E OUTROS DOCUMENTOS ANTIGOS HISTÓRICOS
DE INTERESSE DA MAÇONARIA
Hercule Spoladore
Apesar da incessante pesquisa, investigação e análise que tem sido realizadas sobre o passado e mesmo no presente, onde quantidade regular e heterogênea de especialistas pesquisadores tem atuado ninguém pode até a presente data produzir ou elaborar um histórico completo da maçonaria
universal.
Ninguém pode afirmar nada sem risco de erro. Os manuscritos antigos ligados à Maçonaria Operativa trazem alguma luz, mas são inconsistentes em muitas das suas afirmações.
São conhecidos como Old Charges ou Deveres Antigos da Maçonaria Operativa, Antigas Constituições Góticas ou Manuscrito das Antigas Constituições ou ainda Constituições Góticas. Mas existem documentos antigos, manuscritos também, que não se reportavam tão somente às antigas obrigações dos homens da construção, ou seja, dos maçons operativos, mas tinham relações com o seu oficio. Consideraremos antigas obrigações qualquer manuscrito que enfoque os construtores e suas obrigações, histórias de assembleias de maçons operativos citando também outros documentos. Não seguiremos o caminho oficializado pela GLUI. Analisaremos outros documentos, numa ordem cronológica de tempo.
Segundo vários autores existem no mundo cerca de 140 manuscritos sendo que 20 estão em local desconhecido ou perdidos, havendo possibilidades de mais alguns que ainda poderão ser descobertos nas mãos de um antiquário, no interior de uma biblioteca arquivados em local errado, ou museu etc. Mas muitos foram destruídos.
A maioria dos manuscritos de interesse maçônico são anteriores a 1717.
Mais de 50 Manuscritos estão em Londres, 13 na Escócia, 03 nos USA, 01 no Canadá 01 na Alemanha e 01 na Itália.
Além de outros em poder de lojas antigas, bibliotecas ou museus possivelmente esquecidos em algum canto, até que sejam descobertos caso já não estejam destruídos como foi o caso das Antigas Constituições de 923 d.C. de York. Não há comprovação de que estas antigas constituições tenham
realmente existido, mas alguns autores afirmam que existiram e foram destruídas na Guerra das Rosas ou das duas Rosas entre 1455 e 1485, caracterizada por um série de conflitos em função da disputa dinástica pelo trono da Inglaterra.
Os manuscritos que restaram foram incorporados às tradições maçônicas a partir do século XVI com o Manuscrito da UGLE como Manuscrito da UGLE n° 01. Situação decidida pelos maçons historiadores ingleses.
George Payne um dos fundadores as Maçonaria Moderna (Especulativa) foi grão-mestre em 1718 e 1721, sendo o segundo e quarto grão-mestre da Grande Loja de Londres. Este Irmão talvez por um erro de avaliação ou loucura mandou queimar documentos livros e manuscritos para que não
caíssem em mãos profanas. Talvez por sorte da Ordem a maioria dos manuscritos tinham cópias, mas muito material foi destruído. Os Manuscritos que não tinham cópias foram perdidos.
Os manuscritos de um modo geral podem ser contestados como fonte histórica, mas tem que se dar o devido valor como sendo uma diretriz, uma linha de conduta, como se fossem um livro que contem as noções essenciais de civilidade dos maçons operativos, especialmente ligada à arte de construir.
Um escritor maçônico de elite, já no Oriente Eterno, Ambrósio Peters afirmou “Os Olds Charges são os regulamentos ou Antigos Deveres da Maçonaria Operativa e que nada tem a ver com a Maçonaria Especulativa a não ser que a antecederam historicamente”.
Aceitando esta afirmação em parte, pois para o pesquisador a relação entre a Maçonaria Operativa e Moderna (Especulativa) existe, mas é muito menor do que se imagina. Mas, existe de fato. Apesar do estudo primitivo da Ordem estar calcado nestes documentos antigos chamados Old Charges (Antigas Obrigações) ou Manuscritos Antigos da Maçonaria Operativa, muito poucos deles têm relação com a Maçonaria atual, a não ser o que a atual Maçonaria emprestou para si, retirado da Maçonaria Operativa através de uns poucos manuscritos e dos costumes.
