O título pode parecer estranho, mas é adequado para análise de uma situação real de temor, demonstrado por James Anderson ao redigir o seu Livro das Constituições de 1723.
Mas o que poderia temer Anderson ou o que poderiam temer os Maçons naquele início do século XVIII se o próprio Rei George I, reinante desde 1714, rejeitara o sistema de aprendizado inglês, e ignorara completamente a Maçonaria?
Em primeiro lugar consideremos que Anderson termina abruptamente a história da Maçonaria do seu Livro de 1723 sem dizer uma única palavra sobre os acontecimentos que cercaram a fundação da Grande Loja de Londres no ano de 1721, apesar de ele ter sido uma testemunha participante de todos eles. Em segundo lugar, ele evita citar o seu nome como autor do livro, apenas o fazendo quando aparece como mestre de loja na relação dos mestres e vigilantes das vinte lojas que aprovaram o primeiro Regulamento Geral a 24 de junho de 1721. Isto nos parece uma cautela propositada de ocultar seu nome como autor do Livro.
A suspeita de algo estranho no mundo maçônico se acentua quando lemos o “Post Script” colocado ao término de “Os Deveres de um Maçom” do Livro de 1723. Lá, ele diz que aquela página já estava sendo impressa quando recebeu de um eminente irmão advogado, a informação de que o Estatuto do Terceiro Ano do Governo de Henrique VI de 1425, já havia sido abolido pela Rainha Elizabeth conforme uma informação do eminente Juiz Edward Coke.
Anderson havia descrito aquele estatuto do Rei Henrique VI à página 35 do seu Livro de 1723. Naquele estatuto, o Rei Henrique VI determinara que, por estarem violando e prejudicando a correta aplicação do Estatuto dos Trabalhadores, ficavam os maçons expressamente proibidos de fazer suas Assembleias anuais e trimestrais sob pena de aqueles que as promovessem serem processados como criminosos, e aqueles que delas participassem serem presos ou condenados a multas conforme a vontade do Rei.
Procurando o porque da severidade dessa lei, nos deparamos com uma situação social extremamente grave naquele ano de 1425, resultante da enorme perda de cidadãos, principalmente de trabalhadores, provocada pela peste negra que dizimou grande parte da população da Europa nos anos de 1447 e 1449. A falta de trabalhadores inflacionou o preço da mão de obra e os trabalhadores estavam já cobrando salários três vezes superiores aos de antes da peste. Para corrigir a situação, o Rei Eduardo III estabeleceu a Lei dos Trabalhadores de 1351, tabelando severamente os preços dos serviços.
A peste voltou a grassar nos anos de 1362 e 1367 e a situação trabalhista se tornou mais grave ainda. Os trabalhadores se revoltaram contra a lei dos trabalhadores porque, pela primeira vez na história, estavam podendo explorar seus patrões.
Em 1381, estourou a revolta dos empobrecidos trabalhadores dos campos que, auxiliados pelos trabalhadores das cidades, principalmente os maçons, marcharam com um improvisado exército sobre Londres e Essex e pressionaram o Rei Ricardo II a aceitar suas reivindicações. Dominada a revolta, o Rei eliminou seus líderes e retirou as suas concessões. O descontentamento se agravou.
Em 1388, o Parlamento ordenou um levantamento de todas as guildas e fraternidades, exigindo que informassem à Chancelaria sua origem, seus regulamentos e os seus bens. Esse levantamento certamente visava controlar as guildas.
A resistência dos trabalhadores à aplicação da Lei dos Trabalhadores continuou, ainda que sob a vigilância real. E assim, em 1425, o Rei Henrique VI lançou os maçons na clandestinidade o que demonstra que os maçons eram a classe mais forte e numerosa.
Ainda que essa lei tivesse sido cancelada no ano de 1562 pela Rainha Elizabeth, conforme diz o próprio Anderson em seu Livro de 1738, esse ato não deve ter chegado ao conhecimento dos maçons que, temendo a severidade da lei, continuaram se reunindo sigilosamente até o ano de 1723.
Foi, evidentemente, esse temor que levou os nossos irmãos a destruir tantos documentos, tanto no ano de 1685 e como no ano de 1720, conforme relata Anderson em seu livro de 1738.
Confirmando nossa tese, está a ausência de qualquer registro de reuniões de Lojas no contexto daquele Livro de 1723. Os primeiros registros são posteriores ao ano de 1721. Os únicos que temos são os de Elias Ashmole na cidade de Warrington em 1646, em lugar não identificado, e em Londres, na sede da Companhia dos Maçons, no ano de 1682, o que nos é contado pelo próprio Ashmole em seu diário.
A respeito do lugar das reuniões, sabe-se muito pouco. Algumas anotações revelam que, provavelmente, se davam em cervejarias e tabernas conforme indicam os nomes das quatro Lojas que fundaram a Grande Loja de Londres, e, também, a lista de Lojas anexa ao Livro das Constituições de 1738.
Uma ampla pesquisa dos irmãos da Loja de Pesquisas Quatuor Coronati nos mostra que, muitos desses estabelecimentos em Londres, Westminster e subúrbios tinham, no século XVII, ligações com os Maçons, mas não exibem notícias concretas. Como também nenhum autor não-maçom se refere a esse tema das cervejarias e tabernas como lugares de reuniões de lojas maçônicas, jamais chegaremos a ter melhores informações a respeito.