O DIÁLOGO

AMBRÓSIO PETERS 
29 outubro 2013

Recentemente foi noticiado um diálogo entre os bispos alemães e os grão-mestres da Maçonaria alemã. Essa notícia de início já encerra um equívoco. Não há uma Maçonaria alemã, pois não há maçonarias nacionais. Há apenas a Maçonaria na Alemanha. A Maçonaria não tem nacionalidade.

Em segundo lugar, esses grão-mestres somente poderiam ter falado em nome de seus respectivos Grão-Mestrados, se autorizados, ou então por si próprio, se não autorizados, e jamais em nome da Maçonaria. Tudo o que disseram terá sido apenas sua opinião pessoal e não opinião oficial da Maçonaria. Após esse aparente diálogo teriam os bispos da Alemanha concluído que a Maçonaria prega uma definição de Deus difusa e indefinida, que comprovaria a sua incompatibilidade com a religião. A conclusão é completamente equivocada.

Esse sistema administrativo evita que eventuais elementos mal intencionados se infiltrem nas lojas maçônicas e tentem modificar a Maçonaria. Na eventualidade de algum elemento desses conseguir agir dentro de uma loja e chegar ao seu intento, sua ação ficará restrita ao âmbito dessa loja. Por exemplo, uma tentativa de cristianizar a Maçonaria somente teria êxito se essa cristianização fosse feita de loja em loja e repetida sempre que houvesse mudança no corpo administrativo. Isso também torna incongruente querer acusar de anticlericalismo a Maçonaria em geral porque alguma loja em particular entrou em litígio com autoridades aclesiáticas. É portanto incorreto querer condenar ou excomungar todos os maçons da face da Terra porque alguma loja se pronunciou anticatólica. A primeira potência maçônica a se fundar, no ano de 1717, foi a Grande Loja de Londres (não da Inglaterra), com jurisdição sobre Londres, Westminster e arredores. Esta grande loja contribuiu para a formação da Grande Loja Unida da Inglaterra no ano de 1813. É importante observar que em 1717 nasceu a organização da Maçonaria Moderna em potências administrativas.

Se havia lojas para formar uma potência é forçoso concluir que já existiam lojas maçônicas modernas anteriormente àquele ano. Portanto 1717 não é ano do surgimento da Maçonaria Moderna. Quando a Maçonaria começou a se desenvolver de forma mais organizada, no início do século XVIII, os contingentes militares ingleses que se deslocavam para as colônias do reino Unido (Américas, Índia, Nova Zelândia a Austrália) levaram consigo os ideais maçônicos. Nessas colônias fundaram também grandes lojas com a autorização e a supervisão da Grande Loja de Londres, que decidia sobre a sua regularidade ou não.

Essa circunstância levou a posterior Grande Loja Unida da Inglaterra a se autojulgar o arbitro da regularidade de todas as potências maçônicas, mesmo daquelas fundadas fora do Reino Unido, quando na verdade a sua jurisdição nunca foi além dos limites da Inglaterra. Suas decisões quanto ao reconhecimento ou não da regularidade de potências só têm tido afeitos práticos dentro dos limites de sua própria jurisdição.

A Grande Loja de Londres tem o privilégio de ter sido a primeira potência maçônica a ser criada formalmente, mas essa primazia não lhe confere autoridade sobre nenhuma outra potência. Ela é a Potência Primaz, não a Potência-Mãe das potências. Esta primazia não a institui como um poder maçônico superior, como por vezes os não-maçons poderiam pensar. É conclusão lógica que a Constituição de 1723 é a Constituição da Grande Loja de Londres, e não a Constituição da maçonaria Universal.

Irm Ambrósio Peters
Or de Curitiba – PR. 
Escritor, Historiador Filosofo e Livre Pensador.

 

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