Ambrósio Peters
09 julho 2013
A figura do Príncipe Edwin se tornou maçonicamente importante e se incorporou às tradições da Ordem depois que seu nome apareceu no texto do manuscrito G.L.-I. Este documento o ligou à Grande Assembléia de Maçons e a uma primeira regulamentação da Maçonaria na cidade de York.
A falta ou o desconhecimento de dados históricos acabou levando à desconfiança de sua existência, e aos poucos ele passou a ser considerado uma figura lendária, passando a ser lembrado assim em alguns meios maçônicos.
Em virtude disso considerou-se que sua presença na Maçonaria poderia ser o resultado de uma confusão com o Rei Edwin, o conhecido Santo Eduino, que entre 585 a 633 fora rei da Nortúmbria, cuja capital era York.
O tema da confirmação histórica da existência do Príncipe Edwin empolga os escritores maçônicos porque dessa confirmação praticamente depende a legitimidade dos Antigos Deveres, que se tornaram a base das regulamentações da Maçonaria Moderna depois que James Anderson os tomou como modelo para elaborar o Livro das Constituições da Grande Loja de Londres.
Um elemento complicador adicional foi a menção no manuscrito de que Edwin seria filho mais novo do Rei Athelstan. Contrariando essa informação, nos diz a Encyclopédia Britannica que Athelstan nunca se casou e nem deixou descendência. Na árvore genealógica levantada por S.C. Aston (10) com base nas fontes primárias das crônicas anglo-saxônicas, não há lugar para filhos de Athelstan.
A história de um Príncipe Edwin filho de Athelstan parece ter surgido pela primeira vez no ano de 1338, na História (11) de Robert Manning que, escrevendo em inglês medieval, provavelmente tenha interpretado mal alguns documentos anteriores escritos em latim.
Mas nos dizem as antigas crônicas anglo-saxônicas que existiu um príncipe de nome Edwin (Atheling Edwin = Príncipe Edwin), segundo filho do Rei Eduardo, o Antigo, com sua segunda mulher Aelflaed, e portanto meio-irmão de Athelstan, não filho.
Esse Príncipe Edwin foi condenado por seu irmão, o Rei Athelstan, à morte por afogamento, sentença cumprida no ano de 933. É indiscutível a existência desse príncipe tanto quanto é indubitável o fato do seu afogamento, pois que os relatos atinentes foram mantidos ininterruptamente através de todas as crônicas, manuscritos e tradições medievais. Contudo os motivos de sua condenação, o lugar exato do seu afogamento e a maneira como foi jogado ao mar, ou ao rio, não figuram nas crônicas anglo-saxônicas originais e nos foram legadas apenas através de tradições orais.
O escritor medieval William Malmesbury, em seus livros De Gestis Regum Anglorum e De Gestis Pontificum Anglorum, de 1125 e 1135, dizendo basear-se em antigas baladas e contos anglo-saxônicos, afirma que Edwin foi acusado de alta traição por alguns nobres da corte de Londres, insuflados por Eadred (Edredo), e que Athelstan o condenou à morte por afogamento e o mandou para o mar alto em um velho barco sem remos, acompanhado de um pajem (12). Chegado ao mar alto ele próprio se teria jogado à água e morrido afogado. O pajem teria, antes de partir para sua macabra missão, recebido ordens de deixar o barco e o corpo do seu mestre em frente à costa francesa próxima a Vissant.
Imediatamente depois Athelstan, tendo se acalmado e refletido melhor, teria percebido o seu engano e mandado executar todos os delatores, auto-impondo-se uma penitência por sete anos. Mera coincidência ou não, o rei morreria sete anos depois.
No século XIV, século do surgimento do Poema Régio, surgiu outra versão da execução do Príncipe Edwin. Diz que ele, suspeito de traição, teve seus pés e mãos atados e foi jogado às águas do rio Tâmisa (13).
Confirmando o fato e o arrependimento de Athelstan se encontra no manuscrito Chronica Maiora et Flores Historiarum, de Mathew Paris, do século XIII, que Athelstan mandou construir os monastérios de Middleton e Michelton pela alma de seu irmão Edwin.
Que fatos teriam levado Athelstan a acreditar na suspeita de traição levantada pelos delatores de Edwin. Na verdade não o sabemos, porque as crônicas anglo-saxônicas são omissas a respeito. O crime de traição ao rei era sempre inapelável e sumariamente punido com a morte por toda a Idade Média, o que prova que Athelstan acreditou na acusação.O príncipe foi punido sumariamente, tanto que Athelstan só percebeu o seu erro quando a sentença já fora cumprida. Isto parece estar de acordo com o caráter impulsivo e intempestivo de rei guerreiro que Athelstan era.
Aqui é lícito levantar uma hipótese. A linha sucessória dos reis saxônicos, se observarmos as sucessões ocorridas, já para os filhos em ordem de idade. O segundo filho de Eduardo, Ealfweard, já morrera em condições não esclarecidas. O sucessor de Athelstan seria então Edwin, seguido por Edmundo e depois por Edredo. Estes dois últimos, que eram amigos e companheiros de Athelstan no campo de batalha, teriam interesse evidente na morte de Edwin. E provável que tenha existido essa calúnia de traição urdida por Edredo, com a colaboração dos nobres da corte de Londres, como falam as tradições.
Mas porque Athelstan teria acreditado tão rapidamente na traição de Edwin. Se dermos crédito à Lenda de York, pela qual Edwin recebera de seu irmão e rei carta branca para organizar o numeroso grupo dos profissionais construtores, e que sua atuação o conduzira à liderança, tornando-o uma pessoa importante no reino, já temos um motivo bastante para despertar a inveja dos nobres da corte e a desconfiança do rei, e levá-lo a aceitar a calúnia como verdade. É conhecido que os reis medievais tanto mais tempo permaneciam no trono quanto mais rápidos e desconfiados eram em suas medidas preventivas contra traidores.
É historicamente inegável, porém, que houve um rei poderoso de nome Athelstan, que houve um príncipe chamado Edwin, filho do Rei Eduardo, o Antigo, e irmão do rei Athelstan, e que foi sucessivamente sucedido por seus irmãos Edmundo e Edredo. Portanto os dois principais personagens envolvidos na Lenda de York, Athelstan e Edwin, são figuras históricas reais.
Para que a lenda de York tenha consistência é indispensável que além disso já houvesse também guildas organizadas de maçons no reinado de Athelstan.
(10) Aston, S.C. A Worthy Kinge in England Callyd Athelstone. pg 48.
( 11) Idem idem pág 62.
(12)Aston, S.C. op.cit. pg 56.
(13)Idem. idem. pg 61
Ir AMBRÓSIO PETERS.
Or de Curitiba – PR.
Escritor, Historiador Filosofo e Livre Pensador.
CURITIBA, quarta-feira, 5 de julho de 1995