A história da Maçonaria foi escrita por uma grande parte de autores ingleses que fizeram um trabalho excelente, ainda mais com a fundação da Loja Quatuor Coronati de Londres no 2076, por onde passaram verdadeiros cientistas em história antiga da Maçonaria, mas sempre colocando seu país em primeiro lugar e às vezes desconhecendo ou não tomando conhecimento do que não interessava a eles. A própria Grande Loja Unida da Inglaterra em 1813 (UGLE) se autodenominou como a Loja- Mãe do Mundo. Quem teria dado este poder a ela? O GADU?. Duvido!
Entretanto, não podemos negar que foram os maçons ingleses que fundaram a Maçonaria Moderna (ou Especulativa), que eles organizaram a primeira potência ou obediência no mundo ao fundarem a Grande Loja de Londres. Que dai surgiu a figura do grão-mestre, que até não existia. Aí surgiram os landmarques que também não existiam na Maçonaria Operativa e que nada mais são que um freio, um conjunto de regras, formas de disciplina para que os grão-mestres tivessem mais poder sobre as
suas lojas jurisdicionadas que antes eram livres. Em seguida supervalorizaram os Old Charges para criarem o mito e antiguidade de uma sociedade muito antiga e séria e que este mito fosse o amálgama consistente da novel maçonaria que estava aparecendo. Tornaram a lenda de Hiran Habif mais efetiva, pois ela já existia, porém truncada e misturada com a lenda noaquita, mas que isso foi também necessário, pois toda nação, organização, empreendimento, firma etc. precisa de um herói.
Hiran é o nosso mito, nosso herói. Foi inventado, através de lendas superpostas, mas foi criada a sua figura. Os Old Charges nada mais eram que estatutos, regras, normas e disciplina para os profissionais da construção e das guildas, nos tempos da Maçonaria Operativa, além de mencionar
lendas quiméricas, fantasiosas e inacreditáveis com enxertos bíblicos.
A Maçonaria dita Especulativa criada em 1717 que preferimos chama-la de Moderna (ela especula o que para ser especulativa?) já há mais de um século “aceitava” membros que não eram da construção, ou seja, aceitava homens célebres, abastados, sábios e nobres. Em 1703 na Inglaterra, a Maçonaria inglesa começou a aceitar candidatos sem os requisitos dos nobres, ou seja, passou a aceitar os homens simples, homens comuns, desde que tivessem as qualidades necessárias para ser maçom. Evidentemente já não era uma Maçonaria Operativa pura, muito embora ainda houvesse lojas operativas autênticas.
Mas talvez por falta de documentos e provas, mas isso não aconteceu na Itália, pois lá existe uma prova importante. Talvez não se possa falar da Maçonaria Operativa ocorrida em outros países, porque não foram registradas as suas realizações em documentos (manuscritos).
Nesta época ocorreu a evolução social e comercial dos países europeus com aumento da população, novas ideias a respeito das construções, naquela fase da História ainda que lenta, é bem provável que a Maçonaria Operativa iniciou-se como tal quase que ao mesmo tempo em todos os países da
Europa, ou seja, lá pelos anos 1000 a 1200 através das corporações e oficio e das guildas, pois a sua principal meta era a construção, com apoio e monitoramento da Igreja Católica, então absoluta e também posteriormente com a evolução destas sociedades surgiram novas ideias, órgãos de proteção mútua como a atuais cooperativas para os operários e suas famílias, já que muitos operários eram escravos. Todo país que começa a evoluir necessita de construções, aí aparecem entre os operários comuns, os bons e os gênios na arte de construir. Estes tiveram destaque especial na Maçonaria Operativa. Mas de um modo geral estes profissionais acabaram por se organizar em corporações. Possivelmente estavam desta forma lançando as sementes das futuras cooperativas e sindicatos.
Os ingleses, povo dominador, colonialista talvez na época, quando o Império Romano já era apenas história, apenas um passado, uma página virada, tomou esta dianteira mundial. A História da humanidade é sempre foi assim, quando um país é o líder mundial e ele se aproveita disso para
deixar sua marca em todos os setores dos países subjugados ou países amigos, quer na cultura, no estilo de construções, quer no desenvolvimento, quer na educação, no comercio, na economia, na politica, na História, religião enfim em todos os segmentos da sociedade.
James Anderson ao escrever a sua primeira constituição em 1723 afirmou ter lido e consultado manuscritos antigos, possivelmente da Escócia e da Itália. Nossa geração brasileira de maçons recebeu a História da Maçonaria como um pacote pronto. Contestar alguma coisa ou apenas parar para pensar usando a Razão e a Lógica duvidando de algum fato, querendo mais provas, é uma heresia para certos autores que aceitam tudo sem discutir. Mas a busca da Verdade na Ordem é um verdadeiro axioma, uma obrigação que todo maçom consciente e pesquisador deve ter, onde não há limites à livre investigação da Verdade, podendo inclusive ir além destes. Ele terá que investigar a fundo de maneira neutra, sem isenção de ânimos. Se ele estiver errado, ele reconhecerá. Mas ninguém poderá dizer que o assunto não foi pesquisado.
Mas fatos mais recentes começaram a surgir através de manuscritos antigos descobertos que podem mudar o conceito histórico da Ordem com relação à Maçonaria Operativa, segundo o qual a Inglaterra não teria tido a primazia de ter tido as primeiras lojas operativas, como se faz crer. Mas a Maçonaria Moderna (Especulativa), sim foi na Inglaterra que foi fundada, e isto não se pode negar.
Os manuscritos são importantes para a tradição maçônica devido ao seu conteúdo onde uma mistura de religião, passagens bíblicas, lendas histórias fantasiosas, regulamentos com noções de ética e moral aplicada aos maçons operativos. Mas ao mesmo tempo estão eivados de lendas inverossímeis e nas quais não se pode acreditar.
A avaliação destes documentos precisa ser vista de duas maneiras, uma fantasiosa bíblica, repleta de lendas e a outra verídica real nos passando regras, regulamentos, lições de ética de moral e de organização de trabalho.
A antiguidade destes documentos não lhes dá a condição de real, de puro e verdadeiro. Os documentos citando regulamentos sim, mas o fantasioso, não. Uma grande parte dos manuscritos traz relatos de uma Maçonaria antediluviana, quimérica, imaginária, fantástica com a qual não pode
concordar.
Muitos dos manuscritos foram redigidos quando não se conhecia a Historiografia e a Imprensa. Nos manuscritos, apesar dos exageros muitas verdades e muitas cerimônias ficaram registradas.
Cada um destes documentos nos mostrou um pedaço da história da Maçonaria Operativa, através dos anos, quer na origem das cerimônias, das palavras, sinais ou símbolos. Mas, diga-se de passagem, apenas poucos manuscritos nos trazem informações compatíveis com a Maçonaria atual.
O que restou da Maçonaria Operativa e interessou à Maçonaria Moderna (Especulativa) esta aproveitou para si, adaptou, modificou, inventou criou novas regras (landmarques) criaram rituais, aproveitando o que antes se chamava de catecismos, novas lendas e novos regulamentos adaptados
para o tempo em que estava se fundando a Maçonaria Moderna (Especulativa) e esta é a Maçonaria atual, tal qual a conhecemos em nosso tempo, porem com uma série novas adaptações, novos ritos etc. De Maçonaria Operativa não têm quase nada.
Cerca de dezessete manuscritos ainda são estudados pela Loja Quatuor Coronati n° 2076 de Londres, por apresentaram alguma coisa de interesse para a Maçonaria Moderna. Quanto aos demais, parecem nada a ver com a mesma, a não ser o valor que lhe é dado mais como um mito, de onde alguma coisa foi aproveitada pela Maçonaria Moderna.
Os manuscritos com exceção de algo novo mencionado em alguns deles, parecem um cópia dos demais. São muito semelhantes.