Escrito por Rui Bandeira
20 DE JUNHO DE 2012
20 DE JUNHO DE 2012
Por vezes, esquecemo-nos que o que é simples e básico para quem já conhece e está habituado a determinado tema pode não ser assim tão facilmente entendido por quem esteja a iniciar o seu contacto com o assunto.
Veio-me este pensamento à tona há alguns dias quando li o texto do José Ruah Música no blogue – uma nova etapa, vi as alterações que efetuou e, sobretudo, assisti a um comentário brincalhão, com água no bico de “futebolês”, do simple e à resposta, a sério, do Ruah à “provocação futebolesa” do simples sobre o uso da cor azul para uma das listas de músicas colocadas no blogue pelo Ruah. Este respondeu, muito a sério, repito:
As Lojas são Azuis e o REAA é Vermelho. Não pense o meu caro amigo que as cores foram escolhidas por acaso.
Os maçons entenderam perfeitamente o alcance da resposta do Ruah. Mas interroguei-me sobre se um profano que deparasse com este comentário o entenderia. E concluí que, embora porventura muitos profanos o entendessem ou pudessem perceber com uma simples busca num motor de busca, certamente haveria alguns que teriam dificuldade em perceber a alusão.
Portanto, vamos lá esclarecer, porque o fato de ser básico para uns não significa que o seja pra todos.
Em Maçonaria, designam-se por Lojas azuis as Lojas que trabalham nos três graus essenciais da Maçonaria: Aprendiz, Companheiro e Mestre. Porquê azuis? Simplesmente porque, na sua origem, essa foi à cor escolhida pelos maçons que, no século XVIII, criaram, em Inglaterra, a Grande Loja de Londres. Nesse tempo, havia apenas um rito praticado e a cor que o identificava, a cor principalmente usada nos artefatos dos maçons, era o azul.
E assim permaneceu, designadamente nos países anglo-saxônicos, que, praticamente em exclusivo, praticam apenas o Rito de York ou suas variantes. A cor deste rito é o azul.
Como nos países anglo-saxônicos a tendência é para a prática de um único rito, e sendo a cor associada a esse rito, passou a designar-se por Lojas Azuis as lojas dos três graus essenciais da Maçonaria.
Com efeito, outras cores são associadas a outras situações em Maçonaria. Por exemplo, os Grandes Oficiais das Grandes Lojas anglo-saxônicas usam, normalmente, colares e aventais orlados na cor púrpura.
Após a implantação da Maçonaria, seguiu-se um período de criação e proliferação de ritos. Cada rito era, pelos que o criavam, associado a uma cor. Das dezenas de ritos que apareceram, como é natural só uns poucos subsistiram. De entre estes, o Rito Escocês Antigo e Aceite, cuja cor é o vermelho.
Na Maçonaria anglo-saxônica, os três graus básicos são, quase exclusivamente (existe uma exceção célebre, que adiante referirei) trabalhados no rito de York ou suas variantes, cuja cor, como acima referi, é o azul. Existem, para além dos três graus básicos e essenciais da maçonaria, sistemas de Altos Graus, que prolongam o caminho iniciado nesses três graus básicos. Mas todos os maçons, nos países anglo-saxônicos, trabalham na Maçonaria Azul (os três graus básicos, no Rito de York ou suas variantes). Os que o pretendem e a tal são admitidos, podem ainda trabalhar em Altos Graus, seja do Rito de York, seja do Rito Escocês Antigo e Aceite. Nos países anglo-saxônicos (ressalvada a tal exceção…) não se trabalha no Rito Escocês Antigo e Aceite nos três primeiros graus. Só a partir do quarto grau.
Na Maçonaria Continental Européia, em África e na América Latina, pelo contrário, as Lojas que trabalham no Rito Escocês Antigo e Aceite utilizam-no desde o primeiro grau. Aqui, o Rito não é exclusivamente um rito de Altos Graus, antes é um sistema coerente, que vai desde a iniciação até ao último dos Graus Filosóficos. Apesar de a cor do rito ser a vermelha, continua-se a designar as Lojas dos três primeiros graus do Rito Escocês Antigo e Aceite como Lojas Azuis, em uniformidade com o estabelecido no resto do mundo maçônico.
Conseqüentemente, embora a designação de Loja Azul tivesse originalmente decorrido da cor do rito que no século XVIII se praticava, hoje em dia essa designação aponta as Lojas dos três primeiros graus da Maçonaria, qualquer que seja o rito praticado.
Quanto a tal exceção, que é, afinal, uma mera curiosidade. Presentemente, nos EUA, toda a Maçonaria Regular trabalha num único rito, a variante norte-americana do Rito de York, fixada por Preston e Webb (normalmente denominada por Rito Preston-Webb). À exceção de uns irredutíveis gauleses… Não propriamente a aldeia de Astérix, mas algo de parecido. A Louisiana foi originalmente colonizada por franceses e foi território colonial francês. Foi durante esse período que ali foi introduzida a Maçonaria, segundo o rito mais praticado em França, o Rito Escocês Antigo e Aceite. Ulteriormente, a Louisiana foi vendida pela França aos Estados Unidos e passou a Estado integrante dos Estados Unidos da América. Quando ali se organizou, ao estilo continental norte-americano, a Maçonaria, sob a égide da Grande Loja da Louisiana, todas as Lojas a partir daí criadas passaram a utilizar a variante local do Rito de York. Mas as Lojas pré-existentes que manifestaram o desejo de continuar a trabalhar segundo o Rito Escocês Antigo e Aceite, mesmo nos três primeiros graus, foram autorizadas a assim continuar a fazer. Até hoje! Subsiste presentemente cerca de uma dúzia dessas Lojas. Os maçons americanos chamam-lhe “Maçonaria Vermelha” e… São um pólo de curiosidade…
In Blog “A Partir Pedra” – Texto de Rui Bandeira (19.02.2009)
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