Gonçalves Ledo: um injustiçado

Barbosa Nunes
Exatamente no dia 20 de agosto, “Dia do Maçom”, a Assembléia Legislativa do Estado de Goiás, por propositura dos deputados Francisco Júnior e Valcenôr Braz, com empenho e acompanhamento do maçom Elísio Gonzaga da Silva, comemorou a data. Homenageou a José Humberto Evangelista Teixeira, Maurinho Mota Leite, Renato José de Oliveira, Zeno Augusto de Sousa Júnior, do Grande Oriente e da Grande Loja, Amélio do Espírito Santo Alves, Donato Divino da Silva, Elísio Gonzaga da Silva e Gercílio Garcês Bueno.
Foi uma oportunidade, de público, para que as duas Potências, mais uma vez se manifestassem como “uma só maçonaria”, que é exemplo no Brasil em trabalho social, defesa da família e identificação na campanha por uma sociedade que progride na sua consciência política, lutando contra violência, corrupção, imoralidade e consumo de drogas. São objetivos nossos como Grão Mestre do Grande Oriente e de Ruy Rocha de Macedo, Grão Mestre da Grande Loja, na representação que exercemos em nome dos mais de 10 mil integrantes goianos, acrescidos das mulheres e filhos que identificamos como cunhadas e sobrinhos.
José Bonifácio de Andrada e Silva é registrado na história como o “Patriarca da Independência”, mas o grande articulador do movimento foi Joaquim Gonçalves Ledo, que viveu de 11 de dezembro de 1781 a 19 de maio de 1847. Grande político e jornalista. Muito injustiçado na história do Brasil e pouco citado no movimento emancipador brasileiro. Atuou destemidamente, lutou de corpo e alma pela Independência e fez da maçonaria, o centro incrementador das ideias de liberdade, embora perseguido, perdendo direitos políticos e se recolhendo solitariamente ao final de sua vida.

Conclamei os presentes a um momento de meditação para que pudéssemos buscar as palavras de Gonçalves Ledo, a serem contextualizadas neste momento lamentável de comportamentos de inúmeros homens públicos no país. Usando o espaço propiciado na sessão de homenagem, pronunciei-me registrando alguns parágrafos do discurso proferido por “Ledo”, em 20 de agosto de 1822, na Loja Maçônica “Comércio e Artes” 001, do Rio de Janeiro, da qual muito me honro em ter sido homenageado como membro honorário.

Sessão histórica pelo inflamado discurso que fazia sentir a necessidade de proclamar-se a Independência do Brasil. 20 de agosto, Dia do Maçom é a data em que realmente a nação se tornou independente, por força e decisão da maçonaria. Na sua incisiva fala assim se manifestou quanto ao homem:
“A natureza, a razão e a humanidade, este feixe indissolúvel e sagrado, que nenhuma força humana pode quebrar, gravaram no coração do homem uma propensão irresistível para, por todos os meios e com todas as forças em todas as épocas e em todos os lugares, buscarem ou melhorarem o seu bem estar”.
Referindo-se à exploração de Portugal para com o Brasil, foi patriota, corajoso e defensor da pátria dizendo em bom e alto som:
“Sim, o Brasil podia dizer a Portugal: “Desde que o sol abriu o seu túmulo e dele me fez saltar para apresentar-se ao ditoso Cabral a minha fertilidade, a minha riqueza, a minha prosperidade, tudo te sacrifiquei, tudo te dei, e tu que me deste? Escravidão e só escravidão. Cavavam o seio das montanhas, penetravam o centro do meu solo para te mandarem o ouro, com que pagavas as nações estrangeiras a tua conservação e as obras com que decoras a tua majestosa capital; e tu quando a sôfrega ambição devorou os tesouros, que sob mão se achavam nos meus terrenos, quisestes impor-me o mais odioso dos tributos, a “capitação”.
Mudavam o curso dos meus caudalosos rios para arrancarem de seus leitos os diamantes que brilham na coroa do monarca; despiam as minhas florestas para enriquecerem a tua grandeza, que todavia deixava cair das enfraquecidas mãos…
E tu que deste? Opressão e vilipêndio! Mandavas queimar os filatórios e teares, onde minha nascente indústria beneficiava o algodão para vestir os meus filhos; negavas-me a luz das ciências para que não pudesse conhecer os meus direitos nem figurar entre os povos cultos; acanhavas a minha indústria para me conservares na mais triste dependência da tua; desejavas até diminuir as fontes da minha natural grandeza e não querias que eu conhecesse o Universo senão o pequeno terreno que tu ocupas. Eu acolhi no meu seio os teus filhos a que doirava a existência e tu me mandavas em paga tiranos indomáveis que me laceravam”.
Fechou com letras de ouro e patriotismo o seu eloquente discurso gravado para sempre na história do Brasil, que deve ser lido fazendo um chamamento para os dias de hoje:
“Agora é tempo de reempossar-me de minha Liberdade; basta de oferecer-me em sacrifício as tuas interessadas vistas. Assaz te conheci, demasiando te servi… – os povos não são propriedade de ninguém. Talvez o Congresso de Lisboa no devaneio de sua fúria dê o nome rebelião ao passo heroico das províncias do Brasil a reassunção de sua soberania desprezada.”
O documento foi enviado ao Príncipe Regente D. Pedro I, que o recebeu às margens do “Riacho do Ipiranga”, quando se encontrava em viagem a São Paulo. Convencido gritou a famosa frase:
“Independência ou morte!”.
A força da mensagem da mais importante figura da Independência, Joaquim Gonçalves Ledo, foi fulminante ao expor a necessidade de ser imediatamente proclamada a Independência do Brasil.
“O Brasil, no meio das nações independentes, e que falam com exemplo de felicidade, não pode conservar-se colonialmente sujeito a uma nação remota e pequena, sem forças para defendê-lo e ainda para conquistá-lo. As nações do Universo têm os olhos sobre nós, brasileiros, e sobre ti, Príncipe!”
Tudo está em nossas mãos. Sejamos Gonçalves Ledo nas próximas eleições, declarando com o voto um novo tempo. Resolve cidadão!
“Cumpre aparecer entre elas como rebeldes ou como homens livres e dignos de o ser. Tu já conheces os bens e os males que te esperam e à tua posteridade. Queres ou não queres. Resolve, Senhor!”
*Barbosa Nunes,
advogado, ex-radialista, delegado de polícia aposentado, professor e
Grão Mestre da Maçonaria Grande Oriente do Estado de Goiás
Original do
http://omalhete.blogspot.com/2012/08/goncalves-ledo-um-injusticado.html
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