A “Ilha dos Bretões”, antes que chegassem os romanos, no século II AC, esteve ocupada por povos bárbaros, entre os quais os celtas e os bretões. Depois dos romanos vieram os anglo-saxões, os dinamarqueses, os viquingues e os normandos, em invasões sucessivas.
Os primeiros reis da Inglaterra pertenceram ao grupo étnico dos anglo-saxões e constituíram a primeira dinastia real inglesa conhecida como a Casa de Wessex. Esses anglo-saxões eram um povo do noroeste da Germânia, que ocupou a ilha a partir do século IV e nela se mantiveram até a chegada dos normandos no século XI. Na busca de um ponto de partida consultamos a Grolier Multimedia Encyclopédia e encontramos, sob o verbete Kings and Queens of England, a lista completa dos reis da Inglaterra. Os primeiros sete reis anglo-saxões da Casa de Wessex são: Alfredo o Grande (871-899); – Eduardo o Antigo (899-924), filho de Alfredo; – Athelstan (924-939), Edmundo (939-946), e Edredo (946-955), três filhos de Eduardo; -Edwy (955-959) e Edgar (959-975), dois filhos de Edmundo.
Embora considerado oficialmente o primeiro rei da Inglaterra, Alfredo, o Grande, foi na verdade apenas o primeiro soberano a desenvolver atividades militares na defesa não só dos seus reinos de Wessex e da Mércia, mas de todo o solo da ilha contra os outros invasores, dando início assim aum sentimento de nacionalidade e plantando as primeiras sementes do futuro Reino Unido.
Alfredo, o Grande, nascido em 849 e falecido a 26 de outubro de 899, sucedera seu irmão Aethelred como rei de Wessex em abril de 871. Ambos, ele e seu irmão, eram filhos do Rei Aethelwulf. Alfredo, o único rei inglês denominado “O Grande”, tornou-se famoso tanto por sua habilidade como líder guerreiro como por seu amor à cultura.
Amante das artes e da cultura, traduzir clássicos latinos para o inglês, o que denota que já então se falava e escrevia o inglês arcaico. Tinha a fama de grande monarca não só na Inglaterra, mas em toda a Europa, tanto que ficou historicamente conhecido como o “Carlos Magno” inglês. Ele e Carlos Magno (742-814) são apontados como os mais notáveis monarcas europeus do século IX.
Mário Curtis Giordani ( 6 ) nos informa que o Rei Alfredo mandou organizar um sistema oficial de registros, as crônicas anglo-saxônicas, para perpetuar, ano a ano, todos os fatos mais importantes do reino. Esse sistema de registros continuou nos reinados de Eduardo e de Athelstan, que cumpriram reinados tão eficientes quanto o pai e avô.
Alfredo teve cinco filhos: Athelflaed, casada com Ethelred, governador da Mércia; – Eduardo, de que falaremos a seguir; – Athelgifu, abadessa de Shaftesbury; – Aelfthrith casada com o Rei Balduino II de Flandres; – e Athelweard, falecido em 920.
Eduardo, denominado “o Antigo”, sucedeu ao seu pai Alfredo como rei de Wessex em 899 ( ou 900). Nesse período estava a Inglaterra ainda dividida em inúmeros pequenos reinos independentes. Reinou de 899 a 924, e unificou a maior parte da Inglaterra ao sul do Humber. Empenhou-se, em conjunto com seu cunhado Ethelred, governador da Mércia, numa série de campanhas vitoriosas contra os dinamarqueses. Em 910 derrotou o exército dinamarquês. Com a morte de Ethelred, em 911, sua mulher Aethelflaed, também filha do rei Alfredo, assumiu o governo da Mércia como “Grande Dama”. Era uma mulher guerreira e continuou as campanhas militares ao lado do irmão, comandando pessoalmente as forças mercianas.
Em 918 o Rei Eduardo virtualmente destruiu o poder dinamarquês na Ilha. Neste mesmo ano morreu Aethelflaed, e a Mércia foi incorporada ao reino de Wessex. Em 920 recebeu Eduardo a submissão do Rei Reagnald de York, e de outros pequenos reinos da Nortúmbria, de Gales e da Escócia. Faleceu em 17 de julho de 924, sendo sucedido imediatamente por seu filho Aelfweard, que morreu duas semanas depois e não chega a constar da lista oficial dos reis da Inglaterra, de modo que oficialmente Eduardo foi sucedido por Athelstan.
Eduardo conviveu sucessivamente com três mulheres, a saber:
a) Egwinn, uma concubina, provavelmente de uma família nobre da Mércia, que não chegou a ser rainha porque morreu antes que Eduardo subisse ao trono. Com ela teve o filho ATHELSTAN e também três filhas cujos nomes são desconhecidos. Uma delas teve papel importante na anexação de York, ao ser dada em casamento ao Rei Sithric; as outras duas se tornaram religiosas e santas conhecidas apenas localmente.
b) Aelftlaed, 2a esposa, com a qual teve os filhos Aelfweard, falecido em 924, duas semanas após a morte do pai; EDWIN, condenado ao afogamento em 933; Eadgifu, casada com Carlos, o Simples, rei dos Francos; Ealfhild, casada com Hugo, duque dos francos; Edith, casada com Oto I, imperador dos Germanos; e Ealfgifu, casada com um duque da região dos Alpes.
c) Eadgifu, 3a esposa, da qual teve o filho Edmundo, rei da Inglaterra (939-945), e Eadred (Edredo) rei da Inglaterra (945-955), sucessores de Athelstan: e Eadgifu, casada com Lewis, rei da Burgúndia Superior.
Mencionamos os casamentos das meio-irmãs de Athelstan porque este se valeu do expediente de oferecê-las em casamento a príncipes e poderosos da Europa paa conseguir e firmar alianças políticas.
Athelstan nasceu em 895, primeiro neto do Rei Alfredo, que o tomou logo como protegido e aficialmente o declarou seu herdeiro. Quando Alfredo faleceu em 899, sua educação foi confiada a sua tia Aethelflaed, mulher de Ethelred, governador da Mércia, companheira das campanhas militares do Rei Eduardo. Como Grande Dama da Mércia manteve, até sua morte em 918, Athelstan sob sua proteção e educação.
Essa educação recebida de uma mulher forte e de hábitos guerreiros certamente influenciou o caráter de Athelstan, tornando-o também o vigoroso rei que mostrou ser, levando a bom termo todas as suas campanhas militares de unificação da Inglaterra. Passou toda sua juventude no treino das armas, preparando-se para o trono.
Athelstan assumiu o trono de Wessex em 924 e logo foi aceito também como rei da Mércia, em cuja corte havia crescido. não houve aparentemente oposição a ele na Mércia. Contudo em Wessex a sucessão não parece ter sido tão tranqüila. Dizem velhas histórias saxônicas que Eduardo teria sucedido imediatamente após sua morte por seu filho Aelfweard que se julgava com direito ao trono por ser filho da rainha. Providencialmente veio a falecer duas semanas depois do pai, a 1° de agosto de 924, em condições não esclarecidas. O escritor medieval William Malmesbury (7) nos diz que Elfredo (Aelfweard) negava a Athelstan o direito ao trono por seu filho de concubina. Mas deve ter havido disputas outras, possivelmente até conspirações, pois Athelstan somente veio a ser coroado aficialmente rei da Wessex no dia 4 de setembro de 925, em Kingston.
Athelstan estava firmemente determinado a unificar sob sua coroa toda a ilha da Inglaterra, e continuar as campanhas de seu pai e avô. Começou por estabelecer, em 30 de janeiro de 926, uma aliança com Sithric, rei em York, na Nortúmbria, dando-lhe uma de suas irmãs em casamento. Sithric faleceu em 927 e logo o trono foi reclamado para Olaf, filho de Sithric, pelos viquingues da Nortúmbria. O Rei Guthfrith, de Dublin, da Irlanda, veio em seu auxílio. Athelstan os derrotou e expulsou, anexando a Nortúmbria ao seu reino em 927.
A supremacia de Athelstan foi reconhecida em Penrith em 12 de julho de 927, mas em seguida Guthfrith desfechou violento ataque contra York. Athelstan o derrotou e destruiu as fortalezas dinamarquesas da cidade de York. Portanto York foi submetida ao final de 927.
A seguir, durante três ou quatro anos, Athelstan se dedicou a estabelecer alianças ou submeter todos os demais reis dos pequenos estados ainda independentes. Estabeleceu um reconhecimento de poder com a Escócia. E então pela primeira vez na história toda a Inglaterra estava sob o comando de um só rei.
Ao fim desse período, no ano de 933, o Príncipe Edwin, seu irmão, foi condenado ao afogamento e executado por ordem de Athelstan. Os motivos dessa execução não parecem ter sido registrados pelas crônicas anglo-saxônicas, pois apenas as tradições os transmitiram. Retornaremos ao assunto.
Logo após a morte de Edwin, o Rei Athelstan moveu por terra e por mar uma repentina, inexplicável e violenta campanha militar contra o Rei Constantino da Escócia. São desconhecidas as razões desta campanha iniciada no ano de 934, pois Athelstan havia firmado a paz com aquele rei no ano anterior. Teria algo a ver com a suspeita de traição de Edwin. É uma questão que jamais será esclarecida definitivamente.
Dinamarqueses, escoceses e noruegueses formaram uma grande e poderosa coalizão militar para enfrentar as forças inglesas. Esta coalizão foi derrotada na famosa Batalha de Brunnanburh, no ano de 937, que é lembrada com orgulho nas crônicas anglo-saxônicas, pois foi a batalha que consolidou definitivamente toda a ilha da Inglaterra sob um só rei, tornando-a um país no conceito europeu de estado civilizado e cristão.
M.C. Giordani ( 8 ) faz uma observação importante com respeito ao espírito organizador do Rei Athelstan: “Na política interna lembremos as seguintes atividades:
1) reorganização administrativa, para adaptar as instituições governamentais até então existentes para o Wessex e a Mércia às novas dimensões do reino;
2) promulgação de leis que visavam sobretudo a manutenção da paz social interna;
3) desdobramento da organização eclesiástica com o fim de difundir a civilização cristã”.
Ao final do seu governo estabelecera alianças com os países europeus casando suas irmãs com príncipes e potentados das casas reais da Europa Ocidental. Manteve, inclusive, relações de amizade com o rei escandinavo Harold II (936 – 986), o que o fez trazer parte para sua corte o filho deste, o Príncipe Haakon, que virtualmente adotou.
Athelstan morreu a 27 de outubro de 940.
Irm Ambrósio Peters – Escritor, Historiador Filosofo e Livre Pensador.
CURITIBA, quarta-feira, 5 de julho de 1995
( 6 ) Giordani, Mário Curtis. O Mundo Feudal. Vol I, pg 186.
7 ) Aston, S.C. A Worthy Kinge in England Callyd Athelstone. pg 54.
( 8 )Giordani, Mário C. O Mundo Feudal. pg. 188.