a fazer aula particular em janeiro de 2015, quando eu e minha esposa havíamos decidido que iríamos imigrar para Québec. No momento das entrevistas, já estava estudando francês havia 1 ano e 9 meses”, conta.
O currículo também deve ser traduzido para o francês e o processo seletivo terá entrevistas em francês, por videoconferência em Skype, que serão marcadas para o período entre 10 e 21 de setembro. De acordo com a agência Québec International, os selecionados recebem suporte das empresas empregadoras nos trâmites e custos do processo de imigração.
Brasileiro conta como foi o processo seletivo
Quando se candidatou a três vagas oferecidas na missão de recrutamento do ano de 2016, o brasileiro Gabriel Platt estava trabalhando como analista de sistema na filial de Florianópolis da multinacional espanhola Indra Company.
No caso dele, o processo seletivo teve quatro encontros por Skype em três meses. “A comunicação foi 100% em francês”, diz.
Da inscrição à análise do currículo foi cerca de um mês. Depois disso, Platt sabia que as convocações aconteceriam em uma semana e nesse período ele recebeu a resposta negativa de duas das empresas para as quais ele se candidatou.
“No entanto, no último dia previsto para as convocações, recebi um e-mail com a convocação para uma entrevista com a pessoa responsável pela aquisição de talentos da empresa que finalmente me contratou”, lembra.
A primeira entrevista durou 15 minutos. “O objetivo desse primeiro contato era me conhecer, a pessoa falar um pouco da empresa e da oportunidade”, conta. Em seguida, Platt fez um teste de domínio de francês e também passou por outra entrevista. “Eu realizei um teste técnico e falei sobre minha experiência profissional no Brasil”, conta.
A proposta de trabalho veio na terceira entrevista e era permanente. “Tratamos sobre valores de salários e benefícios”, diz.
A validação do diploma foi uma exigência da companhia que o contratou e foi feita em paralelo ao processo de imigração. “E no meu caso, a empresa me reembolsou o valor gasto com a demanda de validação do diploma”, conta Platt.
Como funciona o processo de imigração dos selecionados
O contrato de trabalho chegou às mãos de Platt, em janeiro do ano passado por email, onde também havia orientação sobre o processo de imigração. “Assinei o contrato e enviei por correio juntamente com alguns documentos solicitados”, lembra.
Como é a empresa que fica responsável pelo apoio à imigração dos profissionais, é ela quem dá início ao processo de legalização de contrato de trabalho perante ao governo de Quebec. São dois os documentos que a empresa precisa obter com o governo local: Certificado de Autorização do Quebec (CAQ) e o Estudo de Impacto no Mercado de Trabalho (EIMT).
“Assim que a empresa recebeu o CAQ e o EIMT, ela me enviou esses documentos digitalizados e eu pude entrar com o processo de solicitação do visto de trabalho”, conta. As custas do visto de trabalho e equivalência dos estudos também foram reembolsadas pela empresa.
Assim, pelos seus cálculos foram 40 dias de prazo para a equivalência dos estudos, 40 dias para receber o CAQ e EIMT e 30 dias para receber os passaportes com os vistos.
Quebec foi amor à primeira vista, diz brasileiro
Atualmente, o brasileiro tem visto de trabalho fechado com validade até setembro de 2020. “Já estou me preparando para assim que fizer 1 ano de trabalho, entrar com o processo para requerer o visto de residência permanente”, diz.
Morando com a mulher, a filha de um ano, e uma cachorrinha, o brasileiro não pensa em voltar a morar no Brasil. “Nossa família se adaptou muito bem à cidade. Para mim foi amor à primeira vista, me lembra muito minha cidade natal, Florianópolis. Uma capital, com uma população pequena (em relação as outras capitais), com uma cultura muito peculiar, forte, e repleta de belezas naturais”, diz.
A perspectiva de um futuro melhor é o que mais importa para ele e sua família. Foi o que fez com ele e sua esposa deixassem para trás amigos, independência financeira, bons empregos e casa própria no Brasil.
“Deixamos tudo isso para trás. Hoje, após 10 meses, podemos dizer que as coisas estão acontecendo melhor do que planejamos. Profissionalmente, o maior desafio ainda é a língua, mas também um pouco da cultura de trabalho”, diz.
Sua principal dica para quem está planejando fazer uma mudança dessa magnitude na vida é justamente estudar francês e praticar para as entrevistas por Skype, com a ajuda de professor ou de alguém que fale francês. “É muito importante saber explicar sua trajetória profissional e acadêmica, falar de suas experiências, desafios e características pessoais que podem influenciar ou não em uma contratação”, diz.
CARREIRA – VOCÊ S/A
3 jul 2018
Revista Exame