Percival Puggina
05/07/2023
Perguntam-me: “Como se explica a implosão da ‘consistente maioria conservadora’ eleita para o Congresso Nacional em 2022?”. A resposta a essa pergunta causa dor moral a quem tem olhos postos no futuro do país.
O conservadorismo é um modo sábio de ser. Nos anos recentes, quando evoluiu para a política, o conservadorismo acabou orbitando a pessoa do presidente Bolsonaro. Quantos se dispersaram após o pleito? Noutra vertente, reuniu patriotas. Muitos deles, porém, aprenderam história do Brasil de professores esquerdistas e, após o pleito, retornaram ao seu mau humor contra o país, rejeitando a própria nacionalidade. Já encontrei alguns por aí.
Neste artigo analisarei as causas da implosão da maioria conservadora contabilizada no final da eleição parlamentar do ano passado.
O Realismo
Há poucos dias, comentei a importante manifestação do senador Espiridião Amin ao questionar o advogado de Lula e do PT quando sabatinado pelo Senado. O competente representante de Santa Catarina disse a Zanin tudo que queríamos ouvir sobre os males que acometeram os tribunais superiores. No entanto, dirigiu-se ao candidato quando deveria voltar a voz e apontar o dedo a seus pares porque se eles cumprissem seu dever constitucional aquelas cortes não mais estariam cometendo os excessos que tão assiduamente praticam. Zanin não era ainda membro do colegiado, ao passo que os senadores integram a Câmara Alta, mas poucos agem como tal.
Quantos “conservadores” aprovaram o candidato indicado por um mentiroso público que ao vivo e a cores assegurou não ser o STF lugar para presentear amigos?
Amim disse tudo certo, mas foi paradigmático ao não se dirigir a seus pares.
Um Supremo petista se comportará como os petistas que o aplaudem e dele se servem como num bufê de decisões.
Um senado presidido pelo omisso e conivente Rodrigo Pacheco será conivente e omisso como ele.
A Coragem
Jamais teremos maioria conservadora enquanto não houver um número suficiente de homens e mulheres de coragem nos nossos quadros políticos! É de Eleanor Roosevelt a frase: Você ganha força, coragem e confiança em cada experiência na qual, olhando a face do medo, pode dizer a si mesmo: “Eu vivi através desse horror.
Posso enfrentar o que venha pela frente.” Ao falar em coragem com essa dimensão, lembro-me do cidadão brasileiro Allan dos Santos. Ele vive o horror do desterro desde 2020! Longe da família, passa toda sorte de privações e males psicológicos para não cair nas mãos dos que dele buscam vingança pessoal enquanto alegam a necessidade de prendê-lo por … fake news. Felizmente para ele, os Estados Unidos ainda respeitam a liberdade de expressão e sabem reconhecer os motivos políticos de sua entrada no país.
Aos nossos conservadores do pleito de 2022, dispersos em 2023, eu digo: Saiam debaixo da cama; tirem os olhos do próprio umbigo; seus eleitores não os escolheram para isso. Cumpram seu dever, caramba!
O Caráter
A má notícia vem ensinada pela vida. Caráter, ou se tem ou não se tem. É algo que não se compra, nem se ensina para gente grande. Menos ainda para quem vai desempenhar atividades num lugar de constante perigo moral, onde, sabidamente, cada voto pode se transformar em mercadoria e onde, à mais insensata sensatez, convém deixar tudo como está.
O parlamento é um lugar de escolhas. As cotidianas opções são feitas entre o bem e o mal. Ali, o caráter se exprime com atitudes e votos, como recomendaria Aristóteles. Ele completava a ideia afirmando que o caráter não é definido sobre o que pensamos a respeito do bem e do mal. E eu poderia aduzir que depende menos ainda de o quanto rezamos pelo bem que queremos enquanto fazemos o mal ou ante ele nos omitimos.
O Trabalho
Há muito trabalho pela frente até que o conservadorismo, esse modo sábio de ser, se torne uma força política sensível na sociedade. É muito desconfortável saber que por falta de nossa dedicação permitimos que as piores ideias sobre a pessoa humana, a sociedade, a liberdade, o estado, a economia, etc. prosperassem simultaneamente com a disseminação de seus males. Teria sido tão mais efetivo e bom para o Brasil e os brasileiros se não tivéssemos sido companheiros de viagem da farsa social-democrata que hoje perde a máscara e o pelo! Foi essa percepção que fez renascer o conservadorismo no Brasil.
Há muito trabalho, sem o qual jamais haverá colheita. É preciso criar e disseminar núcleos conservadores, ocupando espaços, formando opinião, criando meios de comunicação, interagindo de modo eficiente com o sistema de ensino em proteção aos estudantes, estimulando os bons educandários, os bons comunicadores, os bons veículos, os bons religiosos. Perseverando na Fé.
A Fé
Fé implicará rezar como se tudo dependesse de Deus e trabalhar como se tudo dependesse de nós. Sermos mãos do Senhor numa obra de misericórdia em relação aos brasileiros mais necessitados. São irmãos nossos, vítimas dos maus políticos em sucessivas gerações. Maus políticos, interessados apenas no poder, não têm viés ideológico. Há canalhas de direita e de esquerda. São pilotos do monomotor do egoísmo, não têm ideologia, nem coragem, nem vergonha.
Eu quero o bem do Brasil para que a prosperidade não dissipe seus frutos nas mãos dos maus políticos que drenam para si e para o Estado a riqueza nacional, dando causa ao empobrecimento e ao pequeno desenvolvimento humano. É impiedoso não enfrentar o mal, principalmente quando seus efeitos são tão extensos.
Que Deus abençoe nossa Pátria. Que a mãe de Jesus estenda seu manto protetor sobre o Brasil! Amém.
Percival Puggina (78),
membro da Academia Rio-Grandense de Letras,
é arquiteto, empresário e escritor e
titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais
e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo;
Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões;
A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.