A Salvação do Homem Livre

Charles Evaldo Boller

O principal objetivo do maçom é causar seu próprio “nascimento“, apreender a morrer para viver melhor: para isso ele filosofa. No Rito Escocês Antigo e Aceito ele encontra sentido existencial e obtém a sua “salvação“, dependente da liberdade de pensar para “renascer“. Nas suas ressurreições simbólicas sucessivas ele efetua jornadas de autorrealização com alegria e envereda por sendas pacíficas que tornam a sua vida feliz. É a sua maneira de atingir o objetivo maçônico de tornar feliz a humanidade pelo amor.

O bem-estar e a felicidade não são seus únicos objetivos na vida de maçom, mas principalmente a liberdade como ideal e realização. A sua religião até o acalma em suas angústias existenciais ao pintar a morte com cores de ilusões, porém isso é feito com a perda da liberdade de pensamento, preço que ele não está mais disposto a pagar. Por comodidade o crente pode até se ver suprido de serenidade, mas o preço a pagar é abandonar o uso da razão e dar lugar à fé cega. A fé raciocinada livra o maçom da submissão às religiões e ao domínio materialista das ciências e poderes estatais que juntos, constituem um sistema de poder escravocrata. Ao filosofar o maçom utiliza-se da arte da liberdade de pensar que revela sentido e razão de ser da vida. Levanta a possibilidade de construir o conhecimento de si mesmo com auto-imagem e auto-estima aceitáveis para enfrentar a angústia da morte.

Em presença da certeza da finitude da vida e respectivas crises existenciais, os grandes avatares do pensamento universal, cujos pensamentos estão presentes ao longo da jornada maçônica no Rito Escocês Antigo e Aceito, são unânimes ao considerarem que as virtudes mais preciosas são liberdade de pensamento e amor fraterno.

O filosofar do maçom fica acima da crença. Não é questão de bem viver fora da religião, mas a busca de “salvação” alinhada a sua capacidade de livre pensar as questões mais polêmicas que referenciem o universo imanente, apenas referente ao mundo, com componentes transcendentes, que se situam além da física, na metafísica. Não é tão somente a prática diária do bem pensar, possuir agudo espírito crítico, refletir sobre assuntos polêmicos e obter a autonomia individual, conforme inspira a cerimônia de iniciação do primeiro grau. O adepto tem certezas relativas a respeito da possibilidade de haver uma forma de vida após a morte. Claro que não a mesma manifestação como a existência presente, mas plausível em termos energéticos, não interessando os detalhes ainda velados aos limitados sentidos humanos. A “salvação” ocorre em termos de serenidade na finitude da vida e isso resulta em liberdade.

Em suas reuniões filosóficas o maçom propicia frequentes oportunidades de convivência sem conflitos, onde investe em alvos necessários e em equilíbrio com a Natureza. Obtém a liberdade para se sentir exclusivo sem se alienar ao vil e massificador sistema humano. Supre sua necessidade de relacionamento social e sente-se em união com outros. Ao livra-se de paixões e vícios vence a sua angústia existencial ao entender a função da filosofia maçônica e respectiva doutrina acima de simples definições de comportamento moral. Todas as filosofias caminham no sentido de promover a “salvação” do homem do sofrimento em vida, preocupado com a morte ou da solidão eterna. A filosofia maçônica acena com a esperança numa vida futura sem detalhar como isso se dará. Não é esperança no “não visto“, mas a certeza racional do homem livre que deduz que a sua vida tem uma justificativa de ser.

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