Sempre foi comum chamar o maçom de “bode”,
sendo esta uma história longa e interessante…
– 04/02/2010
Ninguém consegue penetrar os mistérios da Maçonaria. A Igreja tentou, por todas as vias, liquidar a Maçonaria, mas nunca conseguiu, embora tenha queimado e torturado muita gente. A palavra “maçom” quer dizer “pedreiro” (o que “amassa” o barro). Os maçons reuniam-se em confrarias para estudar. Tudo que faziam era cheio de segredos.
Guardar segredo, porém, não foi iniciativa dos maçons. A origem do segredo vem desde o mundo antigo, quando os gregos já chamavam de “Mistérios” os grandes ensinamentos sobre o mundo, ou sobre os pilares que sustentam o mundo.
Bem mais tarde, no tempo de Cristo, quando os apóstolos espalharam-se para pregar a palavra de Jesus, respeitavam muitas das tradições do Velho Testamento. Em muitas cidades que chegavam, praticava-se a tradição de transmitir os pecados das pessoas para um bode e lançá-lo no deserto. Era o bode expiatório citado na Bíblia. Há até quem diga que algumas pessoas mais abastadas confessavam os pecados ao ouvido de um bode, antes de abandoná-lo à própria sorte.
Por que o bode? Diz a tradição que o Antigo Testamento teria escolhido o bode por ser um animal que não iria transmitir os pecados para mais ninguém. Era símbolo do silêncio absoluto. Confessou para um bode, estava guardado a sete chaves! Até hoje, o ritual da expiação dos pecados é seguido pelo Judaísmo, sacrificando um bode em cada templo, ou comunidade, depois de este ter recebido os pecados das pessoas.
Depois do sacrifício do bode, no Antigo Testamento, praticado pelos judeus, surgiu Jesus Cristo, que foi crucificado para pagar os pecados do mundo. Era o novo bode expiatório.
Depois de Jesus, a própria Igreja Católica substituiu o bode do judaísmo pelo padre, que passou a ouvir os pecados dos fiéis, num confessionário. O padre, no caso, é garantia de silêncio absoluto, como o bode, jamais podendo levar adiante o que o fiel confessou. Nem a Justiça consegue abrir as portas do confessionário religioso. O padre, portanto, também poderia ser chamado de “bode”.
Bode maçom
Quando a igreja Católica começou a perseguir os maçons, também estes juraram manter o silêncio absoluto, seguindo recomendação semelhante a que o Senhor havia passado para o profeta Daniel, mandando fechar e lacrar as palavras até o final dos tempos (Daniel 12:4), completando: “muitos serão purificados, esbranquiçados e refinados, mas os transgressores procederão iniquamente e nenhum dos transgressores entenderá, mas os sábios entenderão”.
Durante o processo que condenou os Templários, o Papa Clemente V acusou os guerreiros de idolatria a um pretenso ídolo com cabeça de bode, juntando-se toda sorte de acusações de sodomia, bacanais em que sempre havia um homem meio-bode, etc. O resultado é que todos os simpatizantes dos Templários, incluindo o chefe Jacques de Molay foram martirizados, ficando a Igreja como guardiã dos tesouros dos Templários.
Durante as perseguições no início do século XIX, na França de Bonaparte, um dos inquisidores, Chasmadoiro Roncalli, chegou a desabafar, com um superior: “Senhor, este pessoal maçom parece bode, por mais grave que eu torne o processo de flagelação, não consigo arrancar de nenhum deles quaisquer palavras”.
Na Maçonaria, “ser como bode” significa trabalhar em silêncio. A imagem do bode ficou conhecida como símbolo do segredo, do silêncio, da confidência entre irmãos da doutrina.
Modernidade
O certo é que o apelido de “bode” tornou-se sinônimo de “maçom”. Hoje, quando um novo membro é inscrito na Maçonaria, logo quer saber “onde está o bode”, no templo. Para espanto seu, descobre que não existe bode algum na Maçonaria, para ser cultuado.
Muitos passaram a se identificar por meio de uma caricatura de um bode, imagem bem humorada, mas que serviu para que os católicos achassem que era um evidente sinal de filiação a Satã até recentemente.
Aumentou, portanto, o uso da imagem do bode como símbolo do diabo, na Igreja Católica, tendo em vista condenar a Maçonaria como se fosse uma religião, o que não é.
Como piadas de bom gosto é comum encontrar a palavra bode associada à Maçonaria:
– “Esta festa está cheirando a bode” – que significa: “esta festa está cheia de maçons”.
– “Está pronto para sentar no bode”? – que significa: “está pronto para assumir o silêncio”?
Os próprios maçons aproveitaram e utilizam, francamente, o bode como figura bem humorada para caracterizar sua vida por meio de adesivos, chaveiros, camisetas, bonés, bonecos e estatuetas. O bode, entre os maçons, portanto, virou uma brincadeira.
Maçom sem bode
Na verdade, o bode não é símbolo maçônico. É símbolo de bode expiatório e isso tem a ver com o Velho e o Novo Testamentos. Na Maçonaria, o bode lembra as fogueiras da inquisição e milhares de vidas arruinadas no decorrer dos séculos. Bode é lembrança de sombras tenebrosas para o maçom.
Modernos maçons condenam o uso da imagem do bode, mesmo que bem humoradas, pois essa imagem é desnecessária ao cumprimento da missão da Ordem. Afinal, foi por causa desse símbolo que milhares morreram.
Alguns líderes insistem em que existem “maçons-perigosos”, justamente esses que ajudam a popularizar a imagem do bode, chegando até a ostentar um certo orgulho por isso. Estes líderes acham que os enfeites com imagem do bode são simplesmente ridículos e deveriam ser, definitivamente, abandonados